terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Villa e o Voltar às Ruas

                             

        É importante ter de volta à página de Opinião de O Globo artigo de Marco Antonio Villa.
        Se nem com tudo se pode concordar, forçoso será reconhecer que não se deu à tragédia do Espírito Santo toda a importância que deveria ter. Há um elemento egoísta de defesa nessa atitude. Brasília terá realmente ignorado o que estava ocorrendo no Espírito Santo? Não terá ela sensibilizado a elite política?
        É difícil crer que alguém seja tão obtuso que se recuse a tratá-la como se deve. Sob certos aspectos, a crise do Espírito Santo estava muito presente no Rio de Janeiro, sobretudo em torno da chamada Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro). O assediado Governo de Pezão sente a ameaça e trata, ainda que canhestramente, de evitá-la.
         Brasília terá realmente ignorado  o que estava ocorrendo no Espírito Santo ?  Vale dizer, o medo, a fome, os saques, as mortes,  os prejuízos do comércio ? Quando a ameaça à ordem democrática é demasiado grave, e acontece no mesmo país, a gravidade do momento empurra para baixo o sensacionalismo, e a mídia pensa na preservação da sociedade.
          Não se esqueçam que o rádio e a mídia em geral mostrou a atitude corajosa do Governador Paulo Hartung, que deixou - contra parecer médico - a cama de hospital, onde convalescia de recente operação cirúrgica para tentar, através do respectivo nome e prestígio - afinal Hartung é considerado um dos melhores, senão o melhor, Governador estadual - tentar o que fosse possível para salvar o próprio Estado do descalabro.
          Há certos traços, no entanto, do artigo de Marco Antonio Villa com que é forçoso concordar. Se Brasília não ignorou o que estava ocorrendo no Espírito Santo, e nem tudo foi tratado com descaso, e tampouco há dúvidas sobre o protagonismo do Ministro da Defesa, Raul Jungmann, criando condições de segurança militar para viabilizar a volta da sociedade capixaba à normalidade.
            Existe, no entanto, um parágrafo que me parece forte e merecedor da atenção que por aqui não se viu com a ênfase de Villa: "O sofrimento da população foi ignorado. Nenhuma liderança nacional foi dar apoio ao governador Paulo Hartung. (meu o grifo anterior). Contudo, foram a São Paulo e São Bernardo do Campo prestar solidariedade a um criminoso, organizador do maior esquema de desvio de recursos  públicos  da história da humanidade, quando da morte de sua Esposa. Pior, o Planalto decretou três dias de luto oficial.  E os 140 mortos no Espírito Santo? Não mereceram  consideração? Por quê ?
             "O risco de a crise política se transformar em crise social é grande. As finanças estaduais estão exauridas.  Os serviços públicos estão sucateados. O desemprego é alto.  E a falta de rápida e severa punição dos crimes de corrupção acaba desmoralizando  as  instituições e estimulando o desprezo pela democracia."
              "No horizonte, nada indica que a elite política tenha consciência da real situação do país.  A crise não frequenta os salões de Brasília (meu o grifo).  É necessário desatar  o nó górdio. Mais uma vez, este será o papel das ruas. (...) Hoje, a grande tarefa é derrotar politicamente a Praça dos Três Poderes. O Brasil é melhor do que o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. E esta tarefa é da sociedade civil. Não será fácil. Mas é indispensável."


( Fonte:  O Globo, artigo  de Marco Antonio Villa )

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