sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Em 24 horas, Juiz revê decisão e manda soltar brigadistas


         
      Em pouco mais de um dia, o juiz Alexandre Rizzi, titular da Vara criminal de Santarém, no Pará,  decide  rever  sua determinação anterior, e manda soltar os quatro brigadistas que se achavam  em prisão preventiva no balneário de Alter do Chão, que dista cerca de 1.200 km de Belém do Pará.

        Daniel Gutierrez Govino, João Victor Pereira Romano, Gustavo de Almeida Fernandes e Marcelo Aron Cwerner tinham sido presos  no dia 26 de novembro, sob suspeita de terem iniciado incêndios florestais na região, no âmbito da operação Fogo do Sairé, da Polícia Civil do Pará. Essa operação  investiga a origem dos incêndios que atingiram área de proteção ambiental em Alter do Chão, em setembro último.
        Na quarta-feira, dia 27, durante audiência de custódia, o juiz Rizzi sustentou a prisão preventiva dos brigadistas para "garantia da ordem pública ante o risco de reiteração criminosa" ao julgar "evidente a ineficácia das medidas cautelares diversas da prisão neste momento processual". Na ocasião, o magistrado se comprometeu a reanalisar a prisão em dez dias.

         No mesmo dia, entretanto, o Ministério Público Federal do Pará se manifestara publicamente sobre o caso, afirmando que a investigação federal não encontrara nenhum elemento  de participação de brigadistas ou organizações da sociedade civil nos crimes, que teriam sido promovidos pelo assédio de grileiros,pela ocupação desordenada da região e pela especulação imobiliária.

              O MPF também enviou ofício à Polícia Civil do Pará requisitando acesso integral ao inquérito que, segundo aponta, seria de competência federal. Nesse meio tempo, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) determina a substituição do delegado  que comandava as investigações  que teriam levado à prisão do grupo de brigadistas.  Em vídeo, o governador justifica a mudança "para que tudo seja esclarecido de forma mais rápida e transparente possível".

               Horas depois, o juiz Rizzi manda soltar os brigadistas, à falta de apresentação de outros subsídios ou fatos novos que justificassem a manutenção da custódia tutelar. O estilo de vida dos brigadistas, e o próprio testemunho de familiares apresenta como incongruentes e até mesmo ridículas  as acusações. Para  Patrícia Romano, mãe de João Victor, ela professora de dança, o filho, editor de vídeo, jamais cometeria crime ambiental:
 "ele escolheu a Amazônia, como lar, por amor à floresta. Mora no meio do mato. A casa dele é uma maloca sem parede e sem geladeira. O único móvel é um as-sento daqueles de Kombi, que serve de sofá. Ele vive assim por opção."

              Por sua vez, o fotógrafo Daniel Gutierrez, com 35 anos, e o economista Marcelo Cwener, da mesma idade,  fazem parte do PermaAlter.  O coletivo de permacultura prioriza o uso de matérias primas  que não agridem o ambiente e reaproveitam recursos naturais.   
                Empreendedor na Amazônia há cinco anos, Marcelo criou a Maloca Viva, espaço ecológico focado em desenvolvimento humano. É guia turístico e proprietário  de uma agência de turismo fluvial 
                 Também na região há cinco anos, Daniel idealizou a brigada voluntária local. Segundo a arquiteta Penélope Casal de Rey, também com 35 anos, e que é companheira de Daniel  há dois anos, "ele foi o líder que imaginou e concretizou projeto de criar um grupo engajado, para atuar no combate aos incêndios."

                  É risível, por conseguinte, a tentativa de culpabilizar a brigada voluntária local, demasiado incômoda na sua vocação de protetora da floresta,  o que é decerto anátema  e muito importuna para grupos como os de grileiros, e aqueles interessados em promover a ocupação desordenada da região (especulação imobiliária).


( Fonte: Folha de S. Paulo )

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