segunda-feira, 15 de junho de 2015

A greve de fome do prisioneiro López

                

        O bizantinismo é a porta de fuga dos patifes e bandidos. De repente, torna-se difícil definir as ditaduras e os chamados regimes fortes, de mão pesada.

        Somente para Dona Dilma e seu companheiro Lula da Silva a Venezuela continua uma democracia. Menos que afinidade, há evidente cumplicidade não entre o Brasil democrático e essa Venezuela, mas dos altos figurões petistas – como Dilma e Lula – e os sucessores de Hugo Chávez Frias.

        O nível de Nicolás Maduro e do presidente da assembléia popular, Diosdado Cabello não é decerto matéria de discussão, mas de confrangida aceitação, pontuada pela inevitável perplexidade de que pais antes assinalado por grandes políticos  haja descido tão baixo.

         Mantido indefinidamente em vil calabouço, o líder do partido Vontade Popular, preso há mais de ano por suposta conspirata contra o governo chavista, entrou em greve de fome há 21  dias, depois de ser jogado em solitária pela posse de celular.

         Leopoldo López é a principal figura da oposição. Corajoso, não se dobrou até hoje diante das baixarias e ameaças do governo Maduro. 

         A esposa e a família tem razão de preocupar-se porque greve de fome dessa extensão pode ter consequências irreversíveis.

          Diante do sacrifício do líder oposicionista, a postura do governo não poderia ser mais ignóbil. São fiéis apenas ao que são: é em tais situações que as máscaras cáem. Declaram a Felipe González, o grande estadista espanhol, persona non grata. Como as assembléias populares das ditaduras do antigo Leste Europeu, eles não têm medo do ridículo.

           O exemplo de López se está decuplicando em série de outras greves da fome, de protesto contra o tratamento inumano dispensado pelo regime.

           Há preocupação geral no mundo com o estado de saúde de Leopoldo López. A greve da fome é um recurso extremo, ainda mais se cruzar o limiar das três semanas, sem a devida assistência médica – também aqui a ditadura mostra a sua cara, eis que de López poderia dizer-se que não tem amparo médico. Pois os comissários da prisão não autorizam a entrada de outros médicos, nem os da confiança de López, ou os da Cruz Vermelha.  Apenas os profissionais da cadeia dele se encarregam...

           Enquanto Nicolas Maduro e a nomenklatura do regime mantém silêncio, chovem manifestações de todo mundo, perguntando e interessando-se acerca do estado de saúde de López.  O próprio Papa Francisco manifesta preocupação. A inquietude atravessa fronteiras, mas há uma exceção.

           A família do candidato ainda espera ter palavra de Dilma Rousseff. Conforme lembra a mãe de López, senhora Antonieta Mendoza de López: “Na cúpula das Américas, ela (Dilma Rousseff) disse que não podem existir presos políticos numa democracia. Esperamos que a presidente brasileira faça uma intermediação.”

            Por ora, os pedidos à Presidente do Brasil são formulados em linguagem respeitosa. Apesar da tardança e do silêncio, os familiares próximos  mantêm linguagem ponderada, compreensiva, quase humilde.

             Por quanto tempo permanecerão dessa forma, se não houver resposta? Será que ela, que já foi trancafiada em xilindró, não aquilata o peso de uma palavra sua, de compreensão e respeito? Aqui se fala de apoio humano, devido a quem possui a coragem de bater à porta da morte pela própria dignidade.

 

( Fonte:   O  Globo )

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