quarta-feira, 27 de novembro de 2019

O que representa hoje o AI-5 ?


                          
         O que significa a menção de AI - 5 nos dias que correm? Eduardo, o filho do Presidente, se reportara ao potencial recurso a um AI 5, diante de eventual maior dificuldade. Houve a propósito uma reação institucional forte, pela unanimidade das personalidades que se manifestaram de forma negativa. Malgrado a forte reação contrária da sociedade e das instituições, ficou a impressão que um tabu fora quebrado.
              O que até para a direita se tornara impensável, a repetição desse recurso in extremis dá a impressão de que esteja sendo banalizado como um meio não mais de negação da democracia, mas como se fora ameaça que estaria paradoxalmente à disposição do grupo em torno do Presidente Bolsonaro, sendo brandido diante de algum eventual desafio sério, como uma espécie de ultima ratio, que ali estaria para ser aplicada para varrer grandes dificuldades... Em um período de tempo relativamente breve  a sociedade política pode-se dar conta de que o soturno Ato Institucional nº 5, depois de um longo afastamento - 51 anos ! - retorna como uma espécie de bicho papão para o vocabulário político.
               Implícito nas citações feitas por elementos ligados ao inner circle do governo Bolsonaro  - o filho Eduardo e agora o czar da economia, o ministro Paulo Guedes ! -  é que o AI-5 representaria para esse grupo como se fora uma solução extrema que se tiraria do bau das medidas excepcionais, para vencer aos grandes desafios da política.
                  Na realidade, tal seria uma perigosa distorção histórica, pois o AI-5, enquanto assinalava a exacerbação do autoritarismo, tornando-se uma espécie de fetiche para a ala extremista do governo castrense sob o general Costa e Silva, e como toda explosão discricionária levaria a uma radicalização do regime militar, com passivo de muitas injustiças e arbitrariedades. Nesses termos, falar de AI-5 como uma espécie de solução mágica chega a ser prova de certa ingenuidade, porque na verdade o AI-5 nada tem de taumatúrgico, eis que trouxe para a sociedade brasileira uma exacerbação do autoritarismo, o que em geral corresponde aos períodos em que o extremismo mostra pela violência, os excessos  e as inevitáveis injustiças  na fase  terminal de um regime de força, como foi o caso.
                     Nesse ponto, não posso deixar de mencionar a minha experiência no capítulo. Na qualidade de Oficial de Gabinete do então Ministro José de Magalhães Pinto, o recebi quando voltava do Palácio das Laranjeiras, na fatídica tarde em que o então presidente General Arthur da Costa e  Silva  presidira a reunião do ministério, que aprovara o chamado AI-5. A seriedade do Ministro Magalhães Pinto diferia de sua postura habitual. A par das poucas palavras que traduziam para mim uma reação incomum do velho e afável político mineiro, me impressionou a marcada carnação ruborizada de sua face e da própria cabeça calva de Magalhães, de que a gente de Minas já conhecia escanhoada há tempos.                
                        Naquele momento, era inevitável a impressão de que algo de muito grave ocorrera na reunião do gabinete ministerial nas Laranjeiras.

(Fonte: experiência pessoal, enquanto Oficial de Gabinete do então Ministro das Relações Exteriores). 

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