terça-feira, 26 de novembro de 2019

Hong Kong - ampla vitória na eleição distrital


                  

     Os candidatos pró-democracia obtiveram grande vitória, neste domingo, 24 de novembro, nas eleições distritais, em Hong Kong.  O apoio dado pelos eleitores, e a consequente votação,  fortalece  os protestos pela autonomia do território, aumenta a pressão sobre a governadora Carrie Lam, e manda um recado para os trogloditas de Beijing, que são forçados a engolir a poção amarga da democracia, que é a antítese do poder como é visto pelo sistema opressivo encimado por Xi Jinping.

        A vitória da democracia foi construída apesar da repressão aos protestos, traduzida pela política negativista do enfrentamento à liberdade, em todas as suas formas. Ela igualmente fortalece não apenas as manifestações, senão e sobretudo o resultado delas, expresso pela maioria obtida, com 347 das 452 cadeiras de conselheiros distritais (antes tinham 124). É de notar-se que os aliados do governo da China conquistaram apenas 60 assentos - os 45 conselheiros restantes são independentes. Em outras palavras, a autonomia de Hong Kong está escudada pela maioria absoluta dos conselheiros distritais.
           A relevância dessas eleições mostra que as demonstrações dos ativistas pró-democracia não foram em vão. A população entendeu a sua mensagem e lhes dá a maioria nos conselhos distritais. Toda luta contra a opressão presume persistência: e ela se vê por vez primeira recompensada mais pela resposta da população, que começa a entender que os regimes de força só entendem reações que de algum modo busquem construir as bases de uma reação em que as perspectivas de sucesso não dependam dos ocasionais caprichos de seus opressores.
             Habituados à fase que poderíamos chamar dos estertores do imperialismo britânico, já encanecido e incapaz politicamente de reter o entreposto que outrora arrebatara, na fase de fulgor do intervencionismo ocidental, lançara as condições para a cessão de Hong Kong, como que lançando véus que disfarçassem de alguma forma o pendor autoritário que caracteriza o comunismo chinês. Como todo véu, porém, eles não passam de forma veleitária de emoldurar o verdadeiro significado da cessão do território.
                A democracia, no entanto, esse dom magnífico da civilização helênica, no seu aspecto por vezes frágil aos olhos cínicos dos tiranos, pode representar um perigoso e falso embuste para os déspotas de cada ocasião histórica.
                A sua aparente singeleza tem o viço de irreprimível encanto, porque é expressão do desejo corriqueiro de ter voz no próprio quintal. As democracias têm na sua igualdade o filtro secreto que lhes permite enfrentar os poderosos da vez, porque podem valer-se de todos os mendazes artifícios de fraqueza circunstancial, enquanto sabem esconder, sob o véu de gestos porventura enganosos, intenções que vão muito além dos sorrisos da cortesã, ou da aparente torpeza do camponês.


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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