A denominação de um país não implica,
necessariamente, que ela corresponda à verdade factual. No tempo das repúblicas
democráticas populares, até mesmo as pessoas menos informadas não desconheciam que
o título oficial da nação não transmitia a realidade factual.
Somente um
tolo aceitaria como veraz que o democrático popular implicasse em regime livre
para o povo em geral. Não passava de rótulo mentiroso que tentava esconder
outra realidade, eis que o regime não era nem democrático, nem popular.
O que acaba
de acontecer com o estadista espanhol Felipe
González, ex-chefe do Governo da Espanha (1982-1996) sublinha a real
situação na pobre Venezuela. Convidado pelas famílias dos políticos opositores Leopoldo López e Antonio Ledezma para colaborar como assessor técnico na defesa
desses dois ilustres presos pelo sistema repressivo do Presidente Nicolás Maduro, González aceitou de bom grado.
A reação do
chavismo pode ser interpretada como estapafúrdia, eis que a Assembléia chegou
ao ridículo de proclamar Felipe González como persona non grata. Para esses pelegos e representantes de
parlamentos de fachada, as ordens devem ser cumpridas, mesmo as mais absurdas.
Que políticos da estatura de López, preso há mais de ano, e atualmente em greve
de fome, e Ledezma, prefeito de Caracas, que foi levado para o cárcere sem
alvará judicial pelos brucutus do Serviço de Segurança depois das violências
costumeiras, servir-se do apoio e das indicações de um político da estatura de
González, deveria ser interpretado por governo digno desse nome como um sinal
de apreço e de respeito ao Estado Venezuelano.
O regime
chavista venezuelano teria a coragem de barrar no aeroporto a Felipe González,
eis que a Assembleia o proclamara persona
non grata? Como não tem maior
consistência as próprias atitudes, tampouco teriam o ânimo de recusar-lhe o
ingresso no país.
Ao
contrário disso, o ex-caminhoneiro Maduro desceu ainda mais na mensagem de seu microblog: “Os assuntos da Venezuela são
nossos, apenas os venezuelanos podemos assumi-los. Nossa pátria repudia o
intervencionismo.”
Oferecer
assistência técnica, política e jurídica, de parte de um Felipe González seria
para outro país motivo suplementar para recebê-lo. Mas a mediocridade e o baixo
nível são traços distintivos deste regime que é incompetente na gestão
política, e paranóico nas alegadas ameaças à sua segurança.
Defender
um regime como esse – que leva Maduro a cancelar de forma desastrosa e
comprometedora uma audiência que solicitara com Papa Francisco, pela simples
razão de que não poderia desvencilhar-se da solicitação papal de libertar aos
políticos injustamente presos - e agora,
caindo em novos despautérios e pesada carga de ridículo, ao temer Felipe
González e tratá-lo como se fora uma canhoneira – me deixa um fundo pesar que
um país que tanto se assinalara na política tenha caído tão baixo, mas ao mesmo
tempo, me alenta a esperança de que gente tão estulta e incompetente não terá condições de permanecer por muito no
poder.
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
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