segunda-feira, 11 de novembro de 2019

A Hipocrisia das 'Balas de Borracha'


                        
         As chamadas "balas de borracha" constituem uma das progressões mais cínicas e perigosas da repressão. Supostamente protegidas pela sua denominação na aparência inocente, elas na verdade representam perigo que é capaz de destruir uma vida, transformando uma pessoa em algo símile a um vegetal. Exemplo disso está na violência encastoada na covardia desses projéteis, que são manufaturados sob o manto de cínica hipocrisia e que são descaradamente apresentados como se fossem armas inócuas, que não representariam perigo algum para os manisfestantes.

            Não conheço a esse respeito algo que seja símile à interjeição do italiano altroché ! que a meu ver é uma espécie de concordância negativa, que só tem no português o correspondente da expressão uma ova!  em que a suposta concordância é abraçada pela veemência da explícita negativa.

              A violência policial na repressão às manifestações no Chile - que desmontaram a montagem de uma plácida democracia naquele país - por isso não poderia não conformar-se à  suposta montagem de uma repressão dita democrática, como seria o tal emprego das balas de borracha, que na verdade contêm partículas de mental dentro delas, o que revela inominável crueldade e, a par disso, a possibilidade de cegar o manifestante, como efetivamente foi o caso no emprego dessas balas desumanas - apresentadas como sendo "inocentes" (não produziriam qualquer mal...), quando em verdade representam expressão de crueldade boçal que não conhece qualquer limite no seu cinismo.

                 Nas recentes manifestações chilenas, a polícia veio armada com essas balas de borracha, que continham igualmente fragmentos de metal...  Pelo noticiário, o uso desses soezes instrumentos de atingir pessoas que se manifestam publica e pacificamente contra um estado de coisas indigno e repressivo, a que sentido e com qual justificativa se armam policiais com esta forma  de cegar uma pessoa, seja um rapaz, seja uma moça,  a que se maltrata com o sadismo de instrumentos de indizível boçalidade, indizível, pois ali o pensamento adverso é castigado com meios que ultrapassam qualquer medida de negação - estamos diante de monstros, que vão ao ponto de cegar demonstrantes !

                   É o caso de perguntar: em que terra se vive, em que se abandona o debate e a preleção, pela indizível alternativa de outro tipo de tortura. Aquela que ao cegar o manifestante, corta essa existência que se pilha barbaramente despojada de seu órgão decerto mais importante ?  Em que mundo vivemos, em que existem burocratas ou até monstros que se deleitem com a possibilidade  de negar a um ser humano a sua faculdade mais preciosa ?  Nem no medievo se deparou tal boçal perversidade!

( Fonte: O Estado de S. Paulo )        

Nenhum comentário: