Por ordem de Lula, a executiva do PT,
reunida em São Paulo, aprovou resolução em que se apressa em atender-lhe as
críticas. Como mandava o ex-presidente, o Partido endurece o confronto com os investigadores da Operação Lava-Jato.
Quatro de seus
itens são dedicados à investigação. Quem lê o texto ficará confuso pelo menos,
pois se tem a impressão de que a hierarquia petista se refugia na negação e na
fuga da realidade.
Abstendo-se de
mencionar o Juiz Sérgio Moro, que é
o responsável pelos processos da Lava-Jato, o presidente do Partido dos Trabalhadores,
obedecendo às cobranças do Grande Líder, classificou de “inexplicável e inaceitável” a manutenção da prisão do ex-tesoureiro
do partido, João Vaccari Neto.
Como a argumentação
da cúpula partidária, que pelo visto se submete às posturas do grande líder, no
que apresenta inquietantes sintomas de quem desconhece a realidade, creio útil transcrever
o que diz o dicionário Houaiss no
verbete esquizofrenia:
“termo geral que designa um conjunto de
psicoses endógenas cujos sintomas fundamentais apontam a existência de uma
dissociação da ação e do pensamento, expressa em uma sintomatologia variada,
com delírios persecutórios, alucinações especialmente auditivas, labilidade
(instabilidade) afetiva, etc.” (meu o grifo)
Num sentido de quem vive em
diversa realidade daquela que confronta a sociedade brasileira e sua imprensa,
a resolução aponta na Lava-Jato, violação dos “princípios da presunção da
inocência, que prisões preventivas sem fundamento se prolongam e que um estado
de exceção está sendo gestado em afronta à Constituição.”
Na dita
Resolução, o PT extrapola, e chega até a defender as empreiteiras acusadas de
participar do esquema de corrupção na Petrobrás, argumentando com o risco do
desemprego:
“Preocupam o
PT as consequências para a economia nacional do prejulgamento de empresas
acusadas no âmbito da Operação Lava-Jato. É preciso apressar os acordos de leniência,
que permitam a recuperação de recursos
eventualmente desviados e que não se paralisem obras, a fim de impedir a quebra
de empresas e a continuidade das demissões daí resultantes.”
Comovente,
não lhes parece? Essa preocupação social
do grande Líder só surge quando o ataque dos corruptos à Petróleo Brasileiro
S.A. é desvendado pela operação da Polícia Federal e vem sendo julgada, com
exação e coragem, pelo Juiz Sérgio Moro.
Nesse
contexto se insere o estranhíssimo pedido de habeas corpus preventivo que foi protocolado em favor do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa iniciativa teria sido tomada
exclusivamente por Maurício Ramos Thomaz,
e seria para evitar uma eventual prisão
preventiva de Lula da Silva.
O
desembargador João Pedro Gebran Neto negou o pedido, considerando não existir
fundamento legal: “Cuida-se apenas de
aventura jurídica que em nada contribui para o presente momento, talvez
prejudicando e expondo o próprio ex-presidente,uma vez que o remédio
constitucional (habeas corpus preventivo) foi proposto à sua revelia.”
De qualquer
forma, o tal habeas corpus preventivo
causou comoção política e turbulência no mercado financeiro. Assim que a notícia começou a circular, a
Bolsa de São Paulo intensificou a
tendência de queda pela iminência da crise política. Nesse sentido, o Instituto
Lula pediu que a Justiça Federal desconsiderasse a solicitação. O próprio Juiz Sérgio Moro se manifestou a
propósito, afirmando que Lula não é investigado na Lava-Jato.
Não se
sabe a que atribuir esse factóide, se confeccionado pela oposição, se por
alguém condoído pelas inquietudes expressas pelo líder petista, que não fez
segredo sobre a circunstância de que pensava estar na mira do Juiz Sérgio Moro.
No seu
presente estado de alguma excitação,
Lula parte para uma intromissão exacerbada nas questões de Governo e
partido. Assim, nesta segunda feira, o
grande timoneiro disse que o partido precisa “fazer uma revolução interna,
colocar gente nova, gente que pensa diferente”. Entre outras medidas, a
Executiva decidiu ontem, 25 de junho, criar um Conselho com a participação até
de não filiados. Segundo o solícito Falcão, será instância para ‘trocar ideias’
sobre a conjuntura política.
Será o
nervosismo de Lula da Silva, a quem irrita a passividade do PT, que empurra o
Partido dos Trabalhadores a agitar declarações e quem sabe até factóides, para dar impressão de um movimento
determinado.
Segundo
Falcão, “vai ser um conselho ligado à presidência do PT com entre quinze e
vinte participantes. Faremos uma reunião a cada trinta ou quarenta dias, com
participação de gente do PT e gente amiga do PT.”
O
ativismo de Lula – não é por acaso que observadores o acham ‘pilhado’ – incluíu visita do Ministro da
Comunicação Social, Edinho Silva.
Por
outro lado, supostamente para baixar a temperatura, a bancada do PT na Câmara adiou a divulgação de documento
respaldando as críticas de Lula, como havia feito a do Senado, e convidou o
ex-presidente para reunião na próxima
semana, em Brasília. O encontro
aconteceria enquanto Dilma Rousseff visita afinal oficialmente o Presidente
Barack Obama.
Lula
parece por vezes um canhão solto no convés de navio que enfrenta mar agitado.
Atira e reclama para todos os lados, e, pelo visto, desejaria que se avalie como coerentes e construtivas as
suas muitas e nem sempre lógicas posturas.
Deblatera e investe não contra moinhos de vento, mas no que tange à
realidades que se foram conformando, muita vez à revelia do Governo Dilma
Rousseff e do próprio Grande Comandante.
As
instâncias partidárias – que nele vêem a última esperança da manutenção do
poder ainda além da Taprobana – atendem a todos os seus caprichos, ou pelo
menos se esforçam em tal sentido. Sua Excelência estária próximo de um ataque
de nervos? Ele decerto não é personagem de Almodobar, mas por vezes se tem a
impressão de que ocorreria aqui outro fenômeno de conhecimento dos cinéfilos,
mas só que de outro filme e outro cineasta, no caso Woody Allen. No sentido contrário da Rosa Púrpura do Cairo, Lula
batalha por sair da platéia e adentrar o
espaço do filme, onde tudo que lhe interessa estaria acontecendo. A manobra não
é das mais fáceis, mas quem pode subestimar a Lula da Silva?
( Fonte: O Globo )
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