No espaço de 48 horas,
o presidente Donald Trump vem sofrendo derrotas importantes nas urnas,
e no Congresso. Por isso, surge um momento ruim para as suas pretensões: as
pesquisas apontam para uma posição
incômoda diante de seus rivais democratas.
Dentre os reveses, repontam Virginia e
Kentucky, com suas eleições na noite de terça-feira, 5 de novembro. No estado
de Kentucky, o governador republicano Matt Bevin não se reelegeu, perdendo para
o democrata Andy Beshear. Deve-se ter presente a circunstância que Trump, em 2016, vencera com facilidade (mais de trinta
pontos) a sua adversária direta, Hillary Clinton, e que neste novembro Trump se
empenhou pessoalmente na campanha, a ponto de comparecer a um comício de
Bevin, na segunda feira, véspera da eleição.
Por outro lado, na Virgínia, a
terça-feira foi igualmente desastrosa para os republicanos. Por primeira vez,
desde 1993, os democratas controlam a Câmara, Senado e o governo estadual. Mas
a coisa não fica aí: pesa o enfraquecimento do apoio ao GOP nos subúrbios,
reduto da classe média, que em geral era fiel à Administração Trump e aos
republicanos.
Os republicanos convivem mal com um
comparecimento maciço às urnas, e ainda mais com o ressurgimento do voto
feminino democrata. Segundo a cientista política Rachel Bitecofer, da
Christopher Newport University, na Virginia, o comparecimento em massa às
urnas "impulsionou o desmoronamento do Partido Republicano nos
subúrbios", o que se reflete nos resultados de Kentucky e Virginia.
Sem os subúrbios - como se chamam
esses bairros de classe média nos EUA - e seus eleitores, afigura-se mais
distante a reeleição de Trump. As atuais sondagens colocam o presidente 17
pontos percentuais atrás de Joe Biden, o front-runner democrata, a 15 pontos
da senador Elizabeth Warren, e a catorze do senador Bernie Sanders (esses três
são os líderes na disputa democrata).
Como se sabe, o voto para a Casa
Branca é ainda indireto, e este trunfo é defendido com unhas e dentes pelo GOP.
Não é aqui o lugar para debater sobre
quando o voto para presidente nos USA perderá afinal este ranço do século
XVIII, quando o sufrágio indireto era indispensável pelas dificuldades nas
comunicações e nos transportes, nesse país de enormes distâncias.
No presente, a diferença entre o
voto direto e o indireto (este, por ora, o único válido na eleição federal)
deveria ficar no máximo em cinco pontos percentuais. Se a diferença no apoio
popular subir a dez ou mais pontos de diferença, o candidato a presidente já
está livre das distorsões da votação indireta.
Um grande aliado do Partido
Democrata e de seus campeões (Joe Biden,
o ex-vice presidente, está à frente das pesquisas) é o processo de impeachment, possibilitado pela
reconquista da Câmara de Representantes pelos democratas. E novas audiências
públicas, sob Madam Speaker Nancy Pelosi,
estão previstas para a próxima semana.
Outro aspecto que pesa bastante
na avaliação pelo eleitorado são as transcrições dos depoimentos a portas
fechadas, que ora vêm sendo divulgadas pelos deputados democratas. Eles traçam
retrato comprometedor da pressão que a Casa Branca exerceu sobre o governo da
Ucrânia, um país que luta contra a contínua pressão exercida pelo Presidente da
Rússia, Vladimir Putin. Pois Trump não se pejou em exercer pressão sobre o
presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, ao reter a ajuda militar americana
àquele país, que Trump teve a audácia de condicionar à realização de um
inquérito sobre Biden a cargo da justiça ucraniana!
A situação de Trump ainda
piorou com a reviravolta no depoimento do ex-embaixador dos Estados Unidos na Ucrânia, Gordon Sondland. Antes, sob ameaça, ele negara que tivesse havido barganha com
a Ucrânia. Sondland, no entanto, ao deixar de ser
embaixador, voltou atrás, e declarou que de fato houve tentativa de barganha com
a Ucrânia. Não é só o fato de uma reviravolta de ex-subordinado do presidente:
o problema para os republicanos é que Sondland é aliado de Trump, e foi doador
da campanha presidencial de Donald Trump. Isso dificulta sobremaneira o
trabalho de rotulá-lo como um "inimigo" que pretende derrubar o
Presidente americano...
( Fonte: O Estado de S. Paulo )
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