A
Folha, em reportagem desta terça-feira, doze de novembro, segundo aponta
Relatório do TCU obtido pelo jornal, que o governo Jair Bolsonaro mudou a
lógica de distribuição de verbas publicitárias para TVs abertas, ao destinar os
maiores percentuais de recursos para a Record o SBT - emissoras consideradas
aliadas do Planalto, mas que não são líderes de audiência.
Nesses termos, ainda que seja a mais assistida
do país, a Rede Globo tem agora participação no bolo bem menor do que a das duas concorrentes, o
que não se verificava no passado, segundo o TCU.
Desde a campanha eleitoral, a
Rede Globo tem sido alvo de recorrentes ataques do presidente, que
reclama da cobertura de seus programas jornalísticos. No fim de outubro último,
v.g., após reportagem que vinculou seu nome ao caso do assassínio da vereadora Marielle Franco, Bolsonaro pôs em dúvida a renovação da concessão da TV
em 2022.
O Tribunal de Contas da União (TCU) requereu à Secretaria de Comunicação
Social da Presidência (SECOM) as planilhas de valores pagos, via agências de
publicidade, para as três TVs, e compilou os dados.
Tal solicitação se prende ao objetivo de dar elementos ao processo
aberto a partir de representação do
Ministério Público de Contas, para analisar se tais recursos estão sendo
distribuídos com critérios políticos, favorecendo Record e SBT.
Os dados em apreço indicaram uma inversão de tendência. Até o ano passado,
a Globo recebia valores mais próximos do
seu share, ou seja da participação em audiência no total de emissoras ligadas.
Em 2017, ficou com 48,5%
dos recursos, e, em 2018, 39,1%. Neste ano de 2019, com base em dados parciais,
a fatia despencou para 16,3%. Os
percentuais da Record foram de 26,6% em
2017, 31,1% em 2018, e agora 42,6%. Por
sua vez, os do SBT, 24,8%, 29,6% e 41%,
respectivamente.
No relatório, concluído
em 31 de outubro de 2019, os técnicos do TCU dizem ser necessário aferir se a "mudança de comportamento" do
governo esteve amparada em critérios "objetivos e isonômicos".
A publicidade no
governo federal é disciplinada por uma instrução normativa de 2018, que prevê a
audiência como um critério para a compra da mídia, mas não o único. Também são levadas em conta outras
características das emissoras, como o seu perfil e alcance no país, alem dos
segmentos da população que atingem.
Normalmente, as
agências se baseiam em dados da Kantar Ibope para definir o rateio. Segundo
dados do instituto, entre janeiro e outubro deste ano a Globo tem 33,1%
do público da TV, contra 14,5
% do SBT e 13,1% da Record. Os dados
em apreço se reportam às quinze principais regiões metropolitanas.
Em oito
campanhas dos dois últimos anos, a Globo sempre teve participação majoritária,
com share entre 37% e 57%,
Já as duas concorrentes variaram entre 10% e 24%.
Na corrida
presidencial em 2018, o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino
de Deus e dono da Record, manifestou
apoio a Bolsonaro, o que se seguiu de outros afagos após a posse.
Em
setembro, o presidente visitou o Templo de Salomão, sede da Universal em São
Paulo, sendo elogiado e abençoado pelo bispo Macedo. Dois dias depois, recebeu
o bispo e o empresário Sílvio Santos, dono do SBT, no palanque da parada de
Sete de Setembro em Brasília.
Bolsonaro
e seus filhos têm priorizado as duas TVs em aparições e viraram
convidados rotineiros em seus programas
mais populares.
Neste
ano de 2019, segundo os dados obtidos pelo TCU e atualizados até junho, o governo destinou R$ 16,1 milhões às
três TVs. O grosso desses recursos (R$ 15,3 milhões) refere-se à campanha sobre
a reforma da Previdência.
O
plano de mídia, documento que traçou as estratégias da ação publicitária, diz
que a distribuição se deu "conforme o share
de audiência e respeitou as negociações
para que a campanha possa ser vista de forma mais ampla".
A
Globo teve 18,1% da verba da campanha, a
Record ficou com 44,5% e o SBT, com 37,4%.
Os
dados de referência do IBOPE, segundo o TCU, mostravam que Record e SBT
detinham, cada uma, cerca de um quinto da audiência das TVs abertas naquele momento.
Houve também ações de merchandising e a Globo
ficou de fora. Foram contemplados programas para os quais Bolsonaro dá
entrevistas recorrentes, defendendo medidas de sua gestão, como os dos
apresentadores Ratinho (SBT) e Datena (Band).
A Folha levantou no site da Secom os
pagamentos para os três grupos televisivos, referentes às mais diversas
campanhas, entre 1º de janeiro e esta segunda-feira, dia onze de novembro de 2019.
A mesma tendência se mantém.
A Globo havia sido contemplada com R$ 10,5
milhões, o SBT com R$ 16,3 milhões e a Record com R$ 19,7 milhões.
Com
bases nas constatações, os auditores do TCU querem que em quinze dias, a Secom
apresente critérios "técnicos e objetivos" que justifiquem a
distribuição de anúncios da Previdência. Também reclamam das razões de
escolha dos programas para merchandising.
A decisão sobre essas
providências será tomada pelo relator do processo no TCU, ministro Vital do Rêgo.
Em 2019, as despesas da Secom com fornecedores em publicidade, em
diversos meios de comunicação, totalizavam R$ 140,7 milhões até 11 de novembro.
Nos dez anos anteriores, em valores atualizados pela inflação, esse pata- mar
variou entre R$ 156,4 milhões e R$ 280,9 milhões, considerados os doze meses de
cada ano.
Após se eleger, em 2018, Bolsonaro disse que os gastos com propaganda
estatal cairiam ainda mais em 2020.
( Fonte: Folha de S.Paulo (pag. A6 - Poder)
Transcrito da Folha de 12 de novembro de 2019)
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