Com a Rússia nas mãos de agente do
KGB, a história se posiciona
para
repetir-se. Sofi
Oksanen,escritora
finlandesa.
A pequena Estônia, ao norte do Mar
Báltico, se independizou da Rússia, quando do desaparecimento em 1992 da União
Soviética. Como as demais repúblicas bálticas
(junto com Letônia e Lituânia), a Estônia perdera a sua independência em
consequência do Tratado de não-agressão entre a Alemanha nazista e a URSS.
Como se
sabe, as nações bálticas tinham ganho a sua independência com o Tratado de
Versailles, em 1919. Seria, no entanto, efêmera conquista, que a IIª Guerra
Mundial anularia. De início, com o Tratado Molotov-Ribbentrop, que na foto
famosa deixara exultante o Camarada Joseph Stalin, a área foi partilhada por
Moscou e Berlin.
Na
Estônia, a princípio sob o poder de Moscou, com a guerra Alemanha –URSS, toda
essa região cairia nas mãos de Adolf Hitler. Já na fase final desse conflito, a Estônia,
como as demais repúblicas bálticas, voltaria ao mando do Exército Vermelho.
Não
deve espantar que esses amos – tanto o III Reich
de Adolf Hitler, quanto o império soviético – tenham tratado com brutalidade os
povos que por infortúnio geográfico eram seus vizinhos.
Daí o
trauma dos povos que vivem à sombra do Kremlin, sobretudo aqueles menores, em
que há longo histórico de dominação russa. Não seria diferente, portanto, no
caso da Estônia.
E por
isso a escritora finlandesa – outro país objeto de agressões russas, e que pela
sua capacidade pôde manter a própria independência, posto que sob a ominosa
sombra da chamada finlandização, i.e.
a sua composição com Moscou – se tem dedicado, como se refere no cabeçalho,a
criar narrativas inspiradas na difícil existência dos povos dessas repúblicas
bálticas. E a Estônia, de novo ameaçada, é um dos cenários a que dá maior
atenção.
Não
foi sem razão que o Presidente Barack Obama considerara um atraso na história
européia tanto a invasão da Ucrânia, quanto a anexação da Crimeia. Esse brutal
retrocesso custou caro a gospodin Vladimir V. Putin. Defenestrado do G-8 -
Obama ía visitá-lo em Moscou – o ex-chefe do FSB (o novo nome do sinistro KGB),
depois do bem sucedido golpe do good cop –
bad cop, com o mandato de 4 anos de Dmitri Medvedev em que Putin, como
Primeiro Ministro, manteve um perfil baixo, ele semelha ter regressado com
excessivo otimismo.
Assim, a sua ação contra a Ucrânia – causada pela deposição do ‘amigo’
Viktor Yanukovich – com a anexação da península da Crimeia provocou reação –
decerto previsível dada a enormidade do crime – mas que, na verdade o surpreenderia, pela dosada virulência em que o Ocidente – e notadamente
os Estados Unidos – puniria com sanções dolorosas porque certeiras a economia
russa, que já atravessava crise devida à queda nas cotações do barril de
petróleo, que é o seu principal fundamento financeiro.
A
professora Karen Dawisha, professora de Ciência Política, especialista em
Rússia, na Universidade de Oxford, Ohio, nos brindou com o livro ‘A
Cleptocracia de Putin’, que mostra a progressão desse agente da atual FSB,
passando por Dresden, na então DDR (República Democrática Alemã) para começar
em São Peterburgo o seu aprendizado no racket da prefeitura, sob o Prefeito
Anatoliy Sobchak.
Terá
sido um erro de avaliação de Vladimir Putin, no que tange aos eventos
desencadeados na Ucrânia, fundado na sua experiência contra as pequenas
repúblicas da Georgia e da Moldova, quando as coisas lhe saíram bem? É difícil,
por conseguinte, determinar se a agressão contra a Ucrânia que, apesar dos
precedentes contra a Geórgia e a Moldova, teria consequências muito diversas
para a Rússia, do que as suas ações no tempo de George W. Bush.
Como a jogada de passar o governo – mas não o
poder – para o leal amigo Medvedev fora um êxito, pode-se alvitrar que, com o
sangue frio dos homens fortes, terá julgado que as consequências seriam
administráveis...
De qualquer forma, Putin tem
idéias muito elásticas sobre o ‘estrangeiro
próximo’, esse conceito que já explica, em boa parte, a desenvoltura do Kremlin
no que tange aos pouco afortunados países que vivem nas cercanias da esfera do
Império Russo.
É
difícil determinar se o endurecimento da OTAN, em que se reforça a sua presença
bélica com pesados tanques modernos, condicionará atitude mais aberta ao
diálogo de parte de Moscou.
Segundo o anúncio do novel Secretário da Defesa, Ash Carter, Washington determinou o posicionamento de 250
tanques, peças de artilharia e outros equipamentos militares na região leste
européia. Essa iniciativa decorre do envolvimento da Federação Russa na
conflagração a leste da Ucrânia.
O
Secretário da Defesa confirmou que tanto
a Estônia, Lituânia e Letônia, quanto Bulgária, Romênia e Polônia concordaram
em receber esse equipamento bélico pesado. Acrescentou Carter que parte do
material será instalado igualmente na Alemanha, o que tende a indicar mudança
de postura da Chanceler Angela Merkel.
Por ora, não há indicações quanto a possíveis mudanças na eventual
assistência de parte do Ocidente a Kiev. De qualquer forma, essa alteração no
pro-ativismo da OTAN, com a mobilização de material pesado em países em torno
da Ucrânia deve dar uma outra idéia quanto à postura da OTAN, se a tentativa de
fragmentação da região leste da República Ucraniana de parte dos ‘rebeldes
pró-Rússia’ receber um novo impulso. Para tanto, se segue de perto a situação
do segundo Cessar- Fogo de Minsk.
( Fontes: The New York Review of Books, Folha
de S.Paulo, A Cleptocracia de Putin, por Karen Dawisha ).
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