Hoje seria o dia de pagamento de
parcela de Euros 1,6 bilhão ao FMI. Autoridades do governo helênico já
disseram que tal pagamento não será feito.
Também nesta
terça-feira, 30 de junho, se encerra o presente acordo de ajuda dos países da Zona
do Euro à Grécia. Igualmente deixam de operar as linhas extras de liquidez do BCE
(Banco Central Europeu).
Mantido por
muito tempo com o auxílio de instrumentos, o paciente grego é observado
nervosamente, e não só pela equipe encarregada de mantê-lo em vida e se
possível atuante, na Zona do Euro.
As
inquietudes que desperta entrarão em nova fase. Através das diversas cortinas dessa divisão
especial, elas são ainda imprecisas e, por conseguinte, mais angustiantes para
os nervosos mercados, que como parentes de milionária senhora circulam ansiosos
à sua volta.
E, no
entanto, toda essa expectativa acerca da partida ou não da velha Hellás
do exclusivo clube do Euro, semelha à primeira vista reação despropositada. Com
efeito, de que modo uma economia que corresponde apenas a 2% daquela da União Européia pode provocar tanta celeuma e a
paradoxal aparência de que um tão diminuto mercado possa colocar a Europa
Ocidental à beira de ataque de nervos.
Enquanto a velha senhora da Bolsa de Atenas ficará
recolhida por uma semana, a apreensão igualmente tomou conta de todas as
demais. A maior queda foi na bolsa
italiana de Milão, com 5,17%. Ainda na Europa, a sua principal
economia, encarnada pela bolsa de Frankfurt,
teve queda de 3,56%, enquanto o recuo em Paris
foi de 3,74% e em Londres, de 1,97 %. Do outro lado do
oceano, o Dow Jones caíu 1,95%, e o S&P, de 2,09%. Na Ásia, Tóquio teve perda de 2,88%. A
menor queda foi a da Bovespa, com 1,8%.
Antes de
examinar as perspectivas desta crise após o referendo, parece-me oportuno transmitir
a opinião do economista Prêmio Nobel Paul
Krugman.
Para ele, “ficou
óbvio já por algum tempo que a criação do Euro foi um terrível equívoco. A
Europa nunca teve os requisitos para uma
exitosa moeda única – acima de tudo, dispor de uma espécie de união fiscal e
bancária que possibilitasse, por exemplo, se uma bolha residencial estoura na
Espanha, Bruxelas protege automaticamente os seus idosos contra quaisquer
ameaças a tratamento médico ou a seus depósitos bancários.”[1]
Por outro lado, Krugman frisa que
abandonar união monetária é decisão
muito mais difícil e assustadora do que não ingressar nela. Por isso, mesmo as
economias com os maiores problemas repetidas vezes preferiram não testar o abismo
da respectiva saída e os governos comunitários têm optado por submeter-se às
exigências dos credores por uma rigorosa austeridade, enquanto o BCE tem atuado para conter o pânico do
mercado.
No seu
artigo, datado de 29 de junho, o economista se manifesta pessimista quanto à
evolução da crise. Como os bancos estão fechados temporariamente, o governo
impôs controles de capital, o que vem a ser
limites ao movimento de fundos para fora do país. Nesse quadro, lhe
parece provável que o governo comece a pagar pensões e salários em ‘scrip’ (papel-moeda provisório
para a emergência), o que equivaleria a criar moeda paralela. E na próxima
semana o país realizará um referendo se aceita ou não as exigências da ‘troika’ (as instituições que representam
os interesses dos credores por ainda mais austeridade).
Ao ver de
Krugman, a Grécia deveria votar Não, e
o governo helênico careceria de estar pronto, se necessário, para abandonar o
Euro.
O Prêmio
Nobel de Economia explica por que toma tal posição. A maior parte de o que se tem
ouvido sobre a gastança e a irresponsabilidade grega é falsa. Procede
que o governo grego gastava acima dos próprios meios no fim da primeira década
deste século. Mas desde então, tem repetidamente cortado despesas e aumentado
os impostos. O funcionalismo caiu em 25% e as pensões – onde havia abusos –
tiveram cortes profundos. Se todas as medidas de austeridade fossem somadas,
elas seriam suficientes em tese para eliminar o déficit original e gerar um superavit !
