Não podia demorar muito que se aventasse a
possibilidade de choques entre o Pontífice e o novel presidente Trump. E como o
novo líder americano não é avesso a conflitos, tampouco a grande imprensa
tardaria em especular acerca dessa eventualidade.
A esse propósito, é oportuno que se
recorde a crítica feita pelo Santo Padre ao então pré-candidato presidencial no
partido Republicano. Em fevereiro de 2016, o Papa regressava de visita feita ao
México. Indagado acerca das ideias do candidato quanto à imigração e sobre a
intenção de forçar o México a pagar pela construção de um muro ao longo da
fronteira, Sua Santidade respondeu:
"Alguém que só pensa em construir muros, aonde quer
que estejam, e não em levantar pontes, não é Cristão."
Igualmente dada a postura de Papa
Francisco, não pode ser de seu agrado a dureza das promessas de campanha do
então candidato em deportar mais imigrantes.
O guru do presidente Trump, como se
sabe, é Steve Bannon, cuja posição
política, é vizinha à extrema direita. Não admira, portanto, que, enquanto
católico, se relacione mais com os da linha ultraconservadora na Igreja. Se com
Papa João Paulo II essa preferência lhe asseguraria acesso a prelados
importantes na Igreja, hoje em dia, florescendo a linha liberal na Igreja de
Cristo, as suas possibilidades de contato encolheram bastante.
Com efeito, é grande a popularidade
de Papa Francisco, e o seu pontificado retém muitas similitudes com o de Papa
Giovanni (João XXIII), que no Concílio
que para muitos então o teria escolhido como 'Papa de transição' (depois do longo reinado de Papa Pacelli - Pio
XII), e que para surpresa de muitos de seus eleitores ao ser perguntado que
nome empregaria disse Johanen (João),
nome que não era usado por Sumo Pontífice desde 1334! Assinale-se aí a primeira
mensagem de Papa Giovanni: como o apóstolo João, ele se voltaria para a
evangelização e a difusão da fé cristã.
Nesse contexto, é importante acentuar
as muitas semelhanças existentes entre o Papa do Concílio (João XXIII), e o atual
Pontífice, que desde cedo - e nisso o ajudou a simplicidade e a convivência com
a pobreza da ordem franciscana - se aproximou dos pobres e dos presos.
Não
surpreende, portanto, que Bannon venha recebendo do 46º presidente encargos que
de longe superam o usual, como, v.g.,
ser membro do Conselho de Segurança Nacional.
Por enquanto, é muito cedo para opinar
sobre as possibilidades de que Bannon, nas funções civis (e de segurança) que
lhe foram atribuídas pelo Presidente Trump, logre exercer papel influente e não
o que ocorre amiúde, quando íntimos presidenciais são catapultados para
posições na alta hierarquia política e de segurança, lá ficando encapsulados,
sem exercer qualquer papel de monta em funções que estão em esferas para as
quais a vida (seja profissional ou laica) não os preparou.
Nessa faixa extremista a que o artigo
do New York Times se reporta, em
geral estão escanteados da Igreja de Francisco e, por conseguinte, constituem tipos um tanto
patéticos que podem até papaguear fins apocalípticos para o pontificado atual. No entanto, basta
assistir a uma das audiências de Francisco para que se tenha ideia de sua
penetração e da grande popularidade, comparável a de seu antecessor Papa Giovanni, com que o distingue o
mundo católico.
Esses ultraconservadores dispunham de
ouvidos mais atentos e abertos nas cortes de Papa Wojtyla, que tanto perseguiu
os teólogos da Teologia da Libertação (Karl Rahner, Hans Kung e E.Schillebeeckx,
entre outros) Tampouco é de admirar que Bannon mantenha boas relações com o
arquiconservador Cardeal Raymond Burke, que é adversário declarado de Papa
Francisco, e que foi por ele afastado da posição de realce na Cúria que então
ocupava...
Não foi
por acaso que o grande teólogo Karl Rahner S.J. aludiu ao Inverno na Igreja, que muitos entenderam como alusão ao pontificado
do Papa polonês, com muita movimentação, bastante realce dado a figuras conservadoras,
algumas até polêmicas, e que ao cabo iriam desaparecer do visor após a partida de Papa Wojtyla.
Ao final, em retoques de grande
oportunidade, o artigo alude ao cardeal
João Braz de Aviz, que é prelado próximo do Pontífice. Assim, perguntado sobre a influência da
ascensão de Donald Trump sobre os aliados do prócer presidencial Steve Bannon,
que seriam influenciados a intensificar a respectiva oposição conservadora e a
forçar (sic) o Papa a seguir linha
mais ortodoxa, o cardeal deu de ombros.
A tal propósito, o Cardeal de Aviz
disse: "A doutrina está segura" e acrescentou que a missão da Igreja
se destina mais a salvaguardar os pobres. É também - como recordou aos seus
colegas de linha tradicionalista - servir São Pedro, cuja autoridade é passada
através da sucessão dos papas. "E hoje, Francisco é Pedro."
Fontes: The New York Times; Annuario Pontificio; Karl
Rahner S.J, Saggi sulla Chiesa; Hans Kung, The Church).
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