Para certas pessoas, que gostariam de
preservar a juventude no poder, a escolha pode ser dura, mas, sendo como é,
impiedosa, tem de ser aceita de qualquer jeito.
Vejam, ilustres passageiros desse
etéreo bonde, a cruel fotografia publicada com a reportagem sobre a ação do
grande gospodin Vladimir V. Putin,
czar de todas as Rússias. O tal instantâneo, tomado com a desídia de ousado e
malquerente profissional, mostra os efeitos da idade sobre a louçania facial do
magno Senhor, que já mostra ser o perene novo czar de todas as Rússias.
Pois ao amigo Donald John Trump já
surge outro problema, relacionado com a mendacidade da Federação Russa. Secreta,
mas não de forma surpreendente, a Rússia pôs em serviço ativo novo míssil de
cruzeiro que, segundo autoridades americanas, viola Tratado de controle de
armas. Com efeito, a Administração Obama determinara que, em 2014 este míssil já
fora testado, em violação de Tratado de 1987 (que bane a utilização de mísseis,
instalados em bases terrestres e de alcance intermediário, tanto russos, quanto
americanos).
A Administração Obama tentara
persuadir a Rússia a corrigir a violação, enquanto o míssil estivesse ainda em
fase de teste. Não acreditando na
firmeza de Washington, Moscou foi avante com o sistema, e o resultado é hoje ter
um sistema plenamente operacional.
Para as autoridades americanas -
que chamaram o míssil de cruzeiro SSC-X-8 - recentemente o X foi
retirado, pois a inteligência estadunidense considera já operacional o referido
míssil.
A falta de confiabilidade do Kremlin é fator não-negligenciável em
qualquer negociação. Além de apresentar ulterior
desafio para o Pentágono - afinal a Rússia dispõe de arma da qual o Ocidente,
de boa fé, decidira privar-se - a posição estadunidense representa um enigma.
As relações EUA-Rússia (na verdade,
URSS) estavam em melhor situação, como assinala o New York Times, quando da assinatura, em dezembro de 1987, do
Tratado INF (Tratado de Forças Nucleares de alcance intermediário) pelos
presidentes Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev. Foram destruídos, então, 2.692 mísseis (notadamente Pershing americano
e SS-20 soviético).
Não demorou muito que os russos se
arrependessem da decisão, máxime em função da ameaça chinesa.
A situação perdurou nesses termos,
com os EUA satisfeitos, e a Federação Russa, insatisfeita. Em função disso, e
dos temores quanto aos vizinhos, sob a liderança de Putin recomeçariam os
testes de míssil de cruzeiro a partir de 2008. Por sua vez, Rose Gottemoeller,
a maior autoridade em termos de controle de armas - e que no corrente é a
vice-secretária geral da OTAN - levantou o problema da violação com os russos
em 2013.
Nessa primeira reunião de
controle em treze anos - participaram EUA e Rússia, além de três países do
chamado "estrangeiro próximo" da Rússia, i.e., Bielorrússia,
Kazaquistão e Ucrânia. Foi um diálogo de
surdos, em que os russos alegaram "violações americanas", o que não
passava de um expediente russo, e foram definidas como espúrias pelos americanos.
Diante da habitual má-fé do Kremlin, e dado o interesse do Ocidente
em preservar o tratado, se conveio em neutralizar o lance russo com defesas
missilísticas na Europa, acompanhadas de mísseis nucleares baseados no ar e no
mar. Por sua vez, Franklin C. Miller, veterano do Pentágono que na Administração
Bush servira no Conselho de Segurança Nacional, teoriza que os russos vêem o míssil de cruzeiro como meio de alargar a
cobertura de alvos na Europa e na China, o que liberaria as suas forças
estratégicas para concentrar-se em objetivos
nos Estados Unidos. É por isso, disse ele, que os militares russos julgam este
sistema muito importante, na verdade relevante o bastante para violar o
Tratado.
Há várias sugestões de
resposta ao desafio russo. Segundo Jon
Wolfsthal - que serviu no Conselho de Segurança durante a administração Obama - os
Estados Unidos, seus aliados da OTAN, Japão e Coréia do Sul deveriam
conjugar-se para pôr pressão na Rússia, com vistas a corrigir a violação. Por
ora, a nova Administração Trump está no estágio de rever a política nuclear, e,
por enquanto, nada adiantou sobre seus eventuais planos.
( Fonte: The New York Times )
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