Por que
isso não aconteceu? Pela simples razão
de que a economia grega entrou em colapso, basicamente por causa dessas medidas
de austeridade, que fizeram com que os
rendimentos caíssem.
Este
colapso, segundo Krugman, tem muito a ver com o euro, que colocou a Grécia em
uma camisa de força. Os casos de
bem-sucedida austeridade, em que os países restringem os déficits sem provocar
uma depressão, decorrem em geral de desvalorizações da moeda, que tornam as
suas exportações mais competitivas. Isto
foi o que aconteceu no Canadá, nos anos noventa, e, mutatis mutandis o ocorrido com
a Islândia, mais recentemente.
O problema
com a Grécia é que ela, sem o dracma, não tem mais esta opção. No entanto, Paul Krugman precisa que não está propondo a
saída grega do Euro. Para ele, o
principal problema dessa ‘saída’ está no risco do caos financeiro,
de um sistema bancário esfacelado, de retiradas em pânico, e dos negócios
prejudicados seja pelas dificuldades bancárias, seja pela incerteza quanto ao status legal das dívidas. Esta teria
sido a principal razão por que sucessivos gabinetes gregos aceitaram as
exigências de austeridade, e igualmente a explicação de por que a coalizão
Syriza estava disposta a aceitar austeridade que já tinha sido imposta. Tudo o que
pediu era que houvesse uma parada quanto a mais austeridade.
Para
Krugman, a causadora da crise é a troika.
Apresentaram à Grécia uma oferta que era na verdade um ultimatum. No
seu entender, ao fazer a imposição, prepararam a chamada oferta-padrinho, que
Tsipras não poderia aceitar.
Já hoje,
os prognósticos aparecem um pouco menos pessimistas. Cresce a idéia de uma
solução, na linha da proposta do professor do Insper, Gino Olivares: ‘a
situação só será resolvida com boa vontade política, tanto de credores, quanto do
governo grego. Está na hora de os técnicos saírem de campo e entrarem os
políticos.’
Para Jens
Nordvig o referendo tem importância política significativa e será decisivo para
a eventual permanência da Grécia na Zona do Euro. Para Nordvig, se o “sim” for maioria (i.e., o povo corroborando a escolha para continuar na zona do euro)
será
praticamente impossível que a Coalizão
Syriza//Anel permaneça no poder.
Como não poderia deixar de ser, o próprio premier grego Alexis Tsipras admitiu a
contingência, ao afirmar que respeitará a decisão popular.
Assim,
se o Não vencer, não será o fim do
mundo, mas o ingresso em faixa de mais adversidades e turbulências...
A
campanha para o Plebiscito tentará mostrar quais são as perspectivas. Os que
favorecerem o SIM estarão votando
por mais do mesmo, com a eventual flexibilização política.
Para os
partidários do NÃO, o que é um voto de
confiança ao Syriza, mas isto não implicará necessariamente na saída da
Grécia da Zona do Euro. Há muita especulação quanto aos efeitos dessa eventual
saída da Grécia, e a sua volta ao dracma.
Por
outro lado, os grandes efeitos previstos precisam ser redimensionados, pelas
modestas dimensões da economia grega.
Afinal,
a crise helênica não pode ser comparada à falência do Banco Lehman
Brothers. Esta, com o seu efeito cumulativo, causou a Grande Recessão
Internacional. Pelo tamanho reduzido da economia grega, não é provável que
surja uma crise financeira internacional.
Dentro dessa hipótese, com prejuízos incidentais para outra economias, serão
sobretudo os gregos que pagarão a conta. Somente um encaminhamento desse
problema de forma exageradamente desastrada fará com que esse prognóstico não
se efetive.
( Fontes: The New York
Times ( artigo de Paul Krugman); O Globo )
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