sexta-feira, 12 de junho de 2015

Ucrânia: apoio aos Rebeldes


                                   

       Continua o descarado apoio da Rússia de Vladimir Putin aos rebeldes que lutam nos dois epicentros dessa mal-disfarçada invasão da Ucrânia. Enquanto o Kremlin clama a sua não-ingerência, há série de fatos que desmentem essa cínica postura. Dois soldados russos foram capturados pelas forças ucranianas na zona conflagrada do Leste, e acusados de terrorismo.

       Malgrado o segundo cessar-fogo de Minsk, uma série de firmas ad-hoc coletam fundos de cidadãos russos para financiar a insurgência contra o Kiev. Embora tais firmas descrevam a sua missão como ‘humanitária’, na verdade se empenham em descarada campanha de levantamento de fundos para equipar as forças rebeldes nas duas regiões nas quais se concentra a luta, Donetsk e Luhansk.

       Tal atividade só é concebível com o tácito apoio do Estado russo. Dessarte, tais associações atuam desenvoltamente, enquanto o Kremlin e os órgãos competentes do Estado olham para o outro lado.

       Apresentadas como de escopo ‘humanitário’, essas associações somem do visor tão logo apareçam complicações que as envolvam nessa atividade havida como ilegal. Uma vez descobertas, com o tácito apoio do Estado, elas se transformam, mudando de nome e autorização bancária.

      Levantar ‘milhões de dólares’ como reivindicam tais grupelhos, é atividade proibida internacionalmente, apesar de que apelem para associações internacionais de ajuda indeterminada, para aumentar a bolsa dos rebeldes. Ao entrarem nisso, chegam a pedir apoio de associações internacionais com fins beneficentes, como o PayPal e a Western Union.

      Nessa semana, gospodin Vladimir Putin, usando os seus negros trajes de Tartufo, visitou o Papa Francisco e o Primeiro Ministro da Itália, Matteo Renzi. Este último apresenta uma atitude dúbia com relação à Russia, tendo sido o único ocidental a visitar Moscou. Até o momento, no entanto, tem preferido manter uma postura discreta, de suposto apoio à causa da Ucrânia. 

      Nas recentes visitas de Putin à Santa Sé e ao Palácio Chiggi (sede da presidência do Conselho italiana), Putin foi a própria imagem do bem-intencionado fautor do paz, conclamando ambas as Partes a chegarem a uma solução política de longo prazo, enquanto no front continua a trabalhar pelo prosseguimento do conflito, e tudo faz para fomentar a fraqueza e a dissensão no seu vizinho ao Sul. Não poderia ser mais perfeito no papel do vilão de Molière, hipócrita e santimonial, mas deveria ter presente que no seu dúplice papel o lado que deseja encobrir tende a ser o que mais apareça.    

       Com todas as suas fumaças de grande potência – para o que servem o programa espacial e o arsenal termonuclear – a Rússia, como verdadeira herdeira da URSS, entremostra igualmente grandes deficiências, malgrado a arrogante postura de patrono do vasto entorno do ‘estrangeiro-próximo’,  e das fumaças de grande potência, que pode enganar a autoridades tolas e despreparadas em termos de política externa, mas não engana àqueles a que se propõe igualar-se.

       A Ucrânia não é nenhuma Geórgia, nem Moldova,  pequenos Estados em que gospodin Putin treinou o seu incipiente militarismo. A insolente agressão russa à Ucrânia, estruturada como ‘castigo’ pela deposição do corrupto e filo-russo presidente Viktor Yanukovich, pode sair muito cara aos cofres do Kremlin. Depois de um aturdimento compreensível, a Ucrânia – que não é uma pequena nação – diante da absurda invasão (o sinal inicial foi a perda da Crimeia) se vem recompondo, ganhando em unidade e determinação, atributos indispensáveis para vencer esse enorme desafio.

      E não há de esquecer-se que, malgrado a empáfia desse senhor – que pretende ser mais alto e poderoso do que realmente é – nem tudo serão flores para quem se anima a lançar-se num conflito imperialista, não com a base econômica de que Putin se jacta, mas aquela de que realmente dispõe que está muito aquém das suas façanhudas ilusões.

 

( Fonte:  The New York Times ) 

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