terça-feira, 23 de junho de 2015

Desconstruindo Lula ?

                                          

          Luiz Inácio Lula da Silva está passando por um momento difícil, tanto político, quanto pessoal. Nesse sentido, dá a muitos a impressão de estar lidando de maneira aberta diante dos múltiplos problemas que, pelo visto, teria a intenção de estar compartilhando com a opinião pública.

          E, no entanto, não se deve esquecer – o que amiúde ocorre – que o Presidente Lula é um dos políticos mais ladinos da safra que continua em atividade, e para muitos,  no que tange aos malabarismos da política, seria o melhor de todos.

           Vamos por partes. Quanto ao PT, lamenta que não aja como dantes, i.e., o partido aguerrido, que defendia com vigor os próprios ideais. Àquele PT de oposição, firme e resoluto nos seus propósitos e sobretudo quanto aos ideais que defendia, contrapõe o Partido dos Trabalhadores no cimo do poder. Agora, para ele, o PT está velho. E esta senectude é manifesta, porque o partido, ao contrário dos ideais de antigamente, tem o respectivo  projeto  paralisado pela burocracia.

            E a explicação dessa mudança é fácil. Hoje o PT só pensa em empregos e cargos, e não é mais aquele partido vigoroso e jacobino de seus tempos de oposição.

            Completando esta imagem negativa do PT hodierno, Lula afirma que o partido hoje está abaixo do volume morto. Essa imagem, vinda da crise hídrica, manifestada sobretudo em São Paulo, é empregada de forma enfática a ponto de colocar o  Partido dos Trabalhadores debaixo de seus dois líderes principais, Lula e Dilma, que, pelo menos, estariam no volume morto e não abaixo dele, como o partido (e suas correntes).

             Aí, e já no paroxismo da ênfase,  Lula da Silva toma cuidado de distanciar-se um pouco da atual mediocridade do partido. Essa distância lhe pode ser útil, dentro de uma dialética por vir, em que o fundador e líder se empenhe em dar novas determinações aos correligionários, para que eventualmente o PT o acompanhe na sua caminhada. Quanto à Dilma, apesar de criticá-la, não quer decerto alijá-la, porque tal não serviria aos desígnios dele próprio e partidários.

              Belo quadro, não lhes parece?  No entanto, desde os primeiros dias de seu governo, nos idos de 2003, Lula cuidou sobretudo de aumentar os cargos e os empregos para os militantes petistas. Para tanto – no que demonstrou grande afã – não hesitou em derrogar determinação do antecessor FHC quanto à formação universitária dos ocupantes dos diversos DAS da república. Surpreendeu desde logo a avalanche de petistas  que nomeou para os diversos cargos burocráticos e de direção na estrutura administrativa do Estado.  Desde os inícios, causou não pequena preocupação a ênfase do governo de Lula da Silva em aparelhar o Estado com militantes saídos dos fornos incessantes do Partido dos Trabalhadores.  Nesse contexto, logo chamaria a atenção o montante em que Lula e os gerarcas do PT se mostraram dispostos em inchar os gastos correntes do Estado. Nesse sentido, e mesmo contra a corrente da pós-modernidade, o PT jamais hesitou em elevar esses gastos correntes a altos percentuais, mesmo diante das reservas e das advertências de que ao aumentar demasiado a máquina burocrática estatal, estaria criando verdadeiro monstro, eis que esses gastos correntes não são flexíveis, mas ao invés contribuem para a rigidez da máquina burocrática estatal.

                Por isso, talvez porque muito se passou, e o grande líder esqueceu-se de tais pormenores, parece hoje um tanto contraditório que se censure os militantes por só desejarem aquilo, vale dizer emprego e colocação,  quando tampouco o grande líder assim pensava desde o início, com a sua ênfase no EMPREGO.

                Igualmente na área do emprego não se deve esquecer que, partindo do disfuncional FOME ZERO, o PT evoluíu para criar, dentro do assistencialismo, o BOLSA FAMILIA, hoje um grande sucesso, embora os seus percentuais, como 91% no Maranhão levantem a lebre de que tal esquema assistencialista semelha congelar-se num caráter permanente, com o contentamento dos extratos mais pobres do Nordeste em ter o Bolsa Família não como estágio de progressão pessoal e familiar, mas um pouso assistencialista, em que as pessoas e as famílias não semelham tão interessadas em progredir e assumir empregos reais e produtivos, mas levar  precária vidinha, nos limites da caridade pública.

                 Por outro lado, há mais uma variação de Lula, o que se sente ameaçado não politicamente, mas penalmente. Há pouquíssimos dias, ele chegou mesmo a dizer que era o próximo objetivo do Juiz Sérgio Moro.

                 Com a sua relação tão chegada às empreiteiras e notadamente com a Norberto Odebrecht, a reação diante das prisões dos presidentes desta última, e da Andrade Gutierrez dá a impressão de certo nervosismo, sobretudo pelas ilações pessoais quanto à Lava-Jato, agora na sua fase Erga Omnes.  Talvez esse latim terá assustado ainda mais o grande líder.

                 Será difícil determinar porque Lula da Silva se sente hoje cada vez mais ameaçado?

                  O grande segredo não sói permanecer como tal por um período lato de tempo. O passar dos dias e dos meses têm função tão deletéria, quanto familiarizante.  O que antes só se expressava, nas colunas da imprensa dos principais correspondentes, por baixo de densa rede, quase impenetrável, de tímidas e discretas alusões, o Tempo, com o seu vezo simplificador e quase cínico, vem dando sujeito e complementos de circunstância às orações, a ponto de que a leitura dos eventuais responsáveis comece a ser  quase banalizada.

                  Nesse contexto, fala-se de grandes planos de Lula da Silva, na sua recriação do PT, e na sua candidatura em 2018.

                   A política e os seus escribas muita vez se emaranham nas próprias projeções. Porque, como já dizia Armando Falcão, que era a voz da Ditadura, o futuro a Deus pertence.  Todos sabemos que Dilma Rousseff não mais o tem, devendo recolher-se em 2019 – se não houver acidentes de percurso – ao remanso dos assuntos particulares.

                   Já quanto a Lula...   

 

( Fontes: O Globo, site de O Globo )

Nenhum comentário: