quarta-feira, 20 de novembro de 2019

O Claro Enigma do Desmatamento


                         

        Dada a conhecida posição do Governo Jair Bolsonaro, que se diferencia de forma radical de administrações anteriores - e a gravidade do desafio cresce ainda mais diante da dimensão do problema, como o evidenciam as análises hoje publicadas - cabe ter em mente que se não houver medidas radicais para assegurar a preservação  da hiléia amazônica - a grande descoberta do cientista [1] alemão Alexander von Humboldt - a Amazônia, esse colosso mundial, que pela vastidão da selva, tem através dos séculos marcado o Norte do Brasil, em que o nosso país se vai agigantando, a partir das regiões do Sul, do Leste e do Centro-Oeste, marcando a nossa portentosa presença no mapa mundi, tanto através do extenso balcão do Nordeste, enquanto cresce ainda mais através do planalto central que em atenção a secular  pedido  como que se espraia e se alarga na demanda do Setentrião, configurando esse gigante que só mesmo a imensa bacia fluvial da planície amazônica forma o cenário de apropriada magnitude para os grandes, caudalosos rios que são as veias que informam esse magnífico engrandecimento, que vem a encimar a nação gigante que é o Brasil na América do Sul.

           Não é decerto por acaso que deixado por muito quase esquecido, o portentoso continente da Amazônia na sua grandeza como que de repente se dilata para receber em seu largo seio a plêiade de rios e a grande floresta, inigualável no planeta Terra, marca-da pela ênfase do Trópico, vem a constituir, ao sabor dos séculos,  um desses grandes desafios da História, que aí está a confrontar o Povo Brasileiro. E nossa gente, se lançarmos o olhar para os séculos que hoje se escondem nos longos anos da descoberta, do, por vezes penoso, conhecimento tanto de suas riquezas, quanto múltiplas, por vezes perigosas vias, pelas matas cerradas, por seu forte povo aborígine, pelas mil correntes, por vezes plácidas, mas também caudalosas, ricas em lendas, algumas que se acreditam ilusórias, e outras portentosas, mais na própria silente ameaça, que crescem amiúde em desafios inesperados, acalentados por névoas traiçoeiras, que são anátema para o viajor descuidado.

                 Por isso tremeram os auditores do Rei de Espanha, quando de repente lhes surgiu na própria presença o grande explorador luso, Pedro Teixeira, em irrupção de quem vinha de longe,  enquanto os servidores da coroa palestravam sobre as terras hispânicas que, pensando estarem sob a proteção dos grandes montes que os separam daquele verde carregado e recortado por tantos rios caudalosos, não deram o tento devido para a inopinada presença de quem chegava, mostrando no cenho carregado os reptos já porventura vencidos, a par dos incomensuráveis véus que consigo trazia, mêmore de velhas experiências, com que os soberbos vultos de história já pelas lendas bafejada, sóem adentrar ambientes para ele estranhos..
                    Quem visite a África do Norte vê cidades com antigos nomes cercadas por imensos areais. Por lá, dizem, também brotaram densos bosques e mesmo impassáveis matagais. Mas nenhum desses espaços ondulosos, da desbotada cor de que as praias costumam ajaezar-se, nos dá a impressão da vegetação de antes, que cobrira a terra com o agressivo verde com que se deparava o viajor, se lhe atravessasse o caminho.
                      Assim como a melhor seda se rasga com o passar das jornadas, também o verde norte-africano, após perder o viço, se foi como que espraiando, até mesmo esgarçando, e numa complexa ordem das coisas se vai lixiviando e lentamente secando, ao sabor de outros ventos, e sob o laço imprevisto das secas correntes que no entorno de paisagens antes ridentes e hoje maltratadas pelas continuas securas sopram com a força que parece enrolar-se nas áridas paisagens que outrora as chuvas acariciavam com a úmida seiva daquelas fontes que a insânia da gente a princípio roubara o antigo viço, para mais tarde deixar secar.

                       A  hiléia amazônica, a que o Barão von Humboldt daria o nome, ao admirar-lhe a pujança tropical e o verde magnífico, a par de modificar-lhe ainda para melhor a própria existência, consagrada aos sapientes calhamaços de então, hoje, a par de estender-se,  ainda permanece, porém não mais possui aquela primeva  áurea que tanto maravilhara o sábio germânico.
                          A jornada da Amazônia, por acaso desejam o Povo de Pindorama e seus governantes que os áridos espaços da Arábia dela metaforicamente se aproximem, e para esse Paraíso verde - que como todo local de refrigério, aos seus primitivos, quiçá lendários habitantes, haja parecido - em um processo que nos parecerá mais estúpido do que cruel - livre de todo malfeito ?
                              Infelizmente o homem (qualquer que seja o próprio epíteto) tem uma postura muita vez imprudente e ruinosa. Se a História é avessa a apólogos, cabe, por desgraça, termos presente que nos cenários a nossa volta, como livros não oraculares mas de desgraças e de estultícies, é mais do que hora que nos comprometemos a preservar aquilo que, seja metafórica ou realmente,  nos fora dado pela natureza, com a chancela, iluminada ou não, dos gestores então responsáveis.
                               Nesse contexto, me parece oportuno citar o intróito da análise por Ana Lúcia Azevedo de nosso Desmatamento: "O Brasil fez o relógio andar para trás  e regrediu ao tempo em que era um dos vilões globais do Meio Ambiente.  Há onze anos não se via tamanha destruição na Amazônia.  Porém, mais significativo é o fato de ser este ser o maior percentual de aumento em duas décadas, com avanço de 29,5%, atingindo  9.762km2.  Ele mostra que a devastação cresceu à medida que diminuíram a governança e o combate ao crime que bota a floresta abaixo.  Como lembra a diretora de Políticas Públicas do Instituto Socioambiental, Adriana Ramos, 90% do desmatamento é ilegal."

( Fontes:  O Globo, Der Neue Brockhaus (2), Carlos Drummond de Andrade, Arnold Toynbee)


[1] Alexander, barão von Humboldt (Berlin, 1769, idem 1859), cuja principal obra é o Cosmos, em 1845-62), publicada sob o título Voyage aux régions équinoxiales du Nouveau Continent, fait en 1799-1804, em trinta volumes (1811-26)

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