O superavit da Balança Comercial foi de US$ 20 bilhões. A exportação de bens montou a 201 bilhões e a importação a 181 bilhões. Se a alta nas exportações se deveu mais ao atual aumento no preço das cotações das commodities (incremento de 31%), já o aumento no volume correspondeu a apenas 14,2%.
A nossa pauta de exportações depende demasiado de matérias primas – de nossas vendas para o exterior somente 10% foram bens de capital (US$19,7 bilhões), e disso 46,8% se destinou à América Latina. Grande compradora de produtos de base – minério de ferro, petróleo e derivados, soja – foi a China (US$ 30 bilhões).
O aumento global do valor das exportações brasileiras não reflete, no entanto, uma progressão em qualidade e em produtos industrializados, com maior quoociente de trabalho agregado.
Se produzimos aviões de médio e pequeno alcance, com destaque para a Embraer que ocupa, no setor, um lugar protagônico, não tem havido crescimento e diversificação correspondente em outros ramos de produtos industrializados, sobremodo aqueles com maior coeficiente tecnológico.
Se dependemos excessivamente de commodities (matérias primas), a condição de celeiro mundial nos torna dependentes das oscilações de mercado nas cotações – que são necessariamente maiores – desses produtos, com possíveis danosas consequências na superveniência das crises cíclicas do comércio mundial.
Outro aspecto negativo é o perfil de nosso intercâmbio com a China, eis que a provemos de matérias primas de que aquele enorme mercado carece e importamos produtos industrializados desse país que, pelas baixas cotações de tais artigos, tiram mercado, inclusive interno, de fábricas brasileiras. Dada a dificuldade de concorrer nesse domínio com a RPC, que se vale de um renminbi artificialmente depreciado, além de preços unitários reprimidos pela baixa paga da mão-de-obra respectiva. A descapitalização em certos setores de nossa indústria pode decorrer, com reflexo no aumento de nossas importações (preferência pelo produto estrangeiro subvalorizado) e diminuição nas exportações (aumento do preço unitário pela apreciação do real).
Grosso modo, a Companhia Vale do Rio Doce reflete esta ambivalência na nossa balança comercial. Exporta precipuamente minério de ferro – commodity com ínfimo valor agregado de trabalho – e o seu principal mercado é a China. Da produção da Vale, 87% é exportado, e desse montante 45% se destina à R.P.C. Assinale-se, outrossim, que a Vale foi a empresa nacional que mais exportou, superando inclusive a Petrobrás.
Já no Balanço de Transações Correntes – que inclui a balança comercial, turismo, viagens, pagamentos de juros e remessas de lucros e dividendos – a situação é deficitária, e tal se deve aos seguintes fatores: (a) baixo superavit na balança comercial; (b) turismo e viagens – a apreciação do real torna mais baratas as viagens ao exterior e, por conseguinte, estimula o turismo para o estrangeiro. A outra face da moeda, é que a apreciação do real diminui o poder aquisitivo do dólar e torna mais caro o turismo estrangeiro aqui, com o desestímulo correspondente; (c) os eventuais incrementos na dívida interna e as altas taxas de juros – que funcionam também como atrativos para as inversões especulativas – tendem necessariamente a onerar este ítem do balanço; (d) as remessas de lucros e dividendos tendem a ser altas dada a grande desnacionalização de nossa economia em setores industriais relevantes – como o setor de montadoras -, o que muito contribui para incrementar as remessas para o exterior (tal fenômeno se acirrou durante a crise financeira internacional, quando as matrizes nos Estados Unidos, na Europa e no Extremo Oriente enfrentavam dificuldades de caixa, o que lhes aumentava a dependência das remessas procedentes do Brasil).
Por fim, o Balanço de Pagamentos – em que se computa não só as referidas transações correntes como a Conta de Capital. Esta última abrange os investimentos, tanto no setor financeiro, quanto no produtivo (os chamados IEDs, ou investimento estrangeiro direto). A Conta de Capital, em que o elemento especulativo tem participação importante, registrou no total dos investimentos financeiros um superavit de US$ 52, 7 bilhões. Por sua vez, os IEDs tiveram uma entrada líquida de US$48,4 bilhões. Ao contrário dos investimentos financeiros, em que a componente especulativa (e portanto a respectiva volatilidade) tende a ser grande, os investimentos no setor produtivo têm significado econômico bastante mais ponderável.
A conta de capitais reflete, em toda a sua gama, a valorização do real como uma das principais moedas no mercado internacional, seja pela sua apreciação em relação ao dólar, seja sobretudo pelas altas taxas de juros, quiçá as maiores do mundo, que proporciona aos investidores tanto nacionais, quanto alienígenas.
Se nos aventurarmos a avaliação prospectiva, o que se pode dizer, é que, por enquanto, o desempenho da economia brasileira em relação ao exterior é satisfatório. Acresce notar que a dívida externa é pequena, e há reservas consideráveis (somos até credores do FMI). Se a curto prazo, o perfil agrada, a médio e longo prazos as perspectivas hão de depender de uma relativa depreciação do real – que contribuirá para aumentar os nossos saldos comerciais e entorpecerá a atração, seja do produto estrangeiro, seja das viagens ao exterior. Se quisermos desvencilhar-nos dessa carga subdesenvolvida de pauta de exportações de baixo teor tecnológico, é mister investir em indústrias de maior sofisticação, para que possamos exportar não só minérios brutos (como a Vale), mas manufaturas de alto cociente de mão-de-obra e tecnologia brasileira.
( Fontes: O Globo e Miriam Leitão )
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
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Um comentário:
Não há problema algum em ser exportador de matérias primas. Seria burrice deixar de usar um bem natural que temos à disposição. Basta que se use estrategicamente visando a sustentabilidade fiscal a longo prazo, amortecendo variações de preços e demanda e reduzindo dependências. Por exemplo com fundos anticíclicos, como fazem Chile e Austrália. Isto é mais importante com o Pré-Sal. Contudo a perspectiva não é boa: tradicionalmente torramos nos bons tempos em gastos permanentes (de péssima qualidade) e depois todo mundo fica choramingando quando vem o arrocho. Acaba sobrando para quem não é amigo do rei (os pobres). Agora, é muito perigoso tentar substituir exportações na marra, incentivando ou desincentivando industrias e setores (ninguém tem bola de cristal - pode-se incentivar o setor errado e perder tudo, e o perigo de favorecimentos é enorme). Por que não melhorar o ambiente para todas e deixar que as que realmente são competitivas emerjam?
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