Em pouco
mais de um dia, o juiz Alexandre Rizzi, titular da Vara criminal de Santarém,
no Pará, decide rever
sua determinação anterior, e manda soltar os quatro brigadistas que se
achavam em prisão preventiva no
balneário de Alter do Chão, que dista cerca de 1.200 km de Belém do Pará.
Daniel
Gutierrez Govino, João Victor Pereira Romano, Gustavo de Almeida Fernandes e
Marcelo Aron Cwerner tinham sido presos
no dia 26 de novembro, sob suspeita de terem iniciado incêndios
florestais na região, no âmbito da operação Fogo do Sairé, da Polícia Civil do
Pará. Essa operação investiga a origem
dos incêndios que atingiram área de proteção ambiental em Alter do Chão, em
setembro último.
Na quarta-feira, dia 27, durante audiência de
custódia, o juiz Rizzi sustentou a prisão preventiva dos brigadistas para
"garantia da ordem pública ante o risco de reiteração criminosa" ao
julgar "evidente a ineficácia das medidas cautelares diversas da prisão
neste momento processual". Na ocasião, o magistrado se comprometeu a
reanalisar a prisão em dez dias.
No
mesmo dia, entretanto, o Ministério Público Federal do Pará se manifestara
publicamente sobre o caso, afirmando que a investigação federal não encontrara
nenhum elemento de participação de
brigadistas ou organizações da sociedade civil nos crimes, que teriam sido
promovidos pelo assédio de grileiros,pela ocupação desordenada da região e pela
especulação imobiliária.
O MPF também enviou ofício à Polícia Civil do Pará requisitando acesso
integral ao inquérito que, segundo aponta, seria de competência federal. Nesse
meio tempo, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) determina a
substituição do delegado que comandava
as investigações que teriam levado à
prisão do grupo de brigadistas. Em
vídeo, o governador justifica a mudança "para que tudo seja esclarecido de
forma mais rápida e transparente possível".
Horas depois, o juiz Rizzi manda soltar os brigadistas, à falta de apresentação
de outros subsídios ou fatos novos que justificassem a manutenção da custódia
tutelar. O estilo de vida dos brigadistas, e o próprio testemunho de familiares
apresenta como incongruentes e até mesmo ridículas as acusações. Para Patrícia Romano, mãe de João Victor, ela
professora de dança, o filho, editor de vídeo, jamais cometeria crime
ambiental:
"ele escolheu a Amazônia, como lar, por amor à floresta. Mora
no meio do mato. A casa dele é uma maloca sem parede e sem geladeira. O único
móvel é um as-sento daqueles de Kombi, que serve de sofá. Ele vive assim por
opção."
Por sua vez, o fotógrafo Daniel Gutierrez, com 35 anos, e o economista
Marcelo Cwener, da mesma idade, fazem
parte do PermaAlter. O coletivo de
permacultura prioriza o uso de matérias primas
que não agridem o ambiente e reaproveitam recursos naturais.
Empreendedor na Amazônia há cinco anos, Marcelo criou a Maloca Viva,
espaço ecológico focado em desenvolvimento humano. É guia turístico e
proprietário de uma agência de turismo
fluvial
Também na região há cinco anos,
Daniel idealizou a brigada voluntária local. Segundo a arquiteta Penélope Casal
de Rey, também com 35 anos, e que é companheira de Daniel há dois anos, "ele foi o líder que
imaginou e concretizou projeto de criar um grupo engajado, para atuar no
combate aos incêndios."
É risível, por conseguinte, a tentativa de culpabilizar a brigada
voluntária local, demasiado incômoda na sua vocação de protetora da floresta, o que é decerto anátema e muito importuna para grupos como os de
grileiros, e aqueles interessados em promover a ocupação desordenada da região
(especulação imobiliária).
(
Fonte: Folha de S. Paulo )
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