segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A Assembléia Venezuelana e a Constituição

                     

         É triste, deplorável mesmo, o isolamento em que  imprensa brasileira objetivamente tente colocar a resistência democrática na Venezuela.
         Folheio os jornais que dão alguma atenção - em geral empurrada para as suas páginas internas - da crise na democracia venezuelana.
         Seria de início importante que diminuísse a profusão de aspas nessa cobertura, como se houvesse alguma dúvida quanto ao caráter opressivo no corrente e sanhudo ataque contra prerrogativas constitucionais, que, para sua vergonha, empreende o falido regime de Nicolas Maduro.
          O falso esquerdismo da Folha sistematicamente ignora  ou distorce o descumprimento de preceitos constitucionais de parte do governo do señor Maduro. Chega-se ao acinte de citar em negrita,  e com destaque,declaração do líder de Maduro na Assembléia, dando cores de verdade a uma mentira (como o foi o tal 'golpe' parlamentar contra Dilma Rousseff). Vejam a que dão realce os coleguinhas da Folha: "O que vocês querem fazer  é dar um golpe, como no Paraguai, em Honduras e no Brasil. Nâo somos o Paraguai, nem Honduras, nem o Brasil."
          Que pena que Henfil partiu e há muito, eis que não haveria melhor ocasião de que Gastão o vomitador interviesse, diante de tal cínica bobajada.
          Há um regime, incompetente e opressivo na Venezuela, encarnado por Nicolás Maduro, um dos mais ineptos governantes que imaginar-se possa.  O referendo  revocatório, que Chávez não só aceitou mas a que democraticamente se submeteu, agora vem sendo cínica, ilegal e inconstitucionalmente impedido de realizar-se,  pelo conluio entre a autoridade encarregada e o regime. Os milhões que vão às ruas e praças da Venezuela, para reclamar direito que lhes assiste, i.e., o exercício da faculdade de mandar para casa um governante incapaz,  o tem visto despudora-
damente negado por Maduro e seus asseclas.
           Sucedem-se as  manobras de Maduro, que apenas tratam de prorrogar o status quo, com a mais alta inflação das Américas, o descalabro no abastecimento, e toda uma coorte de abusos do regime chavista, seja na deslavada corrupção, seja na repressão das liberdades e, em especial, nas prisões políticas com que o regime busca  intimidar os seus muitos opositores.
            Nesse contexto de horrores - que o Secretário-Geral da OEA[1] tem censurado oportunamente - a hipocrisia da redação é levada a tal ponto, que se chega a pensar - porque há limite para a burrice - que a Folha esteja interessada em irritar os seus leitores, ou transformar o noticiário político em apresentação grosseira da realidade, dando até a impressão de fazê-lo com escopo irônico. Parece não ver problema algum com eventual desrespeito à liberdade de opinião dos legisladores, em definir como "apoiadores de Nicolas Maduro", esse bando de rufiões que forçam a entrada na Assembléia Nacional, como se tal fora coisa de somenos.
                Para os incautos, isso parecerá até ação legal da turba... E alguém pensa acaso que os chavistas garantam de alguma forma  que os legisladores não sejam disturbados por tal gênero de público?

( Fonte: Folha de S. Paulo )



[1] Luis Almagro.

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