segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Dizer ao que veio

Não surpreende, porque faz parte da condição humana. Dentre os muitos que aparentam alvoroçados saudar o novo, não poucos haverá que prefeririam o antigo, onde transitavam com desenvoltura, por se julgarem dele próximos, seja pelas idiossincrasias, seja pelas supostas oportunidades oferecidas.
Na verdade, os regimes mais se assemelham do que aos incautos possa parecer.
Em todos existirá uma atmosfera de corte, em que são múltiplas as gradações de favoritismo.
Essa difusa sensação, que exalta os privilegiados da vez, também afeta a uma raia média e miúda, a que a mudança traz o desconforto da incerteza, e da eventual perda dos eventuais nichos de favor ou trânsito, por mofinos que sejam.
Já desse fenômeno se teve um prenúncio quando do discurso de posse da Presidente Dilma Rousseff.
Dele me ocupei longamente no blog precedente, mas gostaria de pedir a atenção para o silêncio que acolheu a promessa da Presidenta de combater a corrupção. Decerto em praça pública, a reação seria bem diversa. Há outros aspectos, porém, nos quais as respostas podem ser mais ambíguas.
Em todos, contudo, o crédito de confiança que é praxe conceder aos iniciantes, quando de fato outorgado, já vem maculado de dúvidas e mal-disfarçadas críticas. Chega-se mesmo a desfazer da alocução inaugural, como se fora simples cópia de intervenções pregressas, ou lista de chavões e de antigos propósitos.
Na realidade, até se afigura concebível que essa gente tenha formalmente razão.
O que não têm a capacidade de sentir é a esperança. O fato de que tais situações perdurem não será motivo para que se deixe de mencioná-las. O que importa não é a verificação de existência demasiado conhecida, mas da vontade política de pôr um fim a tais descalabros.
Se no passado, tais compromissos tiveram a vida breve das promessas de ocasião, o povo, a que essas situações revoltam, mais do que constrangem, deseja acreditar nos seus governantes, sobretudo em quem muito cedo viveu, nos tempos do arbítrio, amparada na solitária coragem, a árdua, perigosa caminhada do idealismo.
Agora, como nos movimentos telúricos, há um torvelinho de camadas que surgem, desaparecem, ou buscam nesgas de difícil, contestada permanência. À primeira vista, cuidam de si próprias, posto que a vindoura sobrevivência dependerá da progressão da luz maior.
Decerto, as coisas serão sempre mais simples e menos sinuosas, para quem aspira o bem geral. Para as choldras e igrejinhas, que lá se encontram muitas, isto são modos de tolo. Ignoram, coitados, a força da multidão que é generosa no acreditar, sobretudo quando entrevê na palavra a centelha da sinceridade.

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