Depois que a Liga Rebelde deixou
de ser uma ameaça real para o ditador Bashar al-Assad, o que se deve à
decisão de Barack Obama de não armá-la[1]
como lhe recomendavam as suas principais autoridades em segurança e política
externa (inclusive Hillary Clinton), a situação do presidente da Síria melhorou de
forma relativa.
Se a vasta
área a leste continuou fora do controle de Bashar, a guerra civil se tornou
conflito de média e até baixa intensidade. Não mais o ameaça ,de forma terminal,
a ida para o Tribunal Penal Internacional que vira desbotada imagem, e as deserções e fugas de altos funcionários do
regime alauíta não mais figuram no noticiário.
Tampouco se
fala dos acordos de Genebra, com que o
novo Secretário de Estado John Kerry
pensara preparar a paz, no que foi, na aparência, atendido pelo hábil Ministro
dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, Sergey Lavrov.
O tempo
cuidaria de mostrar que esse acordo de Genebra – como tantos outros no passado
- era outro papel que a realidade tornaria irrelevante. Com o enfraquecimento da
Liga, os fiéis aliados de Assad trataram de gradualmente reforçar a posição do
ameaçado Raiz. No mesmo barco estavam
– como sempre estiveram – o Hezbollah,
milícia do clérigo Hassan Nasrallah, com base no Líbano, que passara a ajudar Assad,
além dos velhos aliados, o Irã de
Khamenei e a Rússia, de Vladimir Putin, este último cuidando
de preservar quem lhe assegura base naval no Mediterrâneo, e aquele com o
interesse estratégico de manter vivo o seu cliente Hezbollah, além de cuidar do
grande jogo no Meio Oriente, no eterno embate com a Arábia sunita.
Sem as armas que Barack Obama preferira negar
aos rebeldes – que, sem embargo, ameaçavam Bashar al-Assad e eram apoiados pela
Liga Árabe – essa decisão, tomada contra os quatro chefes competentes na
matéria, virou verdadeiro ovo de serpente.
O por vezes
imprevisível Obama – que vencera Hillary na luta pelo nomination no Partido
Democrata pelo seu pressago discurso contra a Guerra de Bush no Iraque – por
temor de mais um interminável conflito e querendo cortar nefárias alianças no
futuro, resolveu investir contra plano de armar a parte no conflito que
defendia os propósitos de liberdade surgidos no sul da Síria, em Derah, que era
a mais próxima do Ocidente.
Decisões
erradas em matéria de política exterior e militar da Superpotência têm o vezo de
voltarem mais tarde, com situação ainda mais deteriorada. Boas intenções por
vezes, como reza o ditado, sóem pavimentar o caminho do Inferno.
Vejamos o
que ‘conseguiu’ o Presidente Obama ao vetar o conselho do quarteto de política
externa no sentido lato. Que o leitor me perdoe a insistência. Mas decisões
errôneas e apressadas relembram aquele que pensa resolver uma questão com credores
batendo-lhes a porta.
Não é
necessário ser profeta para prever que esses senhores descontentes hão de
voltar, em breve futuro, e em maior número. Problemas mal resolvidos tendem a
ficar mais graves e menos manejáveis.
Não me
proponho delongar-me nessa questão, mas releva ter presente que ao negar armas
e apoio para o grupo mais próximo do Ocidente, Obama não resolveu o problema ao
enfraquecer o lado que tinha o apoio da Liga Árabe.
O que
vemos hoje com o ISIS é decorrência não tão longínqua daquela
apressada decisão de recusar apoio ao grupo que se ligava aos anseios libertários
da revolta contra Assad.
Hoje,
surgiu não só na Síria, mas em boa parte do Oriente Médio um movimento que é
decorrência da al-Nusra, que é por
sua vez uma versão médio-oriental da al-Qaida
do falecido Osama ben-Laden.
É uma
máxima quase prosaica de que o poder abomina o vácuo. Não deixa, no entanto, de
ser verdade. A trajetória do ISIS – que o leitor não desconhece e de que me tenho
ocupado em meu modesto blog – é demonstração quase embaraçosa de o que poderia
ter sido evitado se o Presidente Obama não se tivesse precipitado ao recusar a
já mencionada proposta de seu quarteto de política externa, no lusco-fusco da
primeira Administração Barack H. Obama.
Enfraquecendo de forma determinante a Liga Rebelde, a guerra civil na
Síria involuíu para uma inesperada – posto que limitada – recuperação do regime
de Bashar al-Assad. Para quem se achava
diante do aut-aut entre o asilo em
alguma ditadura amiga, e o descobrir-se nas malhas do Tribunal Penal
Internacional, até que o filho de Hafez al-Assad não se pode queixar. A sua
Síria está destroçada, o seu domínio da parte ocidental parece assegurado, mas
para leste se estende uma terra contestada.
No
entanto, no seu quintal surgiu um novo e perigoso elemento. O Exército
Islâmico, de que me tenho ocupado nas passadas semanas, aparece como uma ameaça
ao Ocidente e sobretudo aos países do Oriente Médio.
Para
maiores detalhes – seu califa, Abu Bakr al-Bagdhadi, a capital
Raqqa, a sua governança - me permito remeter o leitor para os blogs pertinentes.
O que me
parece importante aqui assinalar é o vultoso dispêndio, notadamente dos Estados
Unidos, mas também de outros países ocidentais – com os bombardeios contra o
ISIS, sua capital, e igualmente contra
os avanços de suas formações em províncias do Iraque.
Só na
capital Raqqa as baixas do Isis seriam de dez mil pessoas, por quatro mil
missões de bombardeio aéreo. É uma enorme despesa da Superpotência. Quanto aos efeitos
dessas ações aéreas, elas são decerto destruidoras, mas se não houver uma força
terrestre, o efeito dessas ações carece de ser secundado por forças
operacionais terrestres.
Até o
momento, nessa vasta área que inclui parte da Síria, grande parte do Iraque,
fronteira da Turquia, e Jordânia, para mencionar apenas as regiões mais
afetadas pelo Exército Islâmico. A ação aérea da Superpotência e de seus
aliados pode levar às areas ocupadas pelo itinerante Exército do Califa Abu
Bakr o flagelo do poderio destrutivo do Ocidente. No entanto, esse temível poder
não domina o terreno. Pode, em determinados casos, fazer a balança pender em
favor de seus eventuais aliados, mas as forças de infantaria e artilharia que
se defrontam com o ISIS – até mesmo os bravos peshmerga do embrião de um sonhado
Curdistão – não tem mostrado até agora que possam suprir no terreno a força
aérea do Ocidente (máxime os Estados Unidos) e arrostar com sucesso os
batalhões do Isis.
À vista
dessas considerações, parece inevitável considerar que teria sido muito mais
eficaz para os Estados Unidos que a Liga Rebelde houvesse recebido o apoio de
que carecia, especialmente no que toca ao armamento.
Tampouco
se pode evitar o desconfortável pensamento de que os Estados Unidos teriam
evitado as atuais grandes despesas da estratégia do combate aéreo se Obama
houvesse a seu tempo dada a luz verde à proposta do quarteto de política
externa.
Ao invés
disso, ameaçando o fragilizado e patético atual exército iraquiano, Washington
tem pela frente um novo desafiante sunita. Comprazendo-se em ilusório
intervalo, o Presidente americano pensou poupar dinheiro do Tesouro.
Agora
tem um novo inimigo pela frente, gestado por uma guerra inconclusiva, que pelo
visto sairá para Tio Sam os olhos da cara.
( Fontes: The New York Times; O Globo )
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