Será difícil
rememorar política similar, que mais parece de alguém que não viveu a crise de 2008, aquela assinalada pela falência do banco
Lehman Brothers .
Não é aqui o lugar de reescrever a
crise de 2008. Reza a sapiência popular que quem desconhece o passado, está
condenado a repeti-lo. Em outro lugar, talvez mais oportuno, pretendo ocupar-me
de o que significa a vitória de Donald J. Trump.
Quanto ao sentido desse triunfo da
direita, não creio seja necessário discorrer longamente sobre os antecedentes
malditos da reviravolta que, em outras coisas, não é filha única mas fruto de série
de circunstâncias:
(a) a ajuda altamente suspeita que foi
dada a Trump pelo diretor do FBI, cujo nome está destinado a ser gravado no
mármore ático como um dos grandes subversores de eleição presidencial: no
período - que é reservado pelos votantes ao chamado voto
antecipado (feito para ganhar tempo e evitar atrasos - suspeitos ou não -
nas filas de sufragantes). Pois foi justamente nesta fase decisiva e
determinante da eleição, que Mr James Comey, diretor do FBI
mandou a segunda carta ao Congresso não excluíndo a possibilidade de que, na
investigação do tristemente famoso terminal privado do computador de Mrs
Clinton, secretária de Estado, e no de sua Secretária Huma Abedin (e também de
seu ex-marido ), pudessem ser encontradas indicações quanto ao comportamento
suspeito da sra. Secretária de Estado. Claro que nada havia contra a Senhora
Clinton, mas tal suspeita - irresponsavelmente criada por Mr James Comey,
ficaria não só para os anais desta triste eleição, mas ao jogar suspicácias
sobre a candidata democrata, entrou em cena a injunção de D. Bartolo a D.
Basílio, na peça O Barbeiro de Sevilha, de Beaumarchais, a qual continua
através dos séculos: Calomniez, calomniez
toujours - il en restera toujours
quelque chose ! (caluniai, caluniai sempre, alguma coisa
sempre fica!);
(b) debalde se tentará desmerecer da
candidata Hillary Clinton. Ninguém pode ser inculpado da fraude alheia (hacking russo),assim como das
recontagens feitas pelo Partido Democrata em três estados da união, que não
foram movidas por empenho e determinação.
(c) se há emenda que clama através dos
séculos para ser votada e aprovada, será eliminar da Constituição setecentesca o
anacronismo que é a votação por delegados, em função das circunscrições
eleitorais retiradas da Constituição mais velha das Américas, do século XVIII.
Que se mantenha tal relíquia do tempo em que não havia comunicações (sequer
ferrovias!) rápidas, e que foi então a única maneira de manter unida esta
construção maravilhosa da democracia setecentesca. Mas lamento dizer que o seu tempo já chegou e
há muito. A eleição de Bush jr. (o que
criaria pela loucura dos neoconservadores - que o dominavam - a ilusão da
democracia no Meio Oriente) foi outro escândalo, pois teve maioria no voto
popular Albert Gore Jr. E agora a
maioria na votação popular de três
milhões de votos por Hillary Clinton que o clown (ou ferrabrás) Donald John Trump quis fazer passar por
sufrágios abusivos de indocumentados e de imigrantes ilegais...
Tudo o que está ocorrendo agora - e
que tem sido objeto de meus blogs
(que vejo com muita honra e satisfação crescer na leitura dos meus companheiros
da web) é a consequência do que a
eleição - e a maneira com que se realizou - urdia esse alastor (espírito vingativo ou demônio).Aliás, tal alastor podia também ser imaginado pelos antigos helenos como recobrindo regiões
inteiras, a exemplo das emanações perniciosas.
Se herdamos da Grécia antiga a
democracia - e por mais que se invective contra esse produto da lógica humana
(como não privilegiá-la na formação dos
governos), vi com inquietude e mesmo consternação que o Partido Democrata não se
empenhou a fundo nas recontagens de votos dos estados de Michigan, Wisconsin e Pennsylvania.
Não sei quais propósitos foram o dos prepostos do Partido Democrata, porque em
tudo na vida é necessário ânimo, persistência e convicção. Quem não os tem,
melhor afastar-se da política.
Por falar em emanações maléficas.
Não sei qual é o propósito do Partido Republicano em ab-rogar a Dodd-Frank, uma
das duas grandes leis emanadas do Congresso Americano no período benfazejo da
predominância nas duas Câmaras do Partido Democrata, no primeiro biênio do
Governo Barack Obama.
