Continua o descarado apoio da Rússia
de Vladimir Putin aos rebeldes que lutam nos dois epicentros dessa mal-disfarçada
invasão da Ucrânia. Enquanto o Kremlin clama
a sua não-ingerência, há série de fatos que desmentem essa cínica postura. Dois
soldados russos foram capturados pelas forças ucranianas na zona conflagrada do
Leste, e acusados de terrorismo.
Malgrado o
segundo cessar-fogo de Minsk, uma série de firmas ad-hoc coletam fundos de
cidadãos russos para financiar a insurgência contra o Kiev. Embora tais firmas
descrevam a sua missão como ‘humanitária’, na verdade se empenham em descarada
campanha de levantamento de fundos para equipar as forças rebeldes nas duas regiões
nas quais se concentra a luta, Donetsk e Luhansk.
Tal atividade
só é concebível com o tácito apoio do Estado russo. Dessarte, tais associações
atuam desenvoltamente, enquanto o Kremlin e os órgãos competentes do Estado
olham para o outro lado.
Apresentadas
como de escopo ‘humanitário’, essas associações somem do visor tão logo
apareçam complicações que as envolvam nessa atividade havida como ilegal. Uma
vez descobertas, com o tácito apoio do Estado, elas se transformam, mudando de
nome e autorização bancária.
Levantar
‘milhões de dólares’ como reivindicam tais grupelhos, é atividade proibida
internacionalmente, apesar de que apelem para associações internacionais de
ajuda indeterminada, para aumentar a bolsa dos rebeldes. Ao entrarem nisso,
chegam a pedir apoio de associações internacionais com fins beneficentes, como
o PayPal e a Western Union.
Nessa semana, gospodin Vladimir Putin, usando os seus
negros trajes de Tartufo, visitou o Papa Francisco e o Primeiro Ministro da
Itália, Matteo Renzi. Este último apresenta uma atitude dúbia com relação à
Russia, tendo sido o único ocidental a visitar Moscou. Até o momento, no
entanto, tem preferido manter uma postura discreta, de suposto apoio à causa da
Ucrânia.
Nas recentes
visitas de Putin à Santa Sé e ao Palácio Chiggi (sede da presidência do
Conselho italiana), Putin foi a própria imagem do bem-intencionado fautor do
paz, conclamando ambas as Partes a chegarem a uma solução política de longo
prazo, enquanto no front continua a
trabalhar pelo prosseguimento do conflito, e tudo faz para fomentar a fraqueza
e a dissensão no seu vizinho ao Sul. Não poderia ser mais perfeito no papel do
vilão de Molière, hipócrita e santimonial, mas deveria ter presente que no seu
dúplice papel o lado que deseja encobrir tende a ser o que mais apareça.
Com todas as
suas fumaças de grande potência – para o que servem o programa espacial e o
arsenal termonuclear – a Rússia, como verdadeira herdeira da URSS, entremostra
igualmente grandes deficiências, malgrado a arrogante postura de patrono do
vasto entorno do ‘estrangeiro-próximo’,
e das fumaças de grande potência, que pode enganar a autoridades tolas e
despreparadas em termos de política externa, mas não engana àqueles a que se propõe
igualar-se.
A Ucrânia não é
nenhuma Geórgia, nem Moldova, pequenos
Estados em que gospodin Putin treinou o seu incipiente militarismo. A insolente
agressão russa à Ucrânia, estruturada como ‘castigo’ pela deposição do corrupto
e filo-russo presidente Viktor Yanukovich, pode sair muito cara aos cofres do
Kremlin. Depois de um aturdimento compreensível, a Ucrânia – que não é uma
pequena nação – diante da absurda invasão (o sinal inicial foi a perda da
Crimeia) se vem recompondo, ganhando em unidade e determinação, atributos
indispensáveis para vencer esse enorme desafio.
E não há de
esquecer-se que, malgrado a empáfia desse senhor – que pretende ser mais alto e
poderoso do que realmente é – nem tudo serão flores para quem se anima a lançar-se
num conflito imperialista, não com a base econômica de que Putin se jacta, mas
aquela de que realmente dispõe que está muito aquém das suas façanhudas
ilusões.
( Fonte:
The New York Times )
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