quarta-feira, 24 de junho de 2015

Tanques americanos no Leste Europeu


                                                                                                             

                                              Com a Rússia nas mãos de agente do
                                              KGB, a história se posiciona para
                                              repetir-se. Sofi Oksanen,escritora
                                              finlandesa.

 

               A pequena Estônia, ao norte do Mar Báltico, se independizou da Rússia, quando do desaparecimento em 1992 da União Soviética. Como as demais repúblicas bálticas  (junto com Letônia e Lituânia), a Estônia perdera a sua independência em consequência do Tratado de não-agressão entre a Alemanha nazista e a URSS.

               Como se sabe, as nações bálticas tinham ganho a sua independência com o Tratado de Versailles, em 1919. Seria, no entanto, efêmera conquista, que a IIª Guerra Mundial anularia. De início, com o Tratado Molotov-Ribbentrop, que na foto famosa deixara exultante o Camarada Joseph Stalin, a área foi partilhada por Moscou e Berlin.

               Na Estônia, a princípio sob o poder de Moscou, com a guerra Alemanha –URSS, toda essa região cairia nas mãos de Adolf Hitler. Já na fase final desse conflito, a Estônia, como as demais repúblicas bálticas, voltaria ao mando do Exército Vermelho.

               Não deve espantar que esses amos – tanto o III Reich de Adolf Hitler, quanto o império soviético – tenham tratado com brutalidade os povos que por infortúnio geográfico eram seus vizinhos.

                Daí o trauma dos povos que vivem à sombra do Kremlin, sobretudo aqueles menores, em que há longo histórico de dominação russa. Não seria diferente, portanto, no caso da Estônia.

                E por isso a escritora finlandesa – outro país objeto de agressões russas, e que pela sua capacidade pôde manter a própria independência, posto que sob a ominosa sombra da chamada finlandização, i.e. a sua composição com Moscou – se tem dedicado, como se refere no cabeçalho,a criar narrativas inspiradas na difícil existência dos povos dessas repúblicas bálticas. E a Estônia, de novo ameaçada, é um dos cenários a que dá maior atenção.

                 Não foi sem razão que o Presidente Barack Obama considerara um atraso na história européia tanto a invasão da Ucrânia, quanto a anexação da Crimeia. Esse brutal retrocesso custou caro a gospodin Vladimir V. Putin. Defenestrado do G-8    - Obama ía visitá-lo em Moscou – o ex-chefe do FSB (o novo nome do sinistro KGB), depois do bem sucedido golpe do good cop – bad cop, com o mandato de 4 anos de Dmitri Medvedev em que Putin, como Primeiro Ministro, manteve um perfil baixo, ele semelha ter regressado com excessivo otimismo.

                 Assim, a sua ação contra a Ucrânia – causada pela deposição do ‘amigo’ Viktor Yanukovich – com a anexação da península da Crimeia provocou reação – decerto previsível dada a enormidade do crime – mas que, na  verdade o surpreenderia, pela  dosada virulência em que o Ocidente – e notadamente os Estados Unidos – puniria com sanções dolorosas porque certeiras a economia russa, que já atravessava crise devida à queda nas cotações do barril de petróleo, que é o seu principal fundamento financeiro.

                    A professora Karen Dawisha, professora de Ciência Política, especialista em Rússia, na Universidade de Oxford, Ohio, nos brindou com o livro ‘A Cleptocracia de Putin’, que mostra a progressão desse agente da atual FSB, passando por Dresden, na então DDR (República Democrática Alemã) para começar em São Peterburgo o seu aprendizado no racket da prefeitura, sob o Prefeito Anatoliy Sobchak.

                     Terá sido um erro de avaliação de Vladimir Putin, no que tange aos eventos desencadeados na Ucrânia, fundado na sua experiência contra as pequenas repúblicas da Georgia e da Moldova, quando as coisas lhe saíram bem? É difícil, por conseguinte, determinar se a agressão contra a Ucrânia que, apesar dos precedentes contra a Geórgia e a Moldova, teria consequências muito diversas para a Rússia, do que as suas ações no tempo de George W. Bush.

                     Como a jogada de passar o governo – mas não o poder – para o leal amigo Medvedev fora um êxito, pode-se alvitrar que, com o sangue frio dos homens fortes, terá julgado que as consequências seriam administráveis...

                     De qualquer forma, Putin tem idéias muito elásticas  sobre o ‘estrangeiro próximo’, esse conceito que já explica, em boa parte, a desenvoltura do Kremlin no que tange aos pouco afortunados países que vivem nas cercanias da esfera do Império Russo.

                     É difícil determinar se o endurecimento da OTAN, em que se reforça a sua presença bélica com pesados tanques modernos, condicionará  atitude mais aberta ao diálogo de parte de Moscou.

                    Segundo o anúncio do novel Secretário da Defesa, Ash Carter,  Washington determinou o posicionamento de 250 tanques, peças de artilharia e outros equipamentos militares na região leste européia. Essa iniciativa decorre do envolvimento da Federação Russa na conflagração a leste da Ucrânia.

                     O  Secretário da Defesa confirmou que tanto a Estônia, Lituânia e Letônia, quanto Bulgária, Romênia e Polônia concordaram em receber esse equipamento bélico pesado. Acrescentou Carter que parte do material será instalado igualmente na Alemanha, o que tende a indicar mudança de postura da Chanceler Angela Merkel.

                     Por ora, não há indicações quanto a possíveis mudanças na eventual assistência de parte do Ocidente a Kiev. De qualquer forma, essa alteração no pro-ativismo da OTAN, com a mobilização de material pesado em países em torno da Ucrânia deve dar uma outra idéia quanto à postura da OTAN, se a tentativa de fragmentação da região leste da República Ucraniana de parte dos ‘rebeldes pró-Rússia’ receber um novo impulso. Para tanto, se segue de perto a situação do segundo Cessar- Fogo de Minsk.

 

( Fontes: The New York Review of Books, Folha de S.Paulo, A Cleptocracia de Putin, por Karen Dawisha ).

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