As
chamadas "balas de borracha" constituem uma das progressões mais
cínicas e perigosas da repressão. Supostamente protegidas pela sua denominação
na aparência inocente, elas na verdade representam perigo que é capaz de
destruir uma vida, transformando uma pessoa em algo símile a um vegetal.
Exemplo disso está na violência encastoada na covardia desses projéteis, que
são manufaturados sob o manto de cínica hipocrisia e que são descaradamente
apresentados como se fossem armas inócuas, que não representariam perigo algum
para os manisfestantes.
Não conheço a esse respeito algo que seja símile à interjeição do
italiano altroché ! que a meu ver é uma espécie de concordância negativa,
que só tem no português o correspondente da expressão uma ova! em que a suposta
concordância é abraçada pela veemência da explícita negativa.
A violência policial na repressão às manifestações no Chile - que desmontaram
a montagem de uma plácida democracia naquele país - por isso não poderia não
conformar-se à suposta montagem de uma
repressão dita democrática, como seria o tal emprego das balas de borracha, que
na verdade contêm partículas de mental dentro delas, o que revela inominável
crueldade e, a par disso, a possibilidade de cegar o manifestante, como
efetivamente foi o caso no emprego dessas balas desumanas - apresentadas como
sendo "inocentes" (não produziriam qualquer mal...), quando em
verdade representam expressão de crueldade boçal que não conhece qualquer
limite no seu cinismo.
Nas recentes manifestações chilenas, a polícia veio armada com essas balas de borracha, que continham
igualmente fragmentos de metal...
Pelo noticiário, o uso desses soezes instrumentos de atingir pessoas que
se manifestam publica e pacificamente contra um estado de coisas indigno e
repressivo, a que sentido e com qual justificativa se armam policiais com esta
forma de cegar uma pessoa, seja um rapaz,
seja uma moça, a que se maltrata com o
sadismo de instrumentos de indizível boçalidade, indizível, pois ali o
pensamento adverso é castigado com meios que ultrapassam qualquer medida de
negação - estamos diante de monstros, que vão ao ponto de cegar demonstrantes !
É o caso de perguntar: em que terra se vive, em que se abandona o debate
e a preleção, pela indizível alternativa de outro tipo de tortura. Aquela que
ao cegar o manifestante, corta essa existência que se pilha barbaramente
despojada de seu órgão decerto mais importante ? Em que mundo vivemos, em que existem
burocratas ou até monstros que se deleitem com a possibilidade de negar a um ser humano a sua faculdade mais
preciosa ? Nem no medievo se deparou tal
boçal perversidade!
(
Fonte: O Estado de S. Paulo
)
Nenhum comentário:
Postar um comentário