quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Não brinquem com a Lava Jato, esperança nacional

           
     Por que será que a Lava-Jato tem sobrevivido a tantas peripécias, a tantas ameaças de ser transformada em mais outra decepção nacional?
     Pela sua excepcional qualidade. E não é à toa que este adjetivo tem sido escolhido.  Porque a norma nacional é a do compadrismo, do esquecimento proposital ou até a admissão de baderna e  bagunça, como se vê na foto hoje de O Globo, com  manifestante o rosto só meio-cerrado e mais um ônibus depredado, como se se possa transformar em tocha  veículo que serve ao transporte público. Será que a destruição de coletivo é o mesmo que acender um fósforo? Dizem que em terra que tudo se perdoa, inexiste a lei ou tudo é feito - e isso vem, minha gente, desde o Império - como coisa para inglês ver. Em outras palavras, efeito-demonstração, algo desimportante. Seremos uma terra sem lei? Muitos servidores públicos e mais ainda, aposentados, têm pago caro a roubalheira estadual, para não falar das opções equivocadas no que tange ao petróleo. Quanto à desoneração concedida às empresas, por mais lesiva que tenha sido ao Estado, ficará por isso mesmo?
      Não é à toa que o nome do Juiz Sérgio Moro constitui o primeiro nome indicado na lista tríplice que a associação de juízes enviou ao Supremo, com indicações para a vaga de Teori Zavascki.
      Enquanto isso, a direção do Supremo Tribunal Federal lava as mãos e se omite na indicação de nome para assumir a cadeira vazia do Ministro Teori Zavascki, recentemente falecido em desastre de aviação.
      Brincar com a sorte não me parece procedimento aconselhável na conjuntura. Se os gregos antigos escolhiam os nomes para determinados  postos públicos com base na deusa Fortuna era para evitar o compadrio e a corrupção.
        Entregar a Lava-Jato ao capricho da Sorte equivale, no entanto, a deixar ao deus-dará a esperança de redenção de um país. O espírito da Lava-Jato  - que torna o Juiz Moro a indicação natural para o Supremo,  apesar de estar ainda no quase começo de sua carreira judiciária, não acontece - e nem baixa - decerto por acaso.
         Mas não afrontemos a sorte em demasia. Tenhamos coragem em assumir a indicação apropriada, e não adotemos a cômoda saída de deixar neste caso específico aos caprichos da fortuna cega uma decisão que concerne não só ao Judiciário, mas ao sentido de justiça que cada um tem consigo. Aqui não é hora de usar vendas, eis que carecemos de olhos bem abertos.
         Em outras palavras,  não brinquemos com a esperança nacional.  Na condição do Brasil, e da necessidade de que se preserve a Lava-Jato, enquanto defensora da Justiça e paladina contra a corrupção,   não vamos vendar os olhos. Afrontemos a realidade e escolhamos quem está preparado para tanto.
         Não vamos deixar à sorte indicação que deve nascer da convicção de um colégio de gente ilustre que tem todos os títulos para estar interessada em preservar o futuro do Brasil.


( Fonte:  O  Globo )

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