O
Tempora, o Mores
Ao pronunciar
os seus quatro discursos contra o Tribuno Catilina - tanto foi necessário para
que Marco Tulio Cicero obtivesse do
Senado Romano a autorização para perseguir judicial e militarmente o Tribuno da
Plebe Lucius Sergius Catilina - mas a
circunstância de que Catilina, apesar de origem nobre, se tornara um demagogo,
com forte apoio na plebe romana, pesaria mais tarde na vingança dos aliados do
morto Catilina em levar Cícero para a pena do exílio, com a perda de muitos
bens imóveis (depois recuperados) .
Para esse
grande orador, estava reservado trágico destino, primeiro com a citada
desapropriação de muitos de seus bens, inclusive da residência em Roma.
Oscilando entre as figuras tutelares da Roma da tarda República - Cesar e
Pompeu - Cícero não foi convidado a participar da larga conjura contra Gaius
Iulius Cesar. Não obstante, saudou a morte de Cesar com regozijo (15 de março
de 44 a.C.). Com o seu prestígio de membro veterano da classe Consular, em três
meses já pedia pela morte de Marco Antonio.
Cicero, seja pela idade, seja por
eventual simpatia ao jovem Otaviano. aceitou-lhe os supostos gestos de boa
vontade - sem atentar para a sua inquietante tendência em apelar a instrumentos fora da lei. Outro erro de julgamento - que lhe seria fatal - foi
subestimar a argúcia política de Otaviano. Tampouco não levou em conta a circunstância de que ele não se reconciliaria com
os assassinos de Cesar, Brutus e Cassius.
O jovem Otaviano
embaíu o grande tribuno e o velho político. Dentre os defeitos que o tornavam
vulnerável, estava a vaidade. Vêmo-la em sua correspondência, que por um
capricho do tempo - e do grande prestígio do escritor - está em larga parte preservada.Tal
circunstância, se lhe é positiva, é também faca de dois gumes, eis que ela
aparece para os pósteros sem a edição que venha a preservá-lo de eventuais
erros momentâneos de juízo. Em outras palavras, neste clássico da Antiguidade,
deparamos o retrato sem retoques do grande tribuno, vítima tanto da própria
vaidade, quanto - o que é pior - suscetível à lisonja e a consequente falta de
um juízo mais sereno, a ponto de torná-lo vulnerável aos embustes do jovem Otaviano.
Apesar de suas aberturas para o velho prócer dos Optimates, e a luta deste contra Marco Antonio (Filípicas, a
primeira em 2 de setembro 44 A.C., a última em 21 de abril de 43 A.C.) para
levar o Senado a declarar M. Antônio inimigo público. Depois da derrota de
Marco Antônio na Gália Cisalpina em Abril de 43, Otaviano engodou Cícero por
uns tempos, e não se exclui que fosse com a sugestão de que ambos assumissem o
Consulado.
Mas as
pretensões do jovem Otaviano tinham rumo diverso. Depois de assegurar o consulado para ele e o
tio Q. Pedius, e a posterior formação do
triunvirato, Otaviano não se opôs a que Marco Antônio incluísse Cícero entre as vítimas da proscrição - que
inauguravam com sangue o novo regime dominado por Otaviano e Marco Antônio. e de
que Marcus Emilius Lepidus seria o terceiro membro. Com a luta previsível entre
Otaviano e Marco Antonio, e a sua menor dimensão de poder, Lepidus seria
constrangido a exonerar-se em 36 a.C.
A
morte de Cícero, naqueles tempos odientos, não o desonra. Em uma tentativa
dessultória de fugir por mar, tanto os seus escravos - a quem sempre tratara
com atenção e mesmo apreço - não o abandonaram, prestando-lhe no extremo transe
a extrema homenagem. Tampouco ele próprio, não desonraria o respectivo renome de
Cònsul romano, da classe dos Optimates,
eis que morre com a coragem de um grande da Velha República a 7 de dezembro do
ano 43 a.C.
( Fontes: The Oxford Classical Dictionary; Cicéron,
Correspondance, Les
Belles Lettres )
Nenhum comentário:
Postar um comentário