A Turquia reabre a fronteira
No espaço sem lei no leste da
Síria, a multidão de refugiados da interminável guerra civil daquele país, agora
em meio às lutas entre os peshmerga
do Curdistão e os jihadistas do
chamado Estado islâmico, conseguiu, já em desespero de causa, que tivesse
consentida a passagem para a relativa segurança da Turquia.
Para evitar
receber mais sírios, tangidos pela guerra entre o ISIS e os curdos, Ancara havia determinado que somente em caso de
tragédia humanitária reabriria a sua terra.
Foi o que ontem ocorreu, quando cessaram os
canhões d’água, os lançamentos de gás
lacrimogêneo e temporariamene abaixadas as barreiras de arame farpado. Os
refugiados da cidade de Tell Abyade, precariamente abrigados
na derradeira região síria, literalmente forçaram a passagem, tangidos por
desespero que lhes fez arriscar a vida para tentar escapar do embate entre
curdos e islamitas, pelo recurso de última instância de cruzar a fronteira com
a Turquia.
Na energia
do desespero, movidos pela força de quem nada mais tem a perder, criaram passagens
para o refúgio no território, seja escavando buracos sob o arame farpado, seja
arrostando o gás lacrimogêneo, seja derrubando aquele símbolo do egoismo e da
impiedade, que são os xenofóbicos jatos d’água, que pensam resolver os seus problemas
das massas de desvalidos, simplesmente através de ignorância que teima em
barrar-lhes a passagem, e desse modo conseguindo mantê-los felizmente à distância do
respectivo país.
Estima-se
que dez mil infelizes civis, antes residentes em verdadeira terra de ninguém na
Síria, lograram atravessar para a Turquia, onde já se encontram inúmeros campos
de deslocados pela guerra. Para os mais
afortunados dentre essa gente, já despojada de seus tugúrios e lares, haverá a
sorte de reencontrar familiares nos acampamentos turcos.
O general Omar al-Bashir, que é Presidente do
Sudão, não costuma viajar muito, e para tanto, forçoso será admitir, terá boas
razões.
Pois al-Bashir
é um dos perseguidos do Tribunal Penal Internacional, instância
de que, salvo erro ou omissão, o Brasil não pertence. Deveria, no entanto,
integrar essa Corte, que se empenha em que os tiranos desse mundo (e os há,
acreditem!) sejam detidos, conduzidos à Haia, e lá tenham de responder por seus
crimes. Se inocentes forem, como sóem apregoar, estarão livres para viajar...
Se não...
O TPI pede
a detenção do general Bashir desde
2009, quando foi acusado de crimes de guerra e contra a Humanidade. Como se tal não bastasse, desde 2010 Omar
al-Bashir passou igualmente a ser implicado em homicídio.
O senhor
general Bashir pensava rever amigos na África do Sul, ao ensejo da reunião de
cúpula da União Africana. Mais eis que uma dessas ONGs entrou com requerimento
na justiça para que Sua Excelência fosse impedido de sair ! Como se tal não
bastasse, o general Bashir – que há muito se queixa de ser atazanado sem dó nem
piedade pelos Javert da Haia – teve reforçada
a requisição com o pedido de que seja extraditado (pelos crimes nos conflitos
em Darfur, no Oeste do Sudão, onde mais de trezentas mil pessoas morreram desde
2003).
O juiz Hans Fabricius pediu que o
Governo sul-africano tome “todas as medidas necessárias” para impedir que o líder sudanês deixe o país. No dia de
hoje, quinze de junho, a Justiça ouvirá as argumentações de ambos os lados.
A primeira
vista, o general Bashir, reeleito em abril pp com 94% dos votos - que bela contagem, não é, com que o povaréu
distingue esses ditadores ! – teria boas chances de escapar dessa convocação.
No entanto, há gente que espera que desta feita se trabalhe em prol da
Justiça. A Africa do Sul parece,
contudo, haver esquecido Nelson Mandela. Sem falar de Zuma, o atual
presidente, não é que o Conselho
Nacional Africano(o partido governista) afirmou que o TPI “não é mais útil para os propósitos a que
foi concebido” ?!
Francamente, não entendo essa observação. Sei que é por causa do TPI que o professor Henry Kissinger
prefere não viajar para determinados países, por causa de queixas mesquinhas oriundas de acusações contra
ele em ter participado de conluios contra os direitos humanos com a ditadura de
Pinochet... Pode haver mais injustiça contra esse aficionado do futebol, que às
vezes se tem de contentar com a televisão para ver as grandes partidas?...
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
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