terça-feira, 16 de junho de 2015

Conta dos Malabarismos de Dilma I


                          

          Trocando em miúdos, tanto para os grandes devedores, quanto para os pequenos, chega sempre o dia do acerto de contas.  Para os contorcidos balanços do seu primeiro mandato, não bastará decerto a habilidade dos contadores da equipe de Guido Mantega, Ministro da Fazenda, e Arno Augustin, Secretário do Tesouro.

          A esperteza fiscal, como todos os malabarismos de conta, pode funcionar por algum tempo, mas haverá sempre a hora da verdade.

           Segundo primeiros exames pelos jornais – Folha e O Globo – há distorções  sérias no registro das contas de 2014 do primeiro mandato da Presidente Dilma Rousseff.

           Nesse sentido, há divergências de R$ 7 bilhões na dívida da União e de R$ 1,7 bilhão no saldo de financiamentos do Tesouro ao BNDES.  Os problemas, no entanto, não se restringem a esses totais, eis que há passivos ocultos de R$ 222,5 bilhões, por irregularidades  no registro das dívidas – e nele estão incluídas as chamadas ‘pedaladas’ fiscais.   

         A divergência acima referida de R$ 7 bilhões na dívida da União se refere ao registro feito no Sistema Integrado da Dívida Ativa (SIDA) e ao valor contabilizado no Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI) do Governo federal.

         Assinalando a coordenação estreita entre Tesouro e BNDES – e essa participação intensa terá determinado a decisão da Presidenta de manter Luciano Coutinho à testa do Banco, no seu segundo mandato – foi notada divergência similar em saldos de empréstimos e financiamentos do Tesouro ao BNDES, no valor de R$ 1,7 bilhão.

         A baixa execução orçamentária de investimentos fez aumentar a quantidade de recursos  inscritos como restos a pagar, compromissos assumidos cujo pagamento foi adiado para o ano seguinte. Esse aumento foi de  76% entre 2010 e 2014, com um estoque de R$ 227 bilhões ao fim do ano passado (2014).

          Os malabarismos fiscais não param por aí.  Houve retificação irregular de restos a pagar, o que levou a uma ocultação de passivos  de R$ 185 bilhões. Outros R$ 37,5 bilhões são igualmente citados  como ocultos, em razão da falta de registro de repasses de recursos de programas sociais.

          Resta determinar qual seria o efeito da rejeição das contas federais pelo TCU. A primeira vista isso não afetaria o selo de bom pagador dado ao Brasil pelas agências de risco. Há tempos as agências como a Moody’s  e a Standard & Poor’s conhecem tais recursos e já os consideram  em suas avaliações respectivas.  O interesse delas se concentra no que está por vir, vale dizer na capacidade do Ministro Joaquim Levy  de lidar com tal situação anômala, sem  recorrer aos macetes da Administração Mantega.

           Assinale-se, a propósito, que a chamada “dívida líquida” da União não mais merecia a confiança dos órgãos financeiros, tanto os supranacionais, quanto as agências de risco. Conhecidos os dotes taumatúrgicos dos responsáveis pelo Tesouro no Dilma I, só a dívida bruta merecia exame e análise.

             De qualquer forma, para apresentar um melhor quadro para o investidor, é indispensável que o Governo logre reduzir a relação entre a dívida líquida (devidamente depurada) e o PIB. Hoje está estimada pelo Banco Central em 33,6% . Consoante sublinha Alex Agostini, da Austing Rating, uma das principais tarefas do Governo será reduzir  essa relação. Se no entanto ela subir para 40% do PIB, “a luz amarela já acende”.

              Como sói acontecer no que concerne às disparidades fiscais, as ‘pedaladas’ e suas eventuais consequências, descritas com riqueza de detalhes técnicos pelos especialistas do Tribunal de Contas da União – e que serão computadas pelo relator das Contas, Ministro Augusto Nardes, se deve assinalar, por oportuno, que os técnicos desenham o quadro existente, mas se abstêm de recomendar sugestões (ou o fazem em eventuais recomendações ad usum exclusivo do Relator). Será ele que emitirá o parecer que será submetido aos demais membros do Colendo Tribunal.  E desse parecer, como se terá obviamente presente, muita coisa há de pender.

               Por ora, semelha que o TCU esteja dividido, quanto à rejeição das contas de Dilma Rousseff I ou não. Se houver empate, intervém, com o voto de Minerva, o Presidente, Ministro Aroldo Cedraz.

               Se rejeitadas as Contas, a questão passa para a competência do Congresso Nacional. Dada a sua gravidade, seriam objeto de Impeachment. 

               Muita coisa há de rolar, se eventualmente se chegar a tal situação.

 

( Fontes:  O  Globo e Folha de S. Paulo ) 

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