Há um braço
auxiliar para a mentira como arma política.
Emily Nussbaum consagra no New
Yorker de 23 de janeiro um artigo que tentarei sumarizar abaixo sobre como
atua a piada, posta a serviço da visão política fascistóide de Donald Trump.
Nesse sentido, muito se
escreveu acerca do crescimento no espaço cibernético de notícias falsas
(invenções que deslocam os fatos). Assim, através da net passar-se como notícia que Hillary teria
instalado uma rede para a venda de droga disfarçada em cadeia comercial.
Por
outro lado, muita análise de Trump como estrela da realidade (i.e., um falso
autêntico).
Segundo Nussbaum, no passado a comédia poderia ser ou cruel, ou
estúpida, mas tomaria sempre a posição do rebelde. Os nazistas eram despojados
de qualquer humor. Assim, a piada seria
um modo superior de relatar a verdade.
Mas em 2016 as coisas haviam mudado.
A roda girava noutro sentido. Agora, quem segura o microfone é o latagão
neofascista, que dispõe de um exército de criadores de piadas-sujas que o
ajudam no caminho do poder.
O emprego do humor com Trump muda na campanha de 2016. Ele passa a ser o
cômico do insulto, a quem preocupam os percentuais de apoio, e que consegue
calar no grito os que tencionam bagunçar a sua apresentação.
Como todo cômico de estádio esportivo, a marca distintiva de Trump foi o
controle. Ele parecia meio solto à
primeira vista, o louco que pode dizer não importa o quê, mas os seus monólogos
improvisados estavam sempre sendo mexidos, enquanto ele testava frases de
impacto: prendam ela! (quer dizer Hillary), levantem uma parede!
O seu escopo era mexer. arrancar reações da multidão. As suas piadas são
instrumentalizadas tanto no tuíter, quanto na tevê para expressar o indizível,
sem que nada lhe aconteça.
Segundo Nussbaum, numa piada de campanha, Trump mistura dois fatos,
ambos potencialmente nocivos para a adversária democrata: "Eu espero que
você Rússia possa encontrar os trinta mil e-mails
que estão faltando". Circulava já o
rumor de que os hackers russos tinham
invadido o arquivo digital do Diretório do Partido Democrata. Por outro lado,
Hillary era objeto de interminável busca nos e-mails que ela arquivara no seu servidor particular do
computador, quando chefiara o
Departamento de Estado.
O amálgama desses dois fatos produzia uma mentira, que parecia engraçada
- e que prejudicava a rival Hillary.
No entanto, uma vez ganha a
eleição, as prioridades mudam para Trump.
Nas conferências de imprensa, não há mais lugar para piadas. Assim,
quando Jim Acosta, da CNN, tentou
inserir pergunta sobre a Rússia, Trump, num repente zangado, grita de volta "Notícias falsas!" - e o novel
Secretário de Imprensa, Sean Spicer, diz para Acosta que se ele fizer algo
parecido no futuro, será posto para fora da sala.
Agora os interesses mudaram,
e não há mais tempo para piadas.
(
Fonte: The New Yorker, Como as piadas
venceram a eleição, 23 de
janeiro de 2017 )
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