sábado, 22 de janeiro de 2011

Problemas no MEC

O sistema implantado pelo Ministério da Educação para agilizar o acesso à universidade através do Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) e do Sistema de Seleção Unificada (SISU) representa inequívoco progresso para o sistema educacional brasileiro, visto em relação à preexistente pluralidade dos meios de ingresso na universidade, de que os exames-vestibulares constituem o símbolo por excelência.
Teoricamente a ideia merece todo o apoio. Existe, no entanto, uma óbvia condição para que o novo sistema na forma ora preconizada pelo Ministro Fernando Haddad colha a aprovação irrestrita da sociedade.
Ao seu avanço programático deve corresponder funcionamento não apenas adequado, mas que satisfaça plenamente o usuário que, ao submeter-se às regras respectivas, aspira validamente a que os direitos de candidato sejam respeitados, por intermédio de organização que funcione a seu inteiro contento.
O estudante do ensino médio não há de desejar outra coisa que um exame bem aplicado, sem confusões nem vazamentos, com acesso aos resultados e à consequente opção do curso a seguir, sem postergações, atrasos ou quebras de confidencialidade.
Infelizmente, as inegáveis qualidades profissionais do Ministro Haddad tem sofrido máculas na implementação dos exames nacionais, seja por vazamentos de questionários devido a falhas na segurança, seja, em fase ulterior, erros na distribuição de quesitos, a que agora se agregam outros deslizes técnicos, desta feita localizados no Sisu.
A todos esses tropeços, o Ministro Fernando Haddad tem resistido galhardamente. O Presidente Lula deveria apreciar muito o seu trabalho, a ponto de relevar-lhe o que, para muitos, implica em responsabilidade na gestão das questões de sua Pasta.
Se até hoje os motivos de Lula para tão desenvoltamente livrar-se da colaboração de um ministro da envergadura de Cristovam Buarque, a quem demitiu pelo telefone, mais parecem ligar-se a antipatias de outro colega mais bem posicionado, tal não foi decerto o caso com o seu sucessor Fernando Haddad.
Ninguém lhe contesta o embasamento doutrinário, nem os títulos universitários – posto que não façam sombra às credenciais do antecessor – mas o que desperta perplexidade foi a obstinação do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em manter o seu ministro da Educação, malgrado o pandemônio no Enem, com considerável prejuízo humano para os jovens aspirantes aos bancos acadêmicos.
No seu estilo tradicional, Lula transformava as audiências ao Ministro Haddad – cujo ministério não estava atendendo às exigências técnicas de um exame por ele estabelecido - a iteradas e pouco críveis promessas de repetidas tentativas, como se a matéria pudesse ser resolvida pela repetição e não pelo recurso a uma nova autoridade, que se dispusesse a enfrentar um desafio de responsabilidade ministerial.
Com a vinda da Presidenta Dilma Rousseff, os critérios semelham mudar e de forma auspiciosa para o estudante nacional do ensino médio, cujo principal erro foi confiar no Enem como hoje estruturado pelo MEC.
Fernando Haddad mostrou uma certa imaturidade – ou pelo menos insensibilidade – ao tencionar levar avante o projeto de férias, em meio à crise no seu ministério. Já mantido no MEC aparentemente por instâncias do grande protetor, o seu incrível projeto de descanso, enquanto todo o esquema de implantação do Enem e do Sisu (cujo responsável foi oportunamente exonerado) se descobre subitamente no alto e encapelado mar dos protestos estudantis, da guerra das liminares, enfim do relativo caos burocrático, com que os candidatos se defrontam.
Com uma certa liberdade poética, que a meu modesto ver caberia em tema dos docentes e de seus modelos de aferição de conhecimento, o corpo discente tem o direito de presumir, como no que se refere à mulher de Cesar, à isenção e à exação na manipulação e materialização dessa ferramenta de acesso à universidade, a quem devotam tanta paciência, denodo, estudo e ambição fundada na premissa básica da igualdade de direitos.
Pelo visto, a Presidenta Dilma Rousseff não ignora que os ministros, por mais apadrinhados que sejam, são demissíveis ad nutum. Não será criando falsas hiper-estruturas, como a propalada concursobrás, que se resolverá a questão. Talvez, meu caro Ministro Haddad, a coisa possa começar por um pouco de sensibilidade – não é hora de largar o timão para descansos regulamentares – e complementar-se, por enfronhamento mais próximo do problema, que não é tanto teórico nem elocubrativo, mas da comezinha administração, em que o responsável não refuga em afundar-se em assuntos concretos e diretos. Afinal, é desses mesmos que a crise no MEC se alimenta e se agrava.
Precisamos de um ministro que ao escoimar o Enem et al. de erros e barafundas lhe preserve a aplicação geral e incontestável, poupando o estudante médio do tempo perdido das contestações generalizadas, que redunda na própria negação de seu benemérito propósito.

(Fonte: O Globo )

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