sábado, 29 de outubro de 2016

Comey meteu os pés pelas mãos?


                                     
      Seria inacreditável em outro país, mas não nos Estados Unidos. Antes de relatar a história que me cabe descrever e comentar, devo referir impressões minhas anteriores sobre  questão conexa ao assunto de agora.
      Quando tomei ciência do comportamento do Diretor do F.B.I. James B. Comey, por ocasião da questão dos e-mails de Hillary Clinton, pareceu-me existir um traço de animosidade de Comey no que tange à candidata democrata.
       Com efeito, apesar de julgar não caber ação penal contra a candidata, Comey não se furtara a descrever como extremamente descuidado o tratamento que a Senhora Clinton havia dado aos e-mails.
        De qualquer forma, o caso dos e-mails, depois da ida de Comey à Câmara de Representantes, dera toda a impressão de que estava encaminhado para o rio do Letes[i].  A despeito de uma que outra expressão mais desabrida, nada mais repercutiria  dessa questão do servidor de e-mails de Hillary Clinton.
         Meses transcorreram, e nada mais acontecendo - excluído o avanço nas pesquisas da candidata democrata - ninguém mais se lembrava dos "malditos e-mails" como os apelidara o Senador democrata - e ex-adversário nas primárias - Bernie Sanders.
         Tudo isso deixou de corresponder à realidade, quando, por iniciativa solitária do Diretor do F.B.I. o caso dos e-mails voltou à ribalta.
          Nesta semana, na quinta-feira, dia 27 de outubro, os principais assessores de James B. Comey foram ao seu gabinete para comunicar-lhe ter sido encontrado um novo maço de e-mails que poderiam estar ligados ao inquérito sobre o uso pela Secretária de Estado Hillary Clinton do servidor particular de e-mails, cujo inquérito  fora encerrado há meses atrás.
           A suposta alternativa com que se deparou o Diretor Comey seria (a) informar o Congresso acerca dos novos e-mails, achados em investigação ligada ao ex-Deputado Anthony D. Weiner, assim reabrindo a investigação fechada meses atrás. A alternativa (b) seria mandar primeiro examinar os novos e-mails encontrados, para verificar se existia algum documento que justificasse informação ao Congresso. Caso negativo, parece lógico que o diretor do FBI seria passível de críticas e mesmo de reprimenda, por divulgar um assunto, literalmente às vésperas da eleição presidencial, sem saber se ele tinha alguma pertinência com o caso do servidor particular de e-mails da candidata Hillary Clinton.
              James Comey - que é republicano, e que fora indicado pelo Presidente Obama em gesto de suposta boa vontade presidencial para com a oposição - decidiu pela alternativa "a". O que fez então o Diretor do FBI: mandou uma carta para os presidentes dos oito comitês congressuais, assim como para os representantes mais antigos da Oposição. Trocando em miúdos, Comey enviou para os oito republicanos que presidem os comitês (o GOP tem maioria tanto no Senado, quanto na Câmara - esta por deferência especial do gerrymander), e para oito da oposição democrata.
                 Para qualquer indivíduo dotado de um mínimo de bom senso, o Diretor do FBI deveria sim dar ciência da questão aos líderes congressuais, mas com um detalhe, determinado por elementar prudência: examinar primeiro o material, para verificar se havia pertinência na acusação. Não fazendo isso, o apressado Mr James Comey estava garantindo uma pronta publicidade da questão, embora ele próprio não saiba se a suspeita tenha algum fundamento ou não.
                  Acresce notar que como é óbvio, não se deve levantar suspeitas se não se dispõe de elementos probatórios. Por outro lado, a estranhíssima iniciativa de Mr James Comey contraria as diretivas do Departamento de Justiça (a que é subordinado o FBI) que desencorajam vivamente quaisquer ações às vésperas da eleição que possam influenciar-lhe o resultado.
                   A Senadora Dianne Feinstein, democrata da Califórnia,  declarou em comunicado à imprensa:"O FBI tem uma história de extrema cautela nas cercanias do Dia da Eleição. A quebra hodierna nesta tradição é deplorável."

( Fonte:  The New York Times )                  



[i] Rio do Olvido

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