A notícia, que uma vez mais reponta, vem
do estrangeiro. Enquanto no Brasil pútrido silêncio pesa sobre a industrial
deflorestação da Amazônia, cai sobre o leitor a notícia triste que nos prepara
para o futuro a coalizão da ganância industrial e da mesquinha visão do rápido
lucro ganho à custa do desmatamento.
Desmatar a grande floresta é preparar a
própria miséria, com a vantagem suplementar de acelerar o aquecimento global,
abrindo-se aos mares as comportas com a pesada chave de estúpida cobiça,
azeitada pela lúrida perspectiva de menos água doce, e a rala savanização de
inférteis areais.
São criminosas as queimadas na Amazônia,
e como nos relata a imprensa estrangeira, elas crescem empurradas pelas ofertas
da multinacional Cargill, que tem
fome de soja.
O governo do Brasil e notadamente a
coalizão do agro-negócio com os pequenos e médios proprietários julgam oportuno
que as ralas fileiras dos ambientalistas durmam.
Não é de hoje que os códigos ambientais
descem às câmaras onde são preparados para satisfazer a fome e a sede da união
dos grandes e pequenos - mas todos unidos na voracidade que as antigas e sábias
disposições dos códigos ambientais tinham afastado.Agora, a pressa ignara só
pensa no imediatismo do lucro, mesmo que havido com a secura dos mananciais, o
corte da floresta virgem e a álacre criação de amplas pradarias. Novas Malaias
pretende a sua estulta ganância por aqui criar.
Surge a união dos madeireiros e dos pecuaristas,
que só pensam naquilo, que para eles são os trinta dinheiros das disposições
ambientais violentadas.
Vamos fazer como Santa Catarina, que
acabou com as matas ciliares, e achou por bem diminuir ainda mais a reserva
florestal nas margens dos rios? Pois esses senhores só pensam no ouro que lhes
prometem os mercadores do desmatamento (ainda que nos seus cartões de lobistas
costumem matizar os próprios escopos).
Agora, nos chega do estrangeiro -
aonde residem decerto muitas daquelas sereias
que só pensam em apropriar-se da terra ou do produto da terra, e para
tanto jamais hesitarão em abrir na velha Hiléa amazônica as enormes e hediondas
cicatrizes do desmatamento, que é a desfiguração que precede novas Malaias, novos Sahéis, postos, vejam só,
nas fuças da antiga Amazônia.
Entrementes, o governo Michel Temer
dorme. A Lava-Jato decerto os
preocupa, mas que estranha prostração é esta, que permite esse desmatamento sem
lei? O Ministro do Meio Ambiente é o deputado José
Sarney Filho, do P.V. Dorme acaso também o Ministro que desde muito
volteja em torno do Meio Ambiente ?
Procuro, mas não vejo, algum alerta,
algum plano de operação em prol do verde, e da preservação desta hiléia que aí
está, não como resquício de um tempo em que o desmatamento apenas lhe mordiscava
as margens, enquanto vivíamos, muitos sem o saber, sob as benesses da floresta
virgem e o consequente equilíbrio do meio-ambiente.
Hoje, o grande capital parece ter
pressa. Para que, não sei.
Esse governo que aí está, e só
parece pensar em manter-se ao largo da Lava
Jato, e dos temidos estragos que a Operação lhe dá a impressão de prometer,
podia lançar os olhos para o grande Norte. Não vamos malbaratar o que os nossos
antepassados portugueses nos legaram, tanto na defesa da mata virgem, quanto na
salvaguarda da Amazônia, apesar de que pequenos fossem.
Souberam, a seu tempo, defender a
Amazônia das grandes potências da época. E o fizeram com indústria e engenho.
Agora, é também o momento de
defender esse grande espaço, que também é da Humanidade, e não fazer de conta
de que de nada sabe, enquanto o grande capital cuida de malbaratar o que não é
seu.
( Fonte: The New York Times
)
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