Por que será que a Lava-Jato
tem sobrevivido a tantas peripécias, a tantas ameaças de ser transformada em
mais outra decepção nacional?
Pela sua excepcional qualidade. E não é à toa que este adjetivo tem sido escolhido. Porque a norma nacional é a do compadrismo,
do esquecimento proposital ou até a admissão de baderna e bagunça, como se
vê na foto hoje de O Globo, com manifestante o rosto só meio-cerrado e mais um ônibus depredado, como se se
possa transformar em tocha veículo que serve ao transporte público. Será que
a destruição de coletivo é o mesmo que acender um fósforo? Dizem que em terra
que tudo se perdoa, inexiste a lei ou tudo é feito - e isso vem, minha gente, desde
o Império - como coisa para inglês ver.
Em outras palavras, efeito-demonstração, algo desimportante. Seremos uma terra
sem lei? Muitos servidores públicos e mais ainda, aposentados, têm pago caro a
roubalheira estadual, para não falar das opções equivocadas no que tange ao
petróleo. Quanto à desoneração concedida às empresas, por mais lesiva que tenha
sido ao Estado, ficará por isso mesmo?
Não é à toa que
o nome do Juiz Sérgio Moro constitui
o primeiro nome indicado na lista tríplice que a associação de juízes enviou ao
Supremo, com indicações para a vaga de Teori Zavascki.
Enquanto isso, a
direção do Supremo Tribunal Federal lava as mãos e se omite na indicação de
nome para assumir a cadeira vazia do Ministro Teori Zavascki, recentemente
falecido em desastre de aviação.
Brincar com a
sorte não me parece procedimento aconselhável na conjuntura. Se os gregos
antigos escolhiam os nomes para determinados postos públicos com base na deusa Fortuna era
para evitar o compadrio e a corrupção.
Entregar a
Lava-Jato ao capricho da Sorte equivale, no entanto, a deixar ao deus-dará a
esperança de redenção de um país. O espírito da Lava-Jato - que torna o Juiz Moro a indicação natural
para o Supremo, apesar de estar ainda no
quase começo de sua carreira judiciária, não acontece - e nem baixa - decerto
por acaso.
Mas não
afrontemos a sorte em demasia. Tenhamos coragem em assumir a indicação
apropriada, e não adotemos a cômoda saída de deixar neste caso específico aos
caprichos da fortuna cega uma decisão que concerne não só ao Judiciário, mas ao
sentido de justiça que cada um tem consigo. Aqui não é hora de usar vendas, eis
que carecemos de olhos bem abertos.
Em outras
palavras, não brinquemos com a esperança
nacional. Na condição do Brasil, e da
necessidade de que se preserve a Lava-Jato, enquanto defensora da Justiça e
paladina contra a corrupção, não vamos
vendar os olhos. Afrontemos a realidade e escolhamos quem está preparado para
tanto.
Não vamos
deixar à sorte indicação que deve nascer da convicção de um colégio de gente ilustre
que tem todos os títulos para estar interessada em preservar o futuro do
Brasil.
( Fonte: O
Globo )
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