Cresce a convicção
na mídia de que o Governo Trump seria uma mixórdia de incompetentes, como se
terá visto na questão do Assessor de Segurança Nacional, Mr Michael Flynn, que mentiu para o
Vice-Presidente Pence. Por isso, foi afastado.
No entanto, não se deve subestimar a
capacidade da Administração Trump, como se fora associação de medíocres e
incapazes.
Há uma operação em curso que, em meio
à aparente bagunça e medidas disparatadas, se propõe realizar uma virada de
direita para valer.
O Governo Trump pode dar a impressão
de ser trapalhão e mesmo incapaz. No entanto, não se deve esquecer que, se
Donald Trump não é apenas o candidato do
verão - como muitos de seus adversários o rotularam, pensando logo poder
descartá-lo, aqueles mesmos, que hoje amargam o isolamento da derrota - mas
alguém que dispõe de aliados fortes, de partido estruturado (e com maioria nas
duas Câmaras), e que, malgrado o próprio histrionismo, não é o paspalhão que se
esforça em parecer.
Desmerecer de tal
adversário é fazer exatamente o que ele quer. Os suecos riem do atentado
terrorista - que nunca existiu - mencionado por Trump em Orlando. Há vários,
por ele citados, que são reais. Mas o 45º presidente não tem problema em
agregar outros, mesmo que sejam produto de confusões mentais. No entanto, o que
lhe importa é manter viva a idéia da periculosidade do estrangeiro.
Os governos, como o de Donald
Trump, que é construído com base no repúdio ao estrangeiro e que afirmam
defender a classe trabalhadora com baixo nível de educação (e a enganam com as
ilusões de remontar as indústrias do cinturão da ferrugem) têm interesse em
manipular o proletariado nacional de baixa escolaridade, porque são mais
acessíveis às idéias enganosas, mas de encantadora simplicidade, da direita.
No seu discurso de Orlando, na
Flórida, Trump alinhou alegremente, a par as tragédias de Paris, Bruxelas e
Nice, dentro de sua versão do terrorismo estrangeiro, mais uma ou duas, de
pouca ou nenhuma consistência, como a alusão à Suécia e também à Alemanha.
O que parece escapar à mídia -
intenta em carimbá-lo como personagem ridículo, como todo paspalhão - é que
Trump não é o tolo que aparenta. Ele
pode não ter o gênio de Glauber Rocha
- com a sua câmera na mão e uma idéia na cabeça - mas o seu propósito de
demonizar o estrangeiro, aquele que vem de fora, uma idéia infelizmente tão
entranhada na história do bicho homem, aí está, espalhafatosamente presente.
E para que demonizar o pobre do
estrangeiro? Pela simples razão de quem vem
de fora, tende não só a ser diferente.
Além disso, por maior que seja o seu número, ele estará sempre em desvantagem.
Ele não é do lugar, pode ser até diferente, e por isso através das idades do
homem, o estrangeiro, o estranho, o emboaba, além de vir de fora, traz costumes
diversos, língua diferente, até estranha, e por isso tende a ser visto como ameaça.
É difícil encontrar político que tenha a coragem de Angela Merkel. Os
refugiados sírios encontram mais amiúde políticos como o Primeiro Ministro da
Hungria, Viktor Orban, aquele que os repele como se fossem pesteados, com milícia e cercas de arame farpado.
Por isso, o caminho fácil
parecerá sempre o da direita. E vejam à própria volta, não só o Presidente
Trump, que construiu a sua imagem de patriota americano lançando a suspeita
sobre o mexicano, aquele que disse veio para a América para violentar a
americana, ou então furtar do americano trabalhador, tirando-lhe o emprego.
Esta é a construção do discurso
do ódio e do medo, que essencialmente constitui a mensagem que a direita se
empenha em difundir. Tal enganosa simplicidade não engana ninguém. Na verdade,
Trump é um homem de uma nota só.
Carece de uma muralha para afastar
esse bicho-papão, que é o estrangeiro. Segundo Trump, esse muro é preciso para
preservar a mulher americana do estuprador mexicano. Essa imagem saída da
cabeça desse grande demagogo, serviu para demonizar um país vizinho. Para
afastá-lo, ele carece de um muro! Em toda a história da Humanidade, essa
inutilidade se repete! Olhem para o império romano, olhem para a China e agora,
para os Estados Unidos!
Já se lêem as notícias das
medidas tomadas pela Administração Trump para afastar os perigosos
estrangeiros, quando na verdade eles são apenas uma peça em enorme engrenagem
voltada para o bem-estar da comunidade americana. Muitos deles já estão
integrados. Ninguém sai da sua terra por prazer. Eles lá estão para atender as necessidades do Povo
americano, e porque querem melhorar de vida !
( Fontes: Arnold
Toynbee, A Study of History; Glauber Rocha)
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