Como todo
governante confuso e crescentemente encurralado pela própria incapacidade
administrativa, Donald John Trump não
será exceção à regra, ao partir para o ataque, como se fora um touro
enraivecido, diante dos passes rápidos
dos picadores e da montante solitude, em face de uma tourada com a imprensa e a
opinião pública, que em vez de evoluir, começa a involuir de modo preocupante,
para quem se julga como hábil
orquestrador dos meios de comunicação.
No entanto, no seu cafonismo de ricaço, Trump
traz de volta, de certa forma, as maneiras e os gostos daquela época, na
transição para o século XX, que Mark Twain chamaria de 'gilded age'. Os Estados Unidos da América chegavam estrepitosamente
à riqueza dos grandes industriais, dos donos das ferrovias, com a sua cafonice,
desperdicio de dinheiro e a arrogância dos novos ricos. Toda essa gente, com gostos
duvidosos - não é à toa que ele a chama de 'gilded age' - o ouro que, na
verdade, não é ouro - onde comparecem as grandes famílias enriquecidas com os
"robber barons", os barões
ladrões dos Rockefeller (Standard Oil), Carnegie (Aço) Andrew Mellon (finanças, petróleo), Andrew Carnegie (aço),
John Jacob Astor (bens imobiliários, peles), Henry Clay Frick (Aço),J.P. Morgan
(finanças, indústrias) e James Fisk (finanças).
Há 27 grandes
empresários dessa belle époque que
perfazem a lista dos chamados barões ladrões, e que formam a riqueza desses
novos elementos, enriquecidos pelo petróleo, as vias férreas, a indústria
(grandes usinas de aço em Pittsburgh), em que encontramos descendentes de
grandes famílias e de novos ricos, todos eles com o vigor, o ímpeto, os modos
imperiais dos que formaram grandes famílias, cresceram em riquezas ilimitadas,
mas também os que desapareceriam pelo caminho, guardando da antiga riqueza
apenas os ares imperiais e a arrogância dos que foram grandes capitalistas.
De certo modo,
Trump é um egresso longínquo dessa época bulhenta e buliçosa, em que a arrogância, a
falta de cultura e a vulgaridade estão presentes.
Há
muitas suspicácias sobre os fundos dos Trump. E as dúvidas maiores se vão delineando com
mais força. O Prêmio Nobel Paul Krugman,
em sua coluna no New York Times versa questões de grande relevância.
Por enquanto - e grifem este por enquanto - não há crise
constitucional. Não se pode negar, contudo, que Donald Trump terá pela frente
com grande probabilidade crise de
legitimidade. A sua derrota no voto popular já foi suspeita, se levarmos em
conta a intervenção de último minuto (bem no momento reservado ao voto
antecipado dos eleitores) do diretor do FBI, o republicano James B. Comey, em contrário à candidata democrata, Hillary
Clinton.
Como
assinala Krugman, agora se sabe muito mais. Enquanto o FBI, através de seu
diretor, transmitia a falsa impressão de escândalo em torno da candidata
democrata, ele, James Comey se sentou sobre provas que apontavam, de forma
alarmante, para estreitas relações entre
a campanha de Mr Trump e a Rússia de Putin. Entrementes, cabe a pergunta: o que fazia Barack Obama, nos seus derradeiros dias de presidência? Nenhuma preocupação em controlar a própria Administração, nem a James Comey, que em momento de rara infelicidade ele nomeara para chefiar o Federal Bureau of Investigations?
A fortiori, nada que Trump haja feito
depois de sua miraculosa eleição, poderá afastar que se adensem e se avolumem os temores de que, na verdade, o republicano não passe de fantoche do
ditador de todas as Rússias, Vladimir
V. Putin.
Que
autoridade teria um líder como Donald John Trump - sobre o qual tantas
suspicácias de colusão e mesmo de sujeição a um inimigo dos Estados Unidos, gospodin Vladimir V. Putin - para mandar
soldados americanos para a guerra, assim como que terá o direito de moldar a
Corte Suprema por uma geração?
Paul Krugman sugere que investigação
ampla, bipartidária e sem quaisquer limites poderia determinar a real situação.
Mas os republicanos neste Congresso que têm o poder de realizar esta devassa,
não querem nem saber.
No entanto, Krugman ainda crê
possível que a minoria democrata se associe a alguns republicanos, que queiram
fazer causa comum pela pátria americana, para chegar até a verdade.
Sem
embargo, os tempos mudaram. A aliança entre democratas e republicanos, que fora
possível no tempo de Watergate, agora
parece longínqua, longe do alcance do Congresso.
Antes, essa união pelos Estados Unidos tornara exequivel o impeachment
de Richard Nixon. E, no entanto, o escândalo hoje possível é muito mais
grave do que Watergate. Por mais tenebroso e sinistro que fosse Nixon, não se
consegue imaginá-lo tomando ordens de um autocrata estrangeiro.
Segundo Krugman, é bastante
difícil conceber hoje os Republicanos se levantando em defesa da Constituição,
como seus distantes antecessores o fizeram.
O que aconteceu entre-tempos? Não
é porque, como afirma Krugman, existam mais anões morais no Congresso, embora
tal também corresponda à realidade.
Watergate aconteceu antes que o GOP começasse a sua longa marcha para a
direita. Então havia muito menos polarização no Congresso do que agora. E por
isso menor antagonismo e mais acordo entre os dois partidos sobre postulações
econômicas basicas, e muita concordância ideológica. Por isso, os republicanos
não viam em perigo a manutenção da própria agenda partidária se eles tivessem
de livrar-se de um presidente que não respeitasse a lei.
Também a polarização do eleitorado
prejudica o papel de um Congresso em condições de controlar de modo
efetivo o Presidente em funções. Além do gerrymander
na Câmara, que a torna - ainda que ilegalmente - um bastião do GOP,
o medo por ora dos deputados republicanos - até que essa estrutura ilegal seja desfeita
- se resume a serem contestados pelo Tea Party, ou seja a ultra-direita,
incentivada pelos irmãos petroleiros Koch.
A América sempre se caracterizou pelos
vigilantes da liberdade. Até o momento, ainda não apareceram, e a crise
constitucional não surgiu por ora. A frágil esperança, por ora, é que um punhado de legisladores republicanos queira fazer causa comum com os democratas,
para salvar a pátria em perigo.
Seria um punhado de pessoas decididas a rasgar os véus que ocultam a
verdade. Para isso, é indispensável a
causa comum com os democratas para exigir que a verdade, seja ela qual for,
enfim surja.
Mas será que
esses patriotas republicanos existem? E para Krugman - e não só para ele -
eis-nos diante de um problema que é ainda mais terrível do que o eixo Trump -
Putin.
( Fontes: artigo de Paul Krugman; the New York Times; internet: pesquisa sobre a
Gilded Age )
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