A Queda de Ben-Ali
Zine el-Abidine Ben Ali, o ditador da Tunísia, sucedera a Habib Bourguiba em 7 de novembro de 1987. Bourguiba, à frente do partido Neo-Destour, assumira o governo graças às medidas liberalizantes de Pierre Mendès-France, primeiro ministro francês. Pouco após a independência, Bourguiba aboliu a monarquia e se tornou presidente, cargo que exerceu de 1957 a 1987.
Bourguiba mantivera uma linha pró-ocidental. Na sua administração, ao contrário dos ventos que hoje sopram no mundo árabe, seguiu orientação laica, procurou conter a influência do islamismo na política.Aferrando-se ao poder até idade provecta, deu ensejo a que seu Primeiro Ministro, Zine Ben-Ali, o declarasse impedido por estar alegadamente senil. Desde então, Ben-Ali foi o presidente, cargo que ocupou por cerca de vinte e três anos.
Há tempos , fermentava a insatisfação pública, com a sua ditadura policialesca. A corrupção do regime, o enriquecimento da família às custas do Erário igualmente acirraram a generalizada insatisfação. Assinale-se no processo revolucionário a relevância do emprego da internet, como meio rápido de comunicação e de reaglutinação do dispositivo da rebelião.
Por outro lado, sua queda, ao cabo de um longo atrito e consequente ingovernabilidade, mandou mensagem que, pelo seu conteúdo e novidade, eletriza o mundo árabe e inquieta os seus muitos tiranos, sejam presidentes, sejam cabeças coroadas.
A insurreição popular tunisiana culminou na sexta-feira catorze de janeiro por forçar a fuga do ditador. Mesmo depois de despachar a própria família para o estrangeiro, Ben Ali intentou quebrar o ímpeto do movimento, ao demitir o Ministro do Interior, Rafik Belhaj Kacem, que coordenava a repressão.
As revoluções têm a sua dinâmica. Depois de tomarem consciência da respectiva força, não tendem a contentar-se com meios termos, quando o objetivo colimado – a derrubada do tirano – já se afigura a seu alcance.
País com poucos recursos naturais, a Tunísia depende do turismo. Intui-se o que prolongada sublevação e a decorrente insegurança causa à chamada indústria sem chaminés, ao afastar os estrangeiros das praias tunisianas.
Malgrado as tintas irônicas de sua anunciada substituição pelo Primeiro Ministro Mohamed Ghannouchi, e velho aliado de Ben Ali, “dada a impossibilidade do presidente da república exercê-las nesse momento”, o poder presidencial logo escaparia também a Ghannouchi.
A Corte Constitucional determinou que a presidência interina deve ser ocupada por Fouad Mebazza, presidente do Parlamento. Estabeleceu, outrossim, que incumbe ao presidente interino realizar eleições presidenciais em prazo de sessenta dias.
Em ambiente conflagrado, com saqueios do comércio e o exército patrulhando as ruas, o já empossado Mebazza recebeu no sábado o líder opositor Najib Chebbi, cujo partido era perseguido por Ben Ali. Chebbi disse ter sido convidado para integrar governo de união nacional (Ghannouchi, o aliado de Ben Ali, foi, por ora mantido como premier).
O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, disse que os acontecimentos na Tunísia “formam o começo de uma era e o fim de outra”. O ditador líbio, Muammar Kaddafi, parece não estar de acordo. Além de não reconhecer o governo interino da Tunisia, afirmou que Ben Ali – que se refugiou na Arábia Saudita – continua sendo o ‘presidente legal’ do país.
No poder desde 1969 – quando destronou o impopular e enfermo rei Idris I – Kaddafi semelha algo esquecido da dinâmica revolucionária, de que, a seu tempo, soube beneficiar-se.
A Bielo-rússia de Lukashenko e a União Europeia
O governo do Presidente Aleksandr Lukashenko acusou a Polônia e a Alemanha de conspirarem para sua derrubada. Tais afirmações sucedem à reunião de parlamentares europeus com delegação de opositores da Bielo-rússia.
Por causa da violenta repressão dirigida por Lukashenko contra a oposição após as recentes eleições, se veicula na União Europeia a imposição de pesadas sanções contra o governo bielo-russo.
Segundo informam ongs de direitos humanos a KGB – que na terra de Lukashenko mantém o título soviético – realiza operações diárias nas casas e nos escritórios de simpatizantes da oposição.
Tais acusações, de resto, nada de bom pressagiam para os militantes oposicionistas. Mais de trinta deles se acham detidos, com a perspectiva de sentenças de quinze anos de cadeia, pela suposta participação em uma ‘conspirata’ contra o presidente Lukashenko.
Todo este nervosismo da maior autocracia europeia tem muito a ver com a manifestação popular largamente pacífica, ao ensejo das rituais eleições de dezenove de dezembro. Mais de seiscentas pessoas foram presas, inclusive sete dos nove candidatos que se opuseram ao ditador.
Consoante os registros oficiais, Lukashenko foi reeleito com 80% dos sufrágios, em votação manifestamente fraudulenta, de acordo com observadores independentes.
( Fontes: International Herald Tribune e Folha de S. Paulo)
domingo, 16 de janeiro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário