Leitor, o título do blog não esta aí por acaso. Na verdade,
como a mídia aprendeu às suas próprias custas, a mentira, a falsidade
consciente virou a arma política da
Administração Trump.
O 45º presidente não mente por acaso.
Ele utiliza a inverdade como a sua arma predileta. Pelo que demonstra, é mais um
chefe de estado para quem os fins justificam os meios.
Há dois artigos muito interessantes em
dois números da revista New Yorker. Reporto-me aos datados de 23 de janeiro e 6
de fevereiro de 2017.
O anterior, de Emily Nussbaum,
desenvolve a tese como "as piadas venceram a eleição", e o posterior
é a propósito da visão da Administração Trump acerca das "guerras de
informação".
Em outras palavras, o presidente
Donald Trump funciona como porta-voz - partindo do púlpito que Theodore
Roosevelt - um longínquo predecessor deste presidente - tanto peso atribuíu
pelo simples fato de transmitir a Verdade segundo a Casa Branca.
Fundado nesse crédito que o público
atribui à sede do Poder presidencial, o objeto desta nova Administração é de
aproveitar o Zeitgeist (o espírito do
tempo), e conforme o suposto respeito que é devido à palavra do Chefe da Nação,
o escopo é o seguinte: como se fora uma conta da veracidade irrefutável, a
Administração Trump, a exemplo de um correntista enlouquecido, decide retirar
até o último crédito com aparência de verdade quanto aos procedimentos da
Presidência. Fundado na crença popular de que o Chefe da Nação é depositário
não só da verdade, mas também da confiança que lhe é outorgada pelo Povo, e sem
qualquer escrúpulo ele parte para instrumentalizá-la da maneira mais cínica e cara de pau que imaginar-se possa.
Estamos, como para alguém dotado de
um mínimo de bom senso, de procedimento como se fora mercadoria com prazo de
vencimento extremamente curto, eis que não é crível que o Presidente vire simulacro do cavaleiro da mentira no folclore
alemão, o Barão de Münchhausen, e que tudo fique por isso mesmo.
Nesse contexto, o caráter
mitômano do novo presidente fica ilustrado, conforme notícia do Times: em
reunião com líderes do Congresso, Trump contou estória acerca da fraude na
votação, que ele supostamente ouvira de
Bernhard Langer, o golfista alemão.
Langer não tardou em circular declaração em que repudia a estória de
Trump.
Durante a semana, o Presidente
repetiu a calúnia de que perdera no voto popular somente porque milhões de
"ilegais" haviam votado por Hillary Clinton. Isso partirá da postura
patológica de quem não possa admitir qualquer derrota, mas também serve aos
esforços republicanos de criar dificuldades para os votos de 'latinos' e
afro-americanos, através dos truques do GOP
de exigir identidade com foto e outras leis estaduais voltadas para obstruir o
sufrágio das minorias, que em geral - e por razões conhecidas - sói ser
favorável a candidatos democratas.
Como
a mitomania virou característica desse presidente, a mídia estuda como lidar
com tal falsidade. Muitos jornais e
redes de notícia não trepidam em desmascarar as asserções inverídicas, que
partem tanto do Chefão, o Presidente, quanto de seu pessoal.
Sem falar no desrespeito ao
público, tampouco se pode deixar de mencionar a influência do nazi-fascismo
cuja obviedade se nos mostra como no riso boçal de um desdentado. Se a postura
de Mr Trump já tinha algo de mussolineano, com a sua empáfia profissional e os
uniformes - que, por enquanto, Mr Trump se abstém de vestir - não se pode
tampouco esquecer o dictum do
Ministro da Propaganda do Reich, que
a mentira mil vezes repetida ganha foros de verdade.
Também conforme ao quadro,
como assinala o artigo do New Yorker, estão os agressivos ataques de
Trump contra a mídia e a imprensa. É
sempre a característica desse tipo de regime da direita (e mesmo da esquerda,
como se observou no Brasil nas diatribes do lulismo contra as
"mentiras" e distorções da imprensa) a tentativa de pôr os órgãos de
informação como se fossem um instrumento desestabilizador do programa e da
visão do governo.
Nesse contexto, o próprio Trump prevê esse embate como
fenômeno permanente, a que a Administração procuraria energizar através de encontros televisivos e até de
tweets diários. O escopo seria transformá-lo numa espécie de Mussolini-light.
Tal embate tem de
ser entendido à luz de ciclópica luta entre o campeão do Povo - no caso, o
herói Trump - e a turba da oposição e da mentira, que carece de ser combatida
por todos os meios.
Dada a aparente
ignorância de Mr Donald Trump quanto ao fim desta estória, seria interessante
que os seus gurus como Stephen Bannon informem Sua Excelência sobre os azares
potenciais desta estratégia.
( Fontes: The New Yorker, 6
de fevereiro de 2017, The New York Times)
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