Um dia depois de se declarar presidenta
interina da Bolívia, a senadora Jeanine Añez aproximou-se ontem dos militares.
Além de empossar o novo comando das Forças Armadas, ela passou em revista a
guarnição da polícia e foi ao velório do coronel Heybert Antelo, comandante da
tropa de elite, morto nesta terça-feira.
Em discurso, ela negou tese de golpe de Estado, e anunciou que convocará
eleições gerais "no menor tempo possível".
Entrementes, fora do palácio presidencial
partidários do ex-presidente Evo Morales e forças militares entraram de novo em
choque, o que transformou a área central
de La Paz em uma praça de guerra. Houve confrontos em outras regiões e houve um morto no departamento de Santa Cruz.
Fontes bolivianas consideraram a
decisão da senadora Jeanine de iniciar o próprio governo dando posse ao novo
comando militar como uma demonstração de força. Na cerimônia foram introduzidas
mudanças: o novo Governo voltou a usar a Bíblia e a cruz, banidas durante a
presidência Morales, e excluíu a saudação "Pátria ou morte", usada
pelo antecessor.
Na alocução, a presidente contestou a
tese de golpe de Estado defendida por
Evo e disse que o escopo do governo de transição
é "mudar o regime que fez desaparecer na Bolívia separação entre poderes e
a liberdade de imprensa."
Jeanine anunciou também que vai agir
para que seja anulada a sentença que deu a Evo o direito de concorrer ao quarto
mandato, em 2017, contrariando artigo da Constituição e o resultado de um
referendo realizado também naquele ano. A insistência em forçar um novo mandato é vista como a origem
da crise que levou à renúncia de Evo Morales no domingo.
Ontem, Jeanine voltou a prometer
novas eleições em breve, mas não fixou pra-zo. Entrementes, enquanto
discursava, a polícia e as Forças Armadas lançavam bombas de gás
lacrimogêneo contra manifestantes favoráveis ao ex-presidente, procedentes de
El Alto, região metropolitana de La Paz, e de pequenas aldeias do altiplano,
respondendo à convocação de sindicatos de trabalhadores rurais.
Gritando "Golpista não
passarão!", eles diziam não reconhecer o novo governo e pediam respeito ao
resultado da eleição de vinte de outubro, que segundo a OEA foi fraudada.
Os jornalistas que foram ontem ao
Palácio Quemado para acompanhar o pronunciamento da presidente não puderam
deixar o local por força dos confrontos no lado de fora. Afinal, quando foram
autorizados a sair, ainda se respirava gás lacrimogêneo em grande parte do
centro de La Paz.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo ).
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