Cercam muitas expectativas a visita oficial aos Estados Unidos do Presidente da República Popular da China, Hu Jintao. Iniciada ontem, a superpotência recebe com mostras de deferência nas solenes cerimônias oficiais, assim como nas incrementadas atenções à segunda potência mundial que ostenta um PIB de cinco trilhões de dólares e grandes perspectivas de continuada ascensão.
A julgar pelas indiscrições de praxe, a administração Barack Obama tenciona marcar mudança na atitude para com a R.P.C. À reconhecida relevância no plano protocolar – que é consequência das dimensões econômica e política do parceiro na cena internacional – se contrapõe inédita firmeza do presidente Obama e de seus principais auxiliares na discussão dos mais importantes tópicos das relações bilaterais.
Avultam na agenda sino-americana a persistente subapreciação do renminbi, com efeitos de inchação dos saldos na balança comercial e conexos prejuízos para a indústria estadunidense bem como maior responsabilidade em questões internacionais (Coreia do Norte e Irã), e mais respeito aos direitos humanos.
Decerto os problemas vão além, como a maior atenção à pirataria comercial, postura menos belicista com respeito aos vizinhos e a reivindicações de soberania, e atitudes mais responsáveis no que tange à abertura dos mercados.
Segundo se assinala, as intervenções mais enérgicas foram as do Secretário da Defesa, Robert Gates – Washington responderá à crescente presença militar chinesa no Pacífico com mais investimentos em armas, jatos e tecnologia; da Secretária de Estado, Hillary Clinton – encareceu atuação mais responsável da China, para conter a Coreia do Norte, e censurou a falta de liberdade na sociedade chinesa; e do Secretário do Tesouro, Timothy Geithner, que solicitou empenho para a apreciação da moeda chinesa, condicionando a expansão do intercâmbio e dos investimentos nos dois sentidos, à maior abertura do mercado chinês aos empresários americanos.
Como reagirá o circunspecto Hu Jintao a essa esperada artilharia, bem como às observações que lhe fará um mais calejado Barack Obama, nos diversos momentos de conversações no mais alto nível ?
Para que se tenha um quadro mais amplo e veraz da possível reação, semelha importante ter-se presente as considerações seguintes. Obama não tem diante de si nem Deng Xiaoping, nem o seu sucessor Jiang Zemin. Deng Xiaoping tinha autoridade incontrastável e soube cercar-se de auxiliares do peso de Zhao Ziyang[1] (que possibilitou a opção economico-financeira, liberdade esta que seria o motor do desenvolvimento da RPC); Jiang Zemin, sem o peso de Deng, tinha controle suficiente dos principais atores na economia e na política.
Não é que Hu seja figura desimportante ou decorativa. As suas faculdades de controle, no entanto, não semelham ter a força evidenciada por seus antecessores. Existem, no momento, muitos polos de poder na República Popular da China. Em certas oportunidades, se tem a impressão de que os militares se auto-governam, a despeito de que o Presidente Hu seja o chefe da Comissão militar. A esfera castrense desenvolve as respectivas armas e as experimenta – como no caso do avião Stealth (invisível ao radar) testado durante a visita do Secretário de Defesa. Consoante consta, o Presidente Hu desconheceria a ocasião do teste. Em outros instantes, a aparente concordância de Hu – como v.g. no caso da apreciação do renminbi – com as postulações americanas não teria qualquer efeito nas instâncias de comércio internacional e nas autoridades financeiras chinesas.
Hu Jintao dá a impressão de um chefe do executivo que não logra controlar muitos dos polos de poder na RPC. Tal não significa asseverar que não tenha poderes, como na área de direitos humanos. No entanto, afigura-se incontestável que a palavra de Hu não significa, necessariamente, que as coisas estão decididas, como seria no caso do velho líder Deng Xiaoping.
Como se tal não bastasse, a autoridade do atual presidente tende igualmente a ser afetada pelo progressivo processo de atrito, que caracteriza a sucessão. Parece não haver dúvida que Hu será sucedido em 2012 por Xi Jinping. Dessarte, quando uma estrela nova aparece, fadada a substituir a antiga, é natural que o poder do presidente em exercício, Hu Jintao, seja afetado e de forma gradual.
Diante de o que precede, quiçá as expectativas de Washington quanto às possibilidades abertas pela visita do Presidente da República Popular da China venham a ser excessivas.
(Fontes: International Herald Tribune e Folha de S. Paulo )
[1] Zhao Ziyang (1919-2005). Encarregado das questões econômicas da China (março de 1980; Primeiro Ministro (setembro de 1980); Secretário-Geral do Partido Comunista. Preconiza maior compreensão com as manifestações estudantis e, em seguida, discorda da imposição da lei marcial por Deng em 4 de maio de 1989; em junho, depois do massacre de Tiananmen é afastado do poder e mantido em prisão domiciliar até sua morte em 17 de janeiro de 2005, em Beijing.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
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