domingo, 24 de novembro de 2019

O Desafio de Hong Kong


                              
         Os jovens candidatos aos postos nos conselhos citadinos colocaram suas candidaturas apoiados no seu empenho traduzido em muitas demonstrações e outros tantos protestos. A sua luta pela liberdade, expressa em inúmeras ocasiões, trouxe para a  população da ilha a possibilidade de um melhor conhecimento desse amplo grupo de jovens que se acha realmente engajado em diuturno trabalho para que a tão ansiada democracia insular não só mostre à população em geral, mas também testemunhe que o seu engajamento pela vivência democrática não é uma ocorrência eleitoral,vale dizer um evento artificial, que sói existir apenas em determinadas ocasiões.

             A Democracia constitui um duplo desafio para a população insular. Trata-se de um trabalho de aprendizado que, na verdade, deve ter muitas facetas. Primeiro, há o empenho diuturno da gente jovem em demonstrar por gestos e atos o seu apego a uma maneira respeitosa de existência, em que as liberdades individuais são observadas e respeitadas.  Trata-se, com efeito,de um grande esforço de que deve participar toda essa gente jovem e, sempre que possível, os menos jovens  num trabalho continuo que é o demonstrar para os demais habitantes que uma existência baseada no respeito mútuo e no reconhecimento dos direitos individuais não é só possível, mas também praticável.

              Nesse contexto, torna-se factível que os moradores mais antigos tenham conhecimento do empenho dos mais jovens em criar condições para que os habitantes dessa antiga colônia inglesa possam  desenvolver suas atividades dentro de mútuo respeito de todos por um ambiente em que seja possível uma atmosfera em que as atividades se norteiem pela interação,  mas igualmente pautadas por um ambiente em que todas possam exercer as respectivas atividades, sob a norma de que o meu direito termina quando começa o direito de outrem. De igual modo, como os grupos de ativistas pro-democracia tem buscado enfatizar, o seu empenho não é nunca contra o interesse geral, mas sim em favor de sua expressão, desde que as atividades sejam para todos complementos naturais das respectivas existências, em atmosferas que se caracterizam por uma sociedade em que as atividades individuais são vistas como complementos naturais do interesse geral.
   
           Podemos agora olhar para trás e  ver as diversas demonstrações, manifestações e associações como momentos e períodos também por vezes mais longos em que, durante a nossa vida em sociedade, buscamos escolher uma linguagem comum não só para evidenciar que é possível realizar atividades que complementem a nossa necessidade de viver em forma que seja conducente a que nossas aspirações possam realizar-se através de sua exposição à sociedade de Hong Kong. A melhor maneira de respeitar-nos é aquela que evidencia que estamos abertos ao diálogo e à troca de opiniões e experiências comuns. Como não somos animais, a força bruta não é o nosso norte, mas sim o trato em sociedade, seja em pequenos grupos, seja em associações um pouco maiores, partindo sempre de gente conhecida, eis que - é bom repetir - não somos animais, mas pessoas abertas ao diálogo, seja nesses pequenos grupos, seja em companhias um pouco maiores, dentro do princípio de que o ser  humano privilegia o entendimento e  os necessários ajustes, para que todos os nossos hábitos encontrem o espelho, se possível da recíproca concordância, mas também, a ocasião de interações marcadas pelo desejo da compreensão mútua, que se não foge nem da força, nem da violência, privilegia essa caracteristica do ser humano, que é procurar sempre pessoas com que possa entender-se, tanto no trabalho, quanto no lazer e na diversão, sem esquecer os nossos interesses maiores, que atendem às aspirações gerais dos núcleos de homens e mulheres, que sob o signo do respeito mútuo e da liberdade, como estrela que brilha - e não lá longe - mas sempre perto de nós, como o exemplo de uma sociedade que pode começar pequena mas que pela sua natural progressão, progressão esta que muita vez vemos refletidas em nossas faces risonhas e nos nossos braços que se estendem na natural manifestação da disposição de integrar essa caminhada que, como seres humanos, costumamos fazer para não só satisfazer os nossos interesses que do individual caminham para o mútuo e o recíproco, até estender-se nesses espetáculos que em geral não tem hora para começar, mas que quando os vemos encetados, quanta alegria deparamos refletida em nossas corações. Se a História é longa, e se os Povos são muitos, nesse nosso aprendizado democrático, não nos esqueçamos nunca de nossos irmãos da antiga Grécia, que por primeira vez tiveram a humildade de experimentar o árduo caminho da democracia. Essa jornada,os antigos helenos a empreenderam com a alegre confiança dos jovens, que tem a companhia da esperança na realização de seus objetivos.

        Não acreditemos naqueles que suspeitam, tem desconfiança da democracia.  Porquê ?  Comecemos esse exercício da forma mais simples e menos pretensiosa. A democracia tem um programa de uma simplicidade envolvente e irresistível. E porquê ? Pela razão muito simples que a democracia vive em cada homem e em cada mulher.É este o seu mágico programa. Como o grego demonstra, ela é a união de duas palavras e mais do que isso, de duas condições que estão ao nosso alcance.  Há alguém acaso que duvide que um ajuntamento de pessoas,que  vivem em um local conhecido e determinado, constituem um Povo ? Ora, se há este primeiro conceito, démas carecemos de juntá-lo a um outro, que é cracia (krás, kratós), vale dizer o governo, ou em palavras mais simples, aqueles que o dirigem.  Pois bem! Em duas palavras simples, formamos um conceito que rápido a todos convence   sobre os seus direitos.  Porquê ?  Pois essa palavra simples, que os gregos inventaram, nos ensina que é possível e factível, que os grupos se auto-dirijam. O que quer dizer isso?  Que a democracia é a razão mais simples da formação de um governo. Ela é nossa, porque nós a formamos, como núcleo que nos permite escolher e encontrar os nossos caminhos,  nossas soluções e tudo o mais que envolva o que de social existe para homens e mulheres! Pensemos nisso, enquanto tratamos de nossos desafios!



( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

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