terça-feira, 12 de novembro de 2019

Rede Globo perde, sob Bolsonaro, participação em verba oficial de publicidade


           

            A Folha, em reportagem desta terça-feira, doze de novembro, segundo aponta Relatório do TCU obtido pelo jornal, que o governo Jair Bolsonaro mudou a lógica de distribuição de verbas publicitárias para TVs abertas, ao destinar os maiores percentuais de recursos para a Record o SBT - emissoras consideradas aliadas do Planalto, mas que não são líderes de audiência.

             Nesses termos, ainda que seja a mais assistida do país, a Rede Globo tem agora participação no bolo  bem menor do que a das duas concorrentes, o que não se verificava no passado, segundo o TCU.
               Desde a campanha eleitoral, a  Rede Globo tem sido alvo de recorrentes ataques do presidente, que reclama da cobertura de seus programas jornalísticos. No fim de outubro último, v.g., após reportagem que vinculou seu nome ao caso  do assassínio da  vereadora Marielle Franco, Bolsonaro  pôs em dúvida a renovação da concessão da TV em  2022.
                 O Tribunal de Contas da União (TCU) requereu à Secretaria de Comunicação Social da Presidência (SECOM) as planilhas de valores pagos, via agências de publicidade, para as três TVs, e compilou os dados.
                   Tal solicitação se prende ao objetivo de dar elementos ao processo aberto  a partir de representação do Ministério Público de Contas, para analisar se tais recursos estão sendo distribuídos com critérios políticos, favorecendo Record e SBT.  
                     Os dados em apreço indicaram uma inversão de tendência. Até o ano passado, a  Globo recebia valores mais próximos do seu share,  ou seja da participação  em audiência no total de emissoras ligadas.
                       Em 2017, ficou com 48,5% dos recursos, e, em 2018, 39,1%. Neste ano de 2019, com base em dados parciais, a fatia despencou para  16,3%. Os percentuais da Record foram de  26,6% em 2017, 31,1% em  2018, e agora 42,6%. Por sua vez,  os do SBT, 24,8%, 29,6% e 41%, respectivamente.
                        No relatório, concluído em 31 de outubro de 2019, os técnicos do TCU dizem ser necessário aferir  se a "mudança de comportamento" do governo esteve amparada em critérios "objetivos e isonômicos".
                         A publicidade no governo federal é disciplinada por uma instrução normativa de 2018, que prevê a audiência como um critério para a compra da mídia, mas não o único.  Também são levadas em conta outras características das emissoras, como o seu perfil e alcance no país, alem dos segmentos da população que atingem.
                                Normalmente, as agências se baseiam em dados da Kantar Ibope para definir o rateio. Segundo dados do instituto, entre janeiro e outubro deste ano a Globo tem 33,1%  do público da TV, contra 14,5 % do SBT e 13,1% da Record. Os dados em apreço se reportam às quinze principais regiões metropolitanas.
                                  Em oito campanhas dos dois últimos anos, a Globo sempre teve participação majoritária, com share entre 37% e  57%,  Já as duas concorrentes variaram entre 10% e 24%.
                                   Na corrida presidencial em 2018, o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da Record,  manifestou apoio a Bolsonaro, o que se seguiu de outros afagos após a posse.
                                     Em setembro, o presidente visitou o Templo de Salomão, sede da Universal em São Paulo, sendo elogiado e abençoado pelo bispo Macedo. Dois dias depois, recebeu o bispo e o empresário Sílvio Santos, dono do SBT, no palanque da parada de Sete de Setembro em Brasília.
                                       Bolsonaro e seus filhos têm priorizado as duas TVs em aparições e viraram convidados  rotineiros em seus programas mais populares.
                                        Neste ano de 2019, segundo os dados obtidos pelo TCU e atualizados até  junho, o governo destinou R$ 16,1 milhões às três TVs. O grosso desses recursos (R$ 15,3 milhões) refere-se à campanha sobre a reforma da Previdência.
                                         O plano de mídia, documento que traçou as estratégias da ação publicitária, diz que a distribuição se deu "conforme o share de audiência e respeitou as negociações  para que a campanha possa ser vista de forma mais ampla".
                                            A Globo teve 18,1%  da verba da campanha, a Record ficou com 44,5% e  o  SBT, com 37,4%.
                                             Os dados de referência do IBOPE, segundo o TCU, mostravam que Record e SBT detinham, cada uma, cerca de um quinto da audiência das TVs  abertas naquele momento.
                                                Houve também ações de merchandising e a Globo ficou de fora. Foram contemplados programas para os quais Bolsonaro dá entrevistas recorrentes, defendendo medidas de sua gestão, como os dos apresentadores Ratinho (SBT) e Datena (Band).
                                                  A  Folha levantou no site da Secom os pagamentos para os três grupos televisivos, referentes às mais diversas campanhas, entre 1º de janeiro e esta segunda-feira, dia onze de novembro de 2019. A mesma tendência se mantém.
                                                   A Globo havia sido contemplada com R$ 10,5 milhões, o SBT com R$ 16,3 milhões e a Record com R$ 19,7 milhões.
                                               Com bases nas constatações, os auditores do TCU querem que em quinze dias, a Secom apresente critérios "técnicos e objetivos" que justifiquem a distribuição de anúncios da Previdência. Também reclamam das razões de escolha  dos programas para merchandising.                                           
                                                 A decisão sobre essas providências será tomada pelo relator do processo  no TCU, ministro Vital do Rêgo.
                                                   Em 2019, as despesas da Secom com fornecedores em publicidade, em diversos meios de comunicação, totalizavam R$ 140,7 milhões até 11 de novembro. Nos dez anos anteriores, em valores atualizados pela inflação, esse pata- mar variou entre R$ 156,4 milhões e R$ 280,9 milhões, considerados os doze meses de cada ano.
                                                     Após se eleger, em 2018, Bolsonaro disse que os gastos com propaganda estatal cairiam ainda mais em 2020.


( Fonte: Folha de S.Paulo (pag. A6 -  Poder)  Transcrito da Folha de 12 de novembro de 2019)



Nenhum comentário: