sexta-feira, 26 de junho de 2015

Na Contramão ?

                                             

        Por ordem de Lula, a executiva do PT, reunida em São Paulo, aprovou resolução em que se apressa em atender-lhe as críticas. Como mandava o ex-presidente, o Partido endurece o confronto  com os investigadores da Operação Lava-Jato.

        Quatro de seus itens são dedicados à investigação. Quem lê o texto ficará confuso pelo menos, pois se tem a impressão de que a hierarquia petista se refugia na negação e na fuga da realidade.

        Abstendo-se de mencionar o Juiz Sérgio Moro, que é o responsável pelos processos da Lava-Jato, o presidente do Partido dos Trabalhadores, obedecendo às cobranças do Grande Líder, classificou de “inexplicável e inaceitável” a manutenção da prisão do ex-tesoureiro do partido, João Vaccari Neto.

         Como a argumentação da cúpula partidária, que pelo visto se submete às posturas do grande líder, no que apresenta inquietantes sintomas de quem desconhece a realidade, creio útil transcrever o que diz o dicionário Houaiss no verbete esquizofrenia:

         termo geral que designa um conjunto de psicoses endógenas cujos sintomas fundamentais apontam a existência de uma dissociação da ação e do pensamento, expressa em uma sintomatologia variada, com delírios persecutórios, alucinações especialmente auditivas, labilidade (instabilidade) afetiva, etc.” (meu o grifo)

         Num sentido de quem vive em diversa realidade daquela que confronta a sociedade brasileira e sua imprensa, a resolução aponta na Lava-Jato,  violação dos “princípios  da presunção da inocência, que prisões preventivas sem fundamento se prolongam e que um estado de exceção está sendo gestado em afronta à Constituição.”

         Na dita Resolução, o PT extrapola, e chega até a defender as empreiteiras acusadas de participar do esquema de corrupção na Petrobrás, argumentando com o risco do desemprego:

          “Preocupam o PT as consequências para a economia nacional do prejulgamento de empresas acusadas no âmbito da Operação Lava-Jato. É preciso apressar os acordos de leniência, que permitam  a recuperação de recursos eventualmente desviados e que não se paralisem obras, a fim de impedir a quebra de empresas e a continuidade das demissões daí resultantes.”

           Comovente, não lhes parece?  Essa preocupação social do grande Líder só surge quando o ataque dos corruptos à Petróleo Brasileiro S.A. é desvendado pela operação da Polícia Federal e vem sendo julgada, com exação e coragem, pelo Juiz Sérgio Moro.

          Nesse contexto se insere o estranhíssimo pedido de habeas corpus preventivo que foi protocolado em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa iniciativa teria sido tomada exclusivamente por Maurício Ramos Thomaz, e seria para evitar  uma eventual prisão preventiva de Lula da Silva.

          O desembargador João Pedro Gebran Neto negou o pedido, considerando não existir fundamento legal:  “Cuida-se apenas de aventura jurídica que em nada contribui para o presente momento, talvez prejudicando e expondo o próprio ex-presidente,uma vez que o remédio constitucional (habeas corpus preventivo) foi proposto à sua revelia.”

           De qualquer forma, o tal habeas corpus preventivo causou comoção política e turbulência no mercado financeiro.  Assim que a notícia começou a circular, a Bolsa de São Paulo intensificou  a tendência de queda pela iminência da crise política. Nesse sentido, o Instituto Lula pediu que a Justiça Federal desconsiderasse a solicitação. O próprio Juiz Sérgio Moro se manifestou a propósito, afirmando que Lula não é investigado na Lava-Jato.

            Não se sabe a que atribuir esse factóide, se confeccionado pela oposição, se por alguém condoído pelas inquietudes expressas pelo líder petista, que não fez segredo sobre a circunstância de que pensava estar na mira do Juiz Sérgio Moro.

            No seu presente estado de alguma excitação,  Lula parte para uma intromissão exacerbada nas questões de Governo e partido.  Assim, nesta segunda feira, o grande timoneiro disse que o partido precisa “fazer uma revolução interna, colocar gente nova, gente que pensa diferente”. Entre outras medidas, a Executiva decidiu ontem, 25 de junho, criar um Conselho com a participação até de não filiados. Segundo o solícito Falcão, será instância para ‘trocar ideias’ sobre a conjuntura política.

             Será o nervosismo de Lula da Silva, a quem irrita a passividade do PT, que empurra o Partido dos Trabalhadores a agitar declarações e quem sabe até  factóides, para dar impressão de um movimento determinado.

              Segundo Falcão, “vai ser um conselho ligado à presidência do PT com entre quinze e vinte participantes. Faremos uma reunião a cada trinta ou quarenta dias, com participação de gente do PT e gente amiga do PT.”

              O ativismo de Lula – não é por acaso que observadores o acham ‘pilhado’ – incluíu visita do Ministro da Comunicação Social, Edinho Silva.

               Por outro lado, supostamente para baixar a temperatura, a bancada do PT  na Câmara adiou a divulgação de documento respaldando as críticas de Lula, como havia feito a do Senado, e convidou o ex-presidente para  reunião na próxima semana, em Brasília.  O encontro aconteceria enquanto Dilma Rousseff visita afinal oficialmente o Presidente Barack Obama.   

                Lula parece por vezes um canhão solto no convés de navio que enfrenta mar agitado. Atira e reclama para todos os lados, e, pelo visto, desejaria  que se avalie como coerentes e construtivas as suas muitas e nem sempre lógicas posturas.

                Deblatera e investe não contra moinhos de vento, mas no que tange à realidades que se foram conformando, muita vez à revelia do Governo Dilma Rousseff e  do próprio Grande Comandante.

                As instâncias partidárias – que nele vêem a última esperança da manutenção do poder ainda além da Taprobana – atendem a todos os seus caprichos, ou pelo menos se esforçam em tal sentido. Sua Excelência estária próximo de um ataque de nervos? Ele decerto não é personagem de Almodobar, mas por vezes se tem a impressão de que ocorreria aqui outro fenômeno de conhecimento dos cinéfilos, mas só que de outro filme e outro cineasta, no caso Woody Allen.  No sentido contrário da Rosa Púrpura do Cairo, Lula batalha por sair da platéia  e adentrar o espaço do filme, onde tudo que lhe interessa estaria acontecendo. A manobra não é das mais fáceis, mas quem pode subestimar a Lula da Silva?

 

( Fonte: O Globo )

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