segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Direita Raivosa

A propaganda irresponsável de Sarah Palin e do movimento ultra-direitista Tea Party, contra candidatos democratas, ao ensejo das eleições intermediárias de novembro de 2010, vem sendo objeto da atenção da direção do Partido Democrata. Sarah Palin, a ex-candidata a vice-Presidente na chapa do republicano John McCain, é uma espécie de musa dos partidários do Tea Party.
Na campanha legislativa de 2010, Palin divulgou panfleto em que exortava os eleitores a impedir a vitória no pleito para a Câmara de vinte representantes que tinham votado a favor da Reforma da Saúde (a que os republicanos se referem,de forma pejorativa, como Obamacare[1]).
Ora, vejam só! Dentre esses visados pela ex-governadora do Alaska estava a deputada Gabrielle Giffords, democrata, e candidata a reeleição. No mesmo sentido, o Tea Party, em seu material de propaganda, não hesitou em expor um mapa dos Estados Unidos, cravado de miras telescópicas que designavam os distritos dos congressistas visados, ou então fotos de Sarah Palin, que assesta potente fuzil contra o símbolo do Partido Democrata.
O massacre perpetrado por Jared Loughner – que foi preso enquanto buscava escapar a pé – matou seis pessoas, além de ferir seriamente a deputada Giffords. Alvejada no cérebro, está em coma induzido, e os médicos acompanham a evolução do pós-operatório para pronunciá-la fora de perigo. Atingida na cabeça, é muito cedo para determinar se o ato criminoso provocará sequelas permanentes.
O xerife do condado de Pima, na cidade de Tucson (Arizona), Clarence Dupnik criticou o ambiente que cercou o crime de Loughner: “A retórica sobre o ódio, sobre a desconfiança do governo (...) e a tentativa de inflamar a população 24 horas por dia (...) tem impacto nas pessoas, especialmente nas que tem personalidades desequilibradas”.
Dada a gravidade da ocorrência, por ordem do Presidente Barack Obama, o FBI passou a comandar as investigações.
Diante das repercussões, os republicanos adotaram algumas mudanças no seu discurso. O Speaker da Câmara, John Boehner pediu ao FBI uma revisão de todo o esquema de segurança dos congressistas americanos. Por outro lado, o G.O.P. terá optado em adiar a sua polêmica votação do ‘repeal’[2] da Lei da Assistência Sanitária, que estava agendada para esta semana.
Em um outro plano, o senador republicano Lamar Alexander acusou a mídia estadunidense de ‘irresponsável’ por conectar a propaganda de Palin (e do Tea Party) com a tragédia de Tucson. Nessa ordem de ideias, a irresponsabilidade seria da imprensa por reportar tal propaganda. Nenhuma palavra sobre os potenciais efeitos desse peculiar enfoque das miras telescópicas.[3]
A primeira mártir da campanha pela reforma sanitária – a corajosa deputada democrata em terceiro mandato – mais do que pela sobrevivência, ela luta pela sua recuperação e regresso à tribuna, que honra sobremaneira.
Por outro lado, a direita, seja a do Partido Republicano, seja a de seus movimentos auxiliares, como o Tea Party, enfrenta inopinada reação, que a forçará a quiçá breve temporada de obrigada moderação.
Afinal nos partidos políticos demagógicos, o Norte será sempre dado pelo termômetro da resposta dos eleitores. E por mais agitados e bitolados que sejam, terão presente que exageraram na retórica, o que, repetindo o que disse o xerife “tem impacto (...) especialmente nas personalidades desequilibradas”.


( Fontes: O Globo e Folha de S. Paulo )

[1] Obamacare ( assistência de Obama) por Health Care, isto é, assistência sanitária. A própria escolha do slogan de campanha já reflete o nível da oposição republicana.
[2] Revogação.
[3] De uma certa forma, é a culpabilização do mensageiro, praticada, entre outros, pelo ditador Saddam Hussein.

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