A visita de Aécio Neves & senadores da oposição a Caracas como pode ser avaliada?
De início, é
importante analisar os participantes nesse espetáculo. Aécio Neves, o principal
nome da oposição, chefiou a missão parlamentar, formada por senadores do PSDB -
o líder Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP)
e Cassio Cunha Lima (PSDB-PB), Ricardo Ferraço (PMDB-ES), José Medeiros (PPS-MT), Ronaldo Caiado (DEM-GO), José Agripino Maia
(DEM-RN) e Sérgio Petecão (PSD-AC).
Viajaram,
como se sabe, em avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Precedidos por
comunicação oficial, o Governo Nicolás
Maduro de modo algum poderia desconhecer-lhe o caráter e os deveres que
incumbem ao país anfitrião.
Não foi o
que ocorreu.
Foi a
seguinte a recepção dada à comitiva senatorial por Ruy Carlos Pereira,
Embaixador do Brasil em Caracas: recebeu a comitiva no avião e colocou (os
senadores) em uma van. Não os acompanhou, segundo é praxe em missões oficiais
desse nível, nem determinou que diplomata da embaixada acompanhasse a missão.
Retidos no
avião por cerca de vinte minutos, ao invés de se dirigirem para o saguão, onde
eram esperados pelas mulheres e familiares dos presos, foram colocados na
van, e os batedores seguiram para fora do aeroporto.
Os senadores
(ao saberem que eram esperados no saguão por familiares dos presos) ordenaram
ao motorista que retornasse ao aeroporto.
Seguiu-se
sucessão de transtornos, obviamente orquestrados para inviabilizar a missão
oficial brasileira. Os batedores nada fizeram para cumprir a sua missão, que é
de agilizar o percurso da viatura que transportava os senadores. Depois do encontro com os familiares, a van
foi cercada por cinquenta manifestantes que gritavam palavras de ordem e
pediam aos senadores que voltassem (os batedores nada fizeram para impedir que
o veículo fosse cercado).
Como a Polícia
Nacional Bolivariana – o Libertador está presente em todas as forças do regime,
com insistência que se afigura um tanto ridícula – nada fizesse para
proteger da turba a comitiva, que esmurrava o veículo e atirava pedras e
laranjas, enquanto berrava: “Chávez não morreu, se multiplicou!” e “Fora, fora!”.
Os senadores
ficaram cerca de três horas dentro da van sitiada. Mantiveram contato com o
Presidente do Senado, Renan Calheiros e até mesmo com o Embaixador Ruy Pereira,
que continuava ausente.
No meio da
tarde, o Embaixador Pereira disse, por telefone, ao Senador Aloysio Ferreira
que uma das vias tinha sido desbloqueada. Então, a missão fez derradeiro intento de chegar ao presídio de Ramo Verde, onde está Leopoldo López. Essa enésima tentativa da caravana só pôde avançar um
quilômetro.
Já no aeroporto, quando os senadores se
preparavam para regressar, o embaixador Pereira chegou. Dirigindo-se ao Senador
Aloysio, disse: “Me falaram: ‘Vá lá se encontrar com os senadores’. Mas eu
também estava retido no trânsito. Sei tudo o que aconteceu e quero deixar claro
que não concordo com nada.”
As mulheres
de Caracas que, por um capricho dos deuses, são todas da oposição, assim se
manifestaram:
“É
inacreditável que levem uma cidade ao colapso para impedir que um preso
político seja visitado. A Venezuela não
é isso. É um país amigável e caloroso.
Mas o que vimos foi que MADURO está com medo e mostrou fragilidade”.
Assim se expressou Lilian Tintori, a mulher de López.
“Maduro está
encurralado, sem saída, porque sabe que os olhos do mundo todo se voltam para a
Venezuela neste momento”, disse Mitzy Ledezma, esposa de Antonio Ledezma,
prefeito de Caracas, ora em prisão domiciliar.
“ Maduro não
entende as implicações desta agressão contra o Brasil e o Mercosul. Este regime
está pior do que eu pensava”, falou a também corajosa Deputada Maria Corina, “cassada”
pelo presidente da Assembléia, Diosdado Cabello.
Um escritor,
Fernando Morais, que à testa de grupelho
de brasileiros, tentou fazer contraponto à missão de Aécio Neves. Asseverou, em conjunto de frases que levam
desconforto a ouvintes: “Viemos para nos solidarizar com os venezuelanos
sobre o caso dessa provocação (sic) de Aécio Neves. (...) Aécio nunca se
interessou pelos direitos humanos em nenhum lugar do mundo. (Depois de citar
que o Senador por Minas Gerais não se teria manifestado sobre a prisão de
Guantánamo, acrescentou estranho non
sequitur[1]): Até os Estados
Unidos da América já admitiram a tortura em Guantánamo (?).
Por fim, a
propósito das confusões em torno da missão brasileira a Caracas, permito-me
transcrever duas ou três frases de artigo de Ricardo Noblat: “Foi um
retumbante sucesso a visita frustrada a presos políticos venezuelanos da comitiva de oito senadores
brasileiros liderada por Aécio Neves (PSDB-MG). Se Maduro, o presidente que
sucedeu a Hugo Chávez não se comportasse como o déspota que é, a visita teria merecido uma notícia de
pé de página em nossos jornais. E não repercutiria lá fora.” E assim as
encerra: “Democracia de mentira não resiste à pressão natural dos que pensam
viver em uma democracia. E daqueles que cobram uma democracia de verdade. Mais dia, menos dia, cai sua máscara. No caso da Venezuela, a máscara caíu. E só
governos ideologicamente afinados com o governo Maduro, como o brasileiro,
fingem não enxergar isso. Ou pior: de fato não enxergam.”(meu o grifo)
Não é de hoje a cumplicidade do
Lulo-Dilmismo com o falimentar regime de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Acaso
não se lembram da suspensão oportunista do pequeno Paraguai para abrir a
cancela ao ingresso da Venezuela chavista no Mercosul? E de ter, para
tanto, a suave Dilma Rousseff atropelado até o Pepe
Mujica?
( Fontes: O Globo, R.
Noblat, Folha de S. Paulo )
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