Tomou a imprensa de
surpresa a designação presidencial do
Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes,
para preencher a vaga deixada por Teori Zavascki.
Apesar de muitos julgarem que a
escolha do Presidente foi política, Moraes é constitucionalista, tanto que
juristas consultados não se surpreenderam com a indicação.
De especialistas inquiridos por O
Globo, dois se manifestaram favoravelmente: o ex-Ministro do STF, Carlos
Velloso e Eliana Calmon, ex-Ministra do Superior Tribunal de Justiça;
e um muito negativamente: Gilson Dipp, ex-Ministro do Superior
Tribunal de Justiça: "Nesta conjuntura em que o STF está mais para
corte penal com a Lava-Jato, penso que o governo deveria ter o cuidado de indicar com a máxima isenção. Não deveria
indicar alguém com conotação político-partidária.(...) Independentemente das
qualidades pessoais do Alexandre, foi uma escolha politicamente incorreta, e
espero que seja apenas incorreta".
Por outro lado, Merval Pereira, observador político, mas com reconhecida base
teórica nesse campo, na sua coluna assinalou notadamente: "a escolha do
ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, obedece a critérios técnicos
requeridos de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) - é um constitucionalista
reconhecidamente de valor, não é por acaso que tem o apoio de muitos de seus
futuros colegas no Supremo."
O novo ministro do STF assumirá a
função de revisor das decisões da Lava-Jato
em plenário, i.e., dos processos que envolvam eventualmente os presidentes da Câmara e do
Senado, e o presidente da República, Michel Temer. De acordo com o regimento
interno do Supremo, o revisor deve ser o
Ministro que entrou no tribunal logo em seguida do relator, no caso Edson
Fachin.
Segundo indica Merval Pereira, pela ordem
prevista no Regimento interno do STF, o revisor é sempre o primeiro a votar
depois do relator, o que já causou muita tensão nas sessões do mensalão, por
exemplo quando o revisor de Joaquim
Barbosa era o Ministro Ricardo Lewandowski. Nesse sentido, o relator acusou por
diversas vezes o revisor de tentar
prolongar o julgamento se valendo de sua prerrogativas.
Consoante sublinha ainda Merval
Pereira, este é talvez o maior obstáculo político à indicação do Ministro da
Justiça, já que o Presidente Temer pode ser um dos citados pelas delações da
Operação Lava-Jato. Sem embargo, ele provavelmente não terá que revisar
processo algum contra Temer, pois pela tese que hoje vigora, o Presidente da
República não pode nem mesmo ser investigado por fatos anteriores ao seu mandato, e muito menos processado.
Por fim, Merval Pereira
desencava um aspecto que terá forçosamente de ser tratado. Na tese de doutorado
de Alexandre de Moraes, em 2000, ele escreveu que um ministro não deveria ser
nomeado pelo governo a que servia, para
que não houvesse dúvida sobre sua
independência.
Ao aceitar a indicação,
conforme refere Merval Pereira na sua coluna, Alexandre de Moraes desmente
parcialmente a própria tese. No
exercício de função no Supremo, terá tempo para provar que uma vez investido no
cargo, a toga traz consigo a independência.
( Fonte: O Globo, Coluna de Merval Pereira (Realidade Supera Teoria).
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