quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Centenário de Ulysses Guimarães

                       

                   Desaparecido em desastre de helicóptero - que caíu no mar, por conta de súbito mau tempo - e cujo corpo nunca foi encontrado, Ulysses Guimarães é o gigante na luta pela Democracia do Povo brasileiro.
                   Ulysses é desses homens que crescem com o tempo. Reponta em meio aos anões, como predestinado para a História com agá maiúsculo. 
                   Enfrentou o regime militar e a ameaça de cassação, e atravessou a longa seara da contestação ao poder castrense, e dos jornais que apoiavam a situação,  para repontar com a Constituição por ele   denominada "Cidadã", e que marcaria o próprio legado.
                    Como assinala Jorge Bastos Moreno, ao abrir os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, no dia quatro de fevereiro de 1987, Ulysses sinalizou  o espírito que nortearia os dezenove meses seguintes: "É um Parlamento de costas para o passado que se inaugura hoje para decidir o destino constitucional do país."
                      Nessa caminhada, a Assembléia enfrentou cipoais e problemas, como o próprio "Frankenstein" que era uma espécie de resumo composto por grupos de trabalho para informarem a vindoura Constituição, e que não se provaria manejável, tanto que o colégio dos Constituintes teve de  desfazer-se dele  para chegar ao texto que Ulysses designaria como 'Constituição Cidadã'.
                      Ulysses era e sempre foi o líder talhado para as lides de Parlamento, como seria na sua qualidade de Presidente desse colégio. Algo no entanto parecia impedi-lo de tirar a conclusão lógica de sua liderança - estar em posição acima dos pares, e no próprio consenso deles. Por isso, com a partida de Tancredo Neves, que personificou a esperança, veria a cadeira presidencial ser ocupada por alguém que não se comparava à sua liderança, seja nos anos de travessia do deserto, seja ao avistar-se a terra firme da democracia.
                      Seu destino era de ser ímpar entre os pares,  o nome inconteste para as horas dificeis, respeitado pelos próprios iguais como maior do que eles, e, no entanto, por força dos estranhos caprichos da História, não fadado a chegar ao próprio manifesto destino, não obstante se haver desincumbido de ingentes tarefas, nos tempos cinzentos da Ditadura militar. Por isso, já no retorno do período democrático, seria natural vê-lo acompanhado ou por nomes já reconhecidos, como Severo Gomes, ou por parlamentares como Pedro Simon, a quem estava fadada trajetória política de respeito. Tal era o seu papel, que assomara como natural aos grandes que lhe cederam a vez nas horas difíceis, mas não lhe reconheceram tal direito ao pensarem que a procela terminara, e chegara o tempo da normalidade, que a letra não-escrita da História costuma deixar por conta dos homens comuns, eis que o tempo bom não parece requerer grandes vultos.         



( Fonte subsidiária:  O Globo)

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