Ganhou a democracia, acaso, com a construção
de uma Casa de Representantes fundada no guerrymander
(vale dizer na fraude eleitoral, pelo desenho de distritos eleitorais que
favorece o GOP e prejudicam o Partido Democrata). Nancy Pelosi está fadada a
ser a líder da eterna oposição na Câmara de Representantes, em que se alternam
bonecos sem autenticidade, nem representatividade eleitoral, porque são
expressões de uma mega-fraude, que o silêncio da grande imprensa (rica em panos
quentes e pobre em coragem) parece cuidar de preservar. Nesses estados da fraude institucionalizada,
como o Ohio, que manda um punhado token
de democratas para a Câmara de Representantes e muitos republicanos para a tal
Câmara Baixa, muitos dos quais não seriam eleitos se não fora a deformação do gerrymander (o Governador Gerry, de
triste memória, que começou tal prática no Massachusetts em 1812, ainda
pontifica nessa terra dita da democracia). E não há nada mais fácil e revelador
de o que comparar os totais para deputados e os resultados dos colégios sem-gerrymander,i.e.,aqueles que tem os limites do Estado (como também o Ohio,
v.g., que expressam duas realidades, a da fraude eleitoral (das votações para a
Câmara), e a da verdade (esta última não carece de ser qualificada, quando não
é 'manipulada').
É bom que sempre se lembre que
essa manipulação - que a grande, medrosa
imprensa - aí também as estações de tevê! - se abstêm, com pondunoroso
lenço nas narinas de sequer mencionar. E aí, temos o escândalo dentro do
escândalo. Os últimos dois Speakers
da Câmara são John Andrew Boehner (Ohio) e o atual Paul Ryan. Como são
republicanos e a atual maioria corresponde às características acima esboçadas
em muitos anos da União, não surpreende que a Câmara de Representantes se haja
transformado em bastião do statu quo,
com a consequência inelutável de que represente grave empecilho para a
passagem de legislação que o governo
democrata (de Barack Obama) tenha considerado como necessária para o bom estado da União. Como essa Câmara
baixa é sempre republicana (pelas circunstâncias acima descritas) o acordo se
torna impossível (longe estão os dias das boas relações entre as duas alas do
Congresso - quando tal antes se impunha pelo princípio de que os partidos no
Congresso podem ser opostos, mas não necessariamente inimigos, porque defendem
o mesmo país).
É este consenso - de acordo com
as grandes ideias, sem embargo de defender caminhos porventura próprios - que tem faltado nos EUA ultimamente, porque o
seu ferrenho opositor, o é por defender princípios próprios, admissíveis no
mundo moderno, pautado pela autêntica democracia e o respeito dos valores de
outrem, sem jamais cair nas imagens de certos republicanos como v.g. Mitch McConnell, que vetou, na
prática a Obama que se valesse de inalienável prerrogativa presidencial de
indicar o sucessor de Antonin Scalia, na
pessoa do respeitado juiz Merrick Garland. E esse esbulho ocorreu a cerca de
doze meses antes do término
constitucional do respectivo mandato!
Obama, por circunstâncias
próprias, tendia a evitar atitudes mais radicais, ainda que legais, na defesa
de certas prerrogativas presidenciais, como esta por exemplo. Faltou-lhe a
energia e a intrépida ousadia - ainda que dentro da lei - para confrontar o
bando republicano com a sua ilegal, inaceitável e mesmo inconstitucional
postura de abocanhar - no caso de eleger um republicano para sucessor de Obama,
o que infelizmente (e põe infelizmente nisso) findou por
ocorrer, com a nomination pelo
errático e imprevisível Donald Trump_de um juiz conservador, Gorsuch, para a
vaga de Scalia.
Se Barack Obama foi fraco e
faltou com o próprio empenho para garantir indicação que era privativa de seu governo
democrata - tinha ainda na prática quase um ano de governo!- o que fez
ele que se cria grande negociador, mas sempre audessus-de la melée[1]. Permitiu, com o silêncio dos carneiros, que o notório Senador
Mitch McConnell, com os métodos de uma posse sulista, a guardasse em câmara
frigorífica, para oportunamente ser descartada - sempre caso vencesse o GOP -
e, dessarte, garantir mais uma vaga para conservadores no Supremo, a fim de
infernizar a vida de muitos infelizes - quem sabe proibindo de novo a conquista
das mulheres quanto ao aborto, pela grande resolução do Supremo de 1973 - Roe versus Wade - e, por se acaso, decidir eleição presidencial
como foi inconstitucionalmente determinada escolhendo o gênio George W. Bush
(que se marcou para sempre pelo fracasso do socorro às vítimas do Katrina e
pelos bilhões dólares gastos na fútil guerra do Iraque, o que provocou
consequências irreversíveis para a Superpotência).
(a continuar)
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