domingo, 26 de fevereiro de 2017

Por que deflorestar a Amazônia ?

                                

      A notícia, que uma vez mais reponta, vem do estrangeiro. Enquanto no Brasil pútrido silêncio pesa sobre a industrial deflorestação da Amazônia, cai sobre o leitor a notícia triste que nos prepara para o futuro a coalizão da ganância industrial e da mesquinha visão do rápido lucro ganho à custa do desmatamento.
      Desmatar a grande floresta é preparar a própria miséria, com a vantagem suplementar de acelerar o aquecimento global, abrindo-se aos mares as comportas com a pesada chave de estúpida cobiça, azeitada pela lúrida perspectiva de menos água doce, e a rala savanização de inférteis areais.

     São criminosas as queimadas na Amazônia, e como nos relata a imprensa estrangeira, elas crescem empurradas pelas ofertas da multinacional Cargill, que tem fome de soja.
      O governo do Brasil e notadamente a coalizão do agro-negócio com os pequenos e médios proprietários julgam oportuno que as ralas fileiras dos ambientalistas durmam.

      Não é de hoje que os códigos ambientais descem às câmaras onde são preparados para satisfazer a fome e a sede da união dos grandes e pequenos - mas todos unidos na voracidade que as antigas e sábias disposições dos códigos ambientais tinham afastado.Agora, a pressa ignara só pensa no imediatismo do lucro, mesmo que havido com a secura dos mananciais, o corte da floresta virgem e a álacre criação de amplas pradarias. Novas Malaias pretende a sua estulta ganância por aqui criar.
      Surge a união dos madeireiros e dos pecuaristas, que só pensam naquilo, que para eles são os trinta dinheiros das disposições ambientais violentadas.

      Vamos fazer como Santa Catarina, que acabou com as matas ciliares, e achou por bem diminuir ainda mais a reserva florestal nas margens dos rios? Pois esses senhores só pensam no ouro que lhes prometem os mercadores do desmatamento (ainda que nos seus cartões de lobistas costumem matizar os próprios escopos).
          Agora, nos chega do estrangeiro - aonde residem decerto muitas daquelas sereias  que só pensam em apropriar-se da terra ou do produto da terra, e para tanto jamais hesitarão em abrir na velha Hiléa amazônica as enormes e hediondas cicatrizes do desmatamento, que é a desfiguração que precede novas Malaias, novos Sahéis,  postos, vejam só, nas fuças da antiga Amazônia.

           Entrementes, o governo Michel Temer dorme. A Lava-Jato decerto os preocupa, mas que estranha prostração é esta, que permite esse desmatamento sem lei?  O Ministro do Meio Ambiente é o deputado José Sarney Filho,  do P.V.  Dorme acaso também o Ministro que desde muito volteja em torno do Meio Ambiente ?
           Procuro, mas não vejo, algum alerta, algum plano de operação em prol do verde, e da preservação desta hiléia que aí está, não como resquício de um tempo em que o desmatamento apenas lhe mordiscava as margens, enquanto vivíamos, muitos sem o saber, sob as benesses da floresta virgem e o consequente equilíbrio do meio-ambiente.

           Hoje, o grande capital parece ter pressa. Para que, não sei.
          Esse governo que aí está, e só parece pensar em manter-se ao largo da Lava Jato, e dos temidos estragos que a Operação lhe dá a impressão de prometer, podia lançar os olhos para o grande Norte. Não vamos malbaratar o que os nossos antepassados portugueses nos legaram, tanto na defesa da mata virgem, quanto na salvaguarda da Amazônia, apesar de que pequenos fossem.
             Souberam, a seu tempo, defender a Amazônia das grandes potências da época. E o fizeram com indústria e engenho.
              Agora, é também o momento de defender esse grande espaço, que também é da Humanidade, e não fazer de conta de que de nada sabe, enquanto o grande capital cuida de malbaratar o que não é seu.


( Fonte: The New York Times ) 

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