Dada
a conhecida posição do Governo Jair Bolsonaro, que se diferencia de forma
radical de administrações anteriores - e a gravidade do desafio cresce ainda
mais diante da dimensão do problema, como o evidenciam as análises hoje
publicadas - cabe ter em mente que se não houver medidas radicais para
assegurar a preservação da hiléia amazônica - a grande descoberta do cientista [1]
alemão Alexander von Humboldt - a Amazônia, esse colosso mundial, que pela
vastidão da selva, tem através dos séculos marcado o Norte do Brasil, em que o
nosso país se vai agigantando, a partir das regiões do Sul, do Leste e do
Centro-Oeste, marcando a nossa portentosa presença no mapa mundi, tanto através
do extenso balcão do Nordeste, enquanto cresce ainda mais através do planalto
central que em atenção a secular pedido
como que se espraia e se alarga na demanda do Setentrião, configurando
esse gigante que só mesmo a imensa bacia fluvial da planície amazônica forma o
cenário de apropriada magnitude para os grandes, caudalosos rios que são as
veias que informam esse magnífico engrandecimento, que vem a encimar a nação
gigante que é o Brasil na América do Sul.
Não
é decerto por acaso que deixado por muito quase esquecido, o portentoso
continente da Amazônia na sua grandeza como que de repente se dilata para
receber em seu largo seio a plêiade de rios e a grande floresta, inigualável no
planeta Terra, marca-da pela ênfase do Trópico, vem a constituir, ao sabor dos
séculos, um desses grandes desafios da
História, que aí está a confrontar o Povo Brasileiro. E nossa gente, se lançarmos o olhar para os séculos que hoje se escondem nos longos anos da descoberta,
do, por vezes penoso, conhecimento tanto de suas riquezas, quanto múltiplas,
por vezes perigosas vias, pelas matas cerradas, por seu forte povo aborígine,
pelas mil correntes, por vezes plácidas, mas também caudalosas, ricas em
lendas, algumas que se acreditam ilusórias, e outras portentosas, mais na
própria silente ameaça, que crescem amiúde em desafios inesperados, acalentados
por névoas traiçoeiras, que são anátema para o viajor descuidado.
Por isso tremeram os auditores do Rei de Espanha, quando de repente lhes
surgiu na própria presença o grande explorador luso, Pedro Teixeira, em
irrupção de quem vinha de longe,
enquanto os servidores da coroa palestravam sobre as terras hispânicas
que, pensando estarem sob a proteção dos grandes montes que os separam daquele
verde carregado e recortado por tantos rios caudalosos, não deram o tento
devido para a inopinada presença de quem chegava, mostrando no cenho carregado
os reptos já porventura vencidos, a par dos incomensuráveis véus que consigo
trazia, mêmore de velhas experiências, com que os soberbos vultos de história
já pelas lendas bafejada, sóem adentrar ambientes para ele estranhos..
Quem visite a África do Norte
vê cidades com antigos nomes cercadas por imensos areais. Por lá, dizem, também
brotaram densos bosques e mesmo impassáveis matagais. Mas nenhum desses espaços
ondulosos, da desbotada cor de que as praias costumam ajaezar-se, nos dá a
impressão da vegetação de antes, que cobrira a terra com o agressivo verde com
que se deparava o viajor, se lhe atravessasse o caminho.
Assim como a melhor seda se rasga com o passar das jornadas, também o
verde norte-africano, após perder o viço, se foi como que espraiando, até mesmo
esgarçando, e numa complexa ordem das coisas se vai lixiviando e lentamente
secando, ao sabor de outros ventos, e sob o laço imprevisto das secas correntes
que no entorno de paisagens antes ridentes e hoje maltratadas pelas continuas
securas sopram com a força que parece enrolar-se nas áridas paisagens que outrora
as chuvas acariciavam com a úmida seiva daquelas fontes que a insânia da gente
a princípio roubara o antigo viço, para mais tarde deixar secar.
A hiléia
amazônica, a que o Barão von Humboldt daria o nome, ao admirar-lhe a pujança
tropical e o verde magnífico, a par de modificar-lhe ainda para melhor a
própria existência, consagrada aos sapientes calhamaços de então, hoje, a par
de estender-se, ainda permanece, porém
não mais possui aquela primeva áurea que
tanto maravilhara o sábio germânico.
A jornada da
Amazônia, por acaso desejam o Povo de Pindorama e seus governantes que os
áridos espaços da Arábia dela metaforicamente se aproximem, e para esse Paraíso
verde - que como todo local de refrigério, aos seus primitivos, quiçá lendários
habitantes, haja parecido - em um processo que nos parecerá mais estúpido do
que cruel - livre de todo malfeito ?
Infelizmente o
homem (qualquer que seja o próprio epíteto) tem uma postura muita vez
imprudente e ruinosa. Se a História é avessa a apólogos, cabe, por desgraça,
termos presente que nos cenários a nossa volta, como livros não oraculares mas
de desgraças e de estultícies, é mais do que hora que nos comprometemos a
preservar aquilo que, seja metafórica ou realmente, nos fora dado pela natureza, com a chancela,
iluminada ou não, dos gestores então responsáveis.
Nesse contexto, me parece oportuno citar o
intróito da análise por Ana Lúcia Azevedo de nosso Desmatamento: "O Brasil
fez o relógio andar para trás e regrediu
ao tempo em que era um dos vilões globais do Meio Ambiente. Há onze anos não se via tamanha destruição na
Amazônia. Porém, mais significativo é o
fato de ser este ser o maior percentual de aumento em duas décadas, com avanço
de 29,5%, atingindo 9.762km2. Ele mostra que a devastação cresceu à medida
que diminuíram a governança e o combate ao crime que bota a floresta
abaixo. Como lembra a diretora de
Políticas Públicas do Instituto Socioambiental, Adriana Ramos, 90% do
desmatamento é ilegal."
(
Fontes: O Globo, Der Neue Brockhaus (2),
Carlos Drummond de Andrade, Arnold Toynbee)
[1]
Alexander, barão von Humboldt (Berlin, 1769, idem 1859),
cuja principal obra é o Cosmos, em 1845-62), publicada sob o
título Voyage aux régions équinoxiales
du Nouveau Continent, fait en
1799-1804, em trinta volumes (1811-26)
Nenhum comentário:
Postar um comentário