Talvez a principal reportagem do New York Times de hoje, possa ser
resumida pelo titulo acima, se acrescentarmos que as incertezas vêm de cima.
Não se pode excluir que, em toda nova
Administração, prevaleça essa atmosfera, se tivermos presente a circunstância de
que os membros são novos e, por conseguinte, inexperientes diante dos desafios
colocados para o novo time da segurança.
Se levarmos em consideração a situação
do novo assessor de segurança nacional, Michael T. Flynn, o quadro se torna
ainda mais inquietante.
Pois o Secretário de Segurança
Nacional - que, na prática, dirige o Conselho - acha-se em maus lençóis. Flynn sente-se
acuado, porque foi inteirado que está sob investigação. O que os inspetores desejam saber é o que
exatamente ele disse para o Embaixador
russo acerca do levantamento das sanções impostas nos últimos dias da
Administração Obama, e se ele transmitira para o Vice-Presidente Mike Pence uma
visão propositalmente distorcida dessas conversações. Escusado dizer que está com
a cabeça a prêmio.
Dentro do quadro de que Mr Trump
esteja desligado das ações de Flynn com a Rússia - esta atitude de aparente
desinteresse é na verdade uma defesa comum de Chefe de Estado para preservar-se
- na realidade, Trump está muito ligado, e monitora a reação às conversações de
Mr Flynn. Daí a atitude preocupada do Assessor de Segurança Nacional.
Como costuma acontecer em situações
como esta, quando alguém de relevância está com a cabeça a prêmio, aqueles assessores com mais antiguidade evitam
comprometer-se. No programa de tevê da NBC "Encontro com a imprensa",
Stephen Miller, o Assessor sênior de Política da Casa Branca, preferiu
fechar-se em copas acerca do futuro de Mr Flynn. Assim, para ele, desinformar o Vice nas
comunicações com a Federação Russa é "matéria sensível". A par disso,
perguntado se Trump ainda tem confiança em Flynn, Miller respondeu que isso é
pergunta para o Presidente.
Nesses postos políticos de confiança
presidencial, ainda mais em Administração liderada por alguém que tem pouca ou
nenhuma experiência em lidar com assuntos de estado, deve supor-se que aí reine
uma atmosfera florentina em termos de relações pessoais. Excluídos aqueles que
têm o futuro dependente da sorte de um dos figurões do Conselho, e que,
portanto, possuem todo o interesse de 'fechar' com aquele que cuida também de
sua própria manutenção no posto, os demais tratam de preservar-se dentro do velho
esquema de evitar riscos e ficar longe de confusões. Nesse contexto, não é
difícil imaginar como seja essa ambiência hobbesiana,
em que grupos e subgrupos cuidam de si e da preservação de quem lhes garante o
posto.
A contraparte do assessor de
segurança nacional, a senhora K.T. McFarland, a vice-assessora de segurança
nacional, deu entrevista telefônica ao Times.
Ela admitiu que as reuniões anteriores do Conselho foram mais rápidas, mais
concisas e mais determinantes do que no passado, mas ela acabou reconhecendo
que o pessoal de carreira estava tenso."Isso não é só uma nova Administração, mas também
outro partido. Além disso Donald Trump foi eleito por gente que queria mudar o
status quo".
A senhora McFarland é
veterana da Administração Reagan, e que trabalhou para a Fox News (concorrente da CNN, mas de direita). Ao contrário de seus
companheiros, ela parece não ter muitas papas na língua: "Eu acho que
seria um erro se nós não ficássemos
consternados acerca das mudanças - a
maior parte do Gabinete não tem sequer
experiência anterior de governo."
Como seria previsível, é
garrafal a diferença de approach em
termos de informação. Enquanto o professor de Harvard Barack Obama estipulava que os papéis de posição podiam oscilar
entre três e seis páginas, espaço um, os membros do staff
do conselho são ora aconselhados a fazerem papéis de uma só página, com muitos
gráficos e mapas.
A circulação dos papéis também
carece de ser mais organizada. Por enquanto, ela é errática. Alta autoridade do
Pentágono teve conhecimento de projeto de ordem executiva (decreto) acerca do
tratamento a ser dado aos prisioneiros somente através de rumores oficiosos e
vazamentos da mídia. Por isso, ele telefonou para a Casa Branca a fim de saber
se aquilo procedia, e que ele tinha preocupações a respeito, mas não sabia se
estava autorizado a transmiti-las.
Não surpreende que Administração
nova, ainda mais com as características de Donald Trump, coloque os problemas
supramencionados.
O fato de que Mr Flynn - que é
responsável pelo fluxo regular dos documentos do Conselho - não seja exatamente
a esquadra inglesa, explica porque muitos desses documentos não sejam
circulados para quem deva ser informado.
Também a situação de Mr Flynn
mostra que enfrenta mar encapelado. O acesso ilimitado que tinha junto a Mr
Trump durante a campanha agora é motivo de insegurança, porque tal acesso vem
diminuindo. Por outro lado, Mr Flynn sente cada vez mais próxima a presença de Stephen
K. Bannon - que preside um Conselho 'secreto' , criado adrede pelo
supremo estratega de Mr Trump. Bannon foi também convidado a participar de
reuniões do comitê dos principais do Conselho há duas semanas atrás.
Por fim, dadas as confusões de
Trump, tudo isso - nomes, temas e funções - pode mudar.
E como dizia meu antigo Chefe, o Ministro Azeredo da Silveira, é hora de
apertar o cinto, porque vamos entrar em zona de turbulência...
( Fontes: The New York
Times, Thomas Hobbes (1588-1679), Enciclopédia Delta-Larousse)
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