Luiz Inácio Lula da Silva está passando
por um momento difícil, tanto político, quanto pessoal. Nesse sentido, dá a
muitos a impressão de estar lidando de maneira aberta diante dos múltiplos problemas
que, pelo visto, teria a intenção de estar compartilhando com a opinião pública.
E, no
entanto, não se deve esquecer – o que amiúde ocorre – que o Presidente Lula é
um dos políticos mais ladinos da safra que continua em atividade, e para
muitos, no que tange aos malabarismos da
política, seria o melhor de todos.
Vamos por
partes. Quanto ao PT, lamenta que não
aja como dantes, i.e., o partido aguerrido,
que defendia com vigor os próprios ideais. Àquele PT de oposição, firme e
resoluto nos seus propósitos e sobretudo quanto aos ideais que defendia, contrapõe
o Partido dos Trabalhadores no cimo do poder. Agora, para ele, o PT está velho.
E esta senectude é manifesta, porque o partido, ao contrário dos ideais de
antigamente, tem o respectivo projeto paralisado pela burocracia.
E a
explicação dessa mudança é fácil. Hoje o PT só pensa em empregos e cargos, e
não é mais aquele partido vigoroso e jacobino de seus tempos de oposição.
Completando esta imagem negativa do PT hodierno, Lula afirma que o
partido hoje está abaixo do volume morto.
Essa imagem, vinda da crise hídrica, manifestada sobretudo em São Paulo, é
empregada de forma enfática a ponto de colocar o Partido dos
Trabalhadores debaixo de seus dois líderes principais, Lula e Dilma, que, pelo
menos, estariam no volume morto e não
abaixo dele, como o partido (e suas correntes).
Aí, e já
no paroxismo da ênfase, Lula da Silva
toma cuidado de distanciar-se um pouco da atual mediocridade do partido. Essa
distância lhe pode ser útil, dentro de uma dialética por vir, em que o fundador
e líder se empenhe em dar novas determinações aos correligionários, para que
eventualmente o PT o acompanhe na sua caminhada. Quanto à Dilma, apesar de
criticá-la, não quer decerto alijá-la, porque tal não serviria aos desígnios dele
próprio e partidários.
Belo
quadro, não lhes parece? No entanto,
desde os primeiros dias de seu governo, nos idos de 2003, Lula cuidou sobretudo
de aumentar os cargos e os empregos para os militantes petistas. Para tanto –
no que demonstrou grande afã – não hesitou em derrogar determinação do
antecessor FHC quanto à formação
universitária dos ocupantes dos diversos DAS da república. Surpreendeu desde
logo a avalanche de petistas que nomeou
para os diversos cargos burocráticos e de direção na estrutura administrativa
do Estado. Desde os inícios, causou não
pequena preocupação a ênfase do governo de Lula da Silva em aparelhar o Estado
com militantes saídos dos fornos incessantes do Partido dos Trabalhadores. Nesse contexto, logo chamaria a atenção o
montante em que Lula e os gerarcas do PT se mostraram dispostos em inchar os gastos correntes do Estado. Nesse
sentido, e mesmo contra a corrente da pós-modernidade, o PT jamais hesitou em
elevar esses gastos correntes a altos percentuais, mesmo diante das reservas e
das advertências de que ao aumentar demasiado a máquina burocrática estatal,
estaria criando verdadeiro monstro, eis que esses gastos correntes não são
flexíveis, mas ao invés contribuem para a rigidez da máquina burocrática
estatal.
Por
isso, talvez porque muito se passou, e o grande líder esqueceu-se de tais
pormenores, parece hoje um tanto contraditório que se censure os militantes por
só desejarem aquilo, vale dizer emprego e colocação, quando tampouco o grande líder assim pensava
desde o início, com a sua ênfase no EMPREGO.
Igualmente na área do emprego não se deve
esquecer que, partindo do disfuncional FOME ZERO, o PT evoluíu para criar,
dentro do assistencialismo, o BOLSA
FAMILIA, hoje um grande sucesso, embora os seus percentuais, como 91% no
Maranhão levantem a lebre de que tal esquema assistencialista semelha
congelar-se num caráter permanente, com o contentamento dos extratos mais
pobres do Nordeste em ter o Bolsa Família não como estágio de progressão
pessoal e familiar, mas um pouso assistencialista, em que as pessoas e as
famílias não semelham tão interessadas em progredir e assumir empregos reais e
produtivos, mas levar precária vidinha,
nos limites da caridade pública.
Por
outro lado, há mais uma variação de Lula, o
que se sente ameaçado não politicamente,
mas penalmente. Há pouquíssimos dias, ele chegou mesmo a dizer que era o
próximo objetivo do Juiz Sérgio Moro.
Com a
sua relação tão chegada às empreiteiras e notadamente com a Norberto
Odebrecht, a reação diante das prisões dos presidentes desta última, e
da Andrade
Gutierrez dá a impressão de certo nervosismo, sobretudo pelas ilações
pessoais quanto à Lava-Jato, agora na sua fase Erga Omnes. Talvez esse latim terá assustado ainda mais o
grande líder.
Será difícil
determinar porque Lula da Silva se sente hoje cada vez mais ameaçado?
O
grande segredo não sói permanecer como tal por um período lato de tempo. O
passar dos dias e dos meses têm função tão deletéria, quanto
familiarizante. O que antes só se
expressava, nas colunas da imprensa dos principais correspondentes, por baixo
de densa rede, quase impenetrável, de tímidas e discretas alusões, o Tempo, com
o seu vezo simplificador e quase cínico, vem dando sujeito e complementos de
circunstância às orações, a ponto de que a leitura dos eventuais responsáveis
comece a ser quase banalizada.
Nesse contexto, fala-se de grandes planos de Lula da Silva, na sua recriação
do PT, e na sua candidatura em 2018.
A
política e os seus escribas muita vez se emaranham nas próprias projeções.
Porque, como já dizia Armando Falcão, que era a voz da
Ditadura, o futuro a Deus pertence. Todos sabemos que Dilma Rousseff não mais o tem,
devendo recolher-se em 2019 – se não houver acidentes de percurso – ao remanso
dos assuntos particulares.
Já
quanto a Lula...
( Fontes: O Globo,
site de O Globo )
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