Em outros tempos, quando série de
calamidades - ou até mesmo uma, mas grande - caísse sobre um povo, não
estranharia que jeremiadas se ouvissem, como se se questionasse a divindade se
tanto mal seria merecido.
O súbito, inesperado
advento de Mr Donald Trump há, decerto, de provocar tal desconforto, que vem
aliado à difusa sensação de um mal a parecer tão imerecido quanto gratuito.
Quando os números sobem aos milhões -
e são tais levas de infelizes trabalhadores que o novo Presidente americano
deseja castigar, despejando no vizinho México - esse mal, que a nada de útil serve, decerto aumenta a raiva desta gente, que como indocumentada mais servia por
suados dólares a hipocrisia da classe dominante.
Por
que é a pergunta, se eles trabalham
duro e satisfazem a necessidade de uma burguesia, que lhes paga, não por
caridade, mas pela pesada faina do cotidiano ?
E mais encontre fraqueza, mais ele se
lança, nessa soez campanha, em que as vítimas tremem e os algozes estalam as
línguas, como os cães de guarda a refocilar-se
na areia grossa do chão em que pensam lançar tantos infelizes.
na areia grossa do chão em que pensam lançar tantos infelizes.
Que não se engane o tirano de turno,
porque a amargura, mesmo secular, se estirada e atravessada, pode transformar
esquecidas, quase apagadas cicatrizes, em novas, incômodas feridas, que lembram
o tripúdio das injustiças antigas, violentas, escancaradas mesmo, que o passado
condicionou a sofrer no silêncio dos fracos.
Um trabalhador, mesmo refugiado na volúvel
sombra da clandestinidade, há de compreender o desconforto do patrão, que lhe
paga com a dura moeda dos salários do medo. Mas como poderá entender a gratuita
maldade do demagogo, que toca a sua lira, enquanto põe fogo a relações de
trabalho duramente forjadas por mútuas necessidades?
São estranhas figuras, que, em geral, aparecem nas vascas da decadência, a anunciarem males ainda mais graves do que
aqueles por tais governantes perpetrados.
( Fontes: The New York Times, O Globo, Folha de S. Paulo, J.-P. Sartre )
( Fontes: The New York Times, O Globo, Folha de S. Paulo, J.-P. Sartre )
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