quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Envelhece o Tirano ?

                                 

        Para certas pessoas, que gostariam de preservar a juventude no poder, a escolha pode ser dura, mas, sendo como é, impiedosa, tem de ser aceita de qualquer jeito.
        Vejam, ilustres passageiros desse etéreo bonde, a cruel fotografia publicada com a reportagem sobre a ação do grande gospodin Vladimir V. Putin, czar de todas as Rússias. O tal instantâneo, tomado com a desídia de ousado e malquerente profissional, mostra os efeitos da idade sobre a louçania facial do magno Senhor, que já mostra ser o perene novo czar de todas as Rússias.

         Pois ao amigo Donald John Trump já surge outro problema, relacionado com a mendacidade da Federação Russa. Secreta, mas não de forma surpreendente, a Rússia pôs em serviço ativo novo míssil de cruzeiro que, segundo autoridades americanas, viola Tratado de controle de armas. Com efeito, a Administração Obama determinara que, em 2014 este míssil já fora testado, em violação de Tratado de 1987 (que bane a utilização de mísseis, instalados em bases terrestres e de alcance intermediário, tanto russos, quanto americanos).
            A Administração Obama tentara persuadir a Rússia a corrigir a violação, enquanto o míssil estivesse ainda em fase de teste.  Não acreditando na firmeza de Washington, Moscou foi avante com o sistema, e o resultado é hoje ter  um sistema plenamente operacional.
            Para as autoridades americanas - que chamaram o míssil de cruzeiro SSC-X-8 - recentemente o  X foi retirado, pois a inteligência estadunidense considera já operacional o referido míssil.

            A falta de confiabilidade do Kremlin é fator não-negligenciável em qualquer negociação.  Além de apresentar ulterior desafio para o Pentágono - afinal a Rússia dispõe de arma da qual o Ocidente, de boa fé, decidira privar-se - a posição estadunidense representa um enigma.
           As relações EUA-Rússia (na verdade, URSS) estavam em melhor situação, como assinala o New York Times, quando da assinatura, em dezembro de 1987, do Tratado INF (Tratado de Forças Nucleares de alcance intermediário) pelos presidentes Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev. Foram destruídos, então,  2.692 mísseis (notadamente Pershing americano e SS-20 soviético).

             Não demorou muito que os russos se arrependessem da decisão, máxime em função da ameaça chinesa. 
             A situação perdurou nesses termos, com os EUA satisfeitos, e a Federação Russa, insatisfeita. Em função disso, e dos temores quanto aos vizinhos, sob a liderança de Putin recomeçariam os testes de míssil de cruzeiro a partir de 2008. Por sua vez, Rose Gottemoeller, a maior autoridade em termos de controle de armas - e que no corrente é a vice-secretária geral da OTAN - levantou o problema da violação com os russos em 2013.

               Nessa primeira reunião de controle em treze anos - participaram EUA e Rússia, além de três países do chamado "estrangeiro próximo" da Rússia, i.e.,  Bielorrússia, Kazaquistão e Ucrânia.  Foi um diálogo de surdos, em que os russos alegaram "violações americanas", o que não passava de um expediente russo, e foram definidas como espúrias pelos americanos.
              Diante da habitual má-fé do Kremlin, e dado o interesse do Ocidente em preservar o tratado, se conveio em neutralizar o lance russo com defesas missilísticas na Europa, acompanhadas de mísseis nucleares baseados no ar e no mar. Por sua vez, Franklin C. Miller, veterano do Pentágono que na Administração Bush servira no Conselho de Segurança Nacional, teoriza que os russos vêem  o míssil de cruzeiro como meio de alargar a cobertura de alvos na Europa e na China, o que liberaria as suas forças estratégicas  para concentrar-se em objetivos nos Estados Unidos. É por isso, disse ele, que os militares russos julgam este sistema muito importante, na verdade relevante o bastante para violar o Tratado.

                 Há várias sugestões de resposta ao desafio russo.  Segundo Jon Wolfsthal - que serviu no Conselho de Segurança durante a administração Obama -  os  Estados Unidos, seus aliados da OTAN, Japão e Coréia do Sul deveriam conjugar-se para pôr pressão na Rússia, com vistas a corrigir a violação. Por ora, a nova Administração Trump está no estágio de rever a política nuclear, e, por enquanto, nada adiantou sobre seus eventuais planos.



( Fonte:  The New York Times )

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