Apesar de todas
as lanças brandidas nas respectivas muralhas, após o calote da Grécia no FMI, o
primeiro ministro Alexis Tsipras agora sinaliza que está pronto para negociar.
Com efeito, o
governo grego parece estar disposto a aceitar muitas das condições impostas
pela União Europeia. Estaria agora inclinado a rever a sua avaliação anterior
do ‘pacote’ de salvação, antes rejeitada.
Em carta
enviada na terça-feira 30 de junho para os credores – o Banco Central Europeu,
o FMI (a quem ontem aplicara um
calote[1]) e
países da Eurozona - Tsipras disse
que a Grécia ‘está preparada para aceitar’ um acordo divulgado no fim-de-semana
pelos credores, a que introduziria pequenas modificações em alguns dos tópicos centrais
em litígio, v.g., cortes nas pensões
e aumentos de imposto. Além disso, o Primeiro Ministro helênico frisou que o placet grego se conecta com as condições
de um novo acordo de ajuda (bailout aid)
que precisa ser negociado.
De acordo com
o seu estilo, a Chanceler alemã Angela
Merkel – que é sem dúvida a ‘mais
amada pelo povo helênico’ – respondeu reiterando a posição anterior, que não haverá mais negociações antes da
realização do referendo deste domingo, quando o eleitorado grego explicitará se
está de acordo (SIM) com as
condições apresentadas pelos credores ou em desacordo (NÃO). Interpreta-se essa posição
dura da Merkel como decorrente da expectativa de muitos líderes europeus
de que a votação referendária poderá ser
interpretada como uma censura ao Premier Tsipras.
As primeiras
reações à inesperada mudança de atitude do governo grego se afiguram tentativas e
ultra-cautelosas. No entanto, por menor que seja o peso da economia
helênica, a ruptura sinalizada sempre retira dos baús duendes e atrozes dúvidas,
que um acordo tenderia a acalmar. O problema em tais diferendos está sempre nas
condições atingidas e nos eventuais ganhos de parte a parte, com os membros
mais ricos e poderosos da Comunidade Européia espiando para ver se no caso da
pequena República Helênica não estariam urdindo armadilhas em que possíveis
acordos poderiam involuir para problemaços, como v.g. a muito endividada
Itália. Por isso, a postura da Chanceler de Ferro (título que já foi de Otto
von Bismark) tem de ser analisada no largo contexto de quem não pode
permitir que a portinha da Grécia possa ser usada por membros de muito maior
peso (e consequentes dívidas).
A dura
resposta de Frau Merkel – que foi ecoada pelo seu alter-ego Wolfgang Schäuble (e ministro das Finanças da
RFA) – visa a blindar a parte negociadora da U.E.
A dupla –
dentro de postura na aparência inflexível – declara que conversas adicionais
serão necessárias antes que um novo programa de assistência possa ser
considerado para a Grécia.
Querendo
impor ordem no galinheiro, Merkel-Schäuble
assevera: ‘Não se trata só da Grécia.
Precisamos assegurar que a base da confiança do povo na Europa não está
completamente destruída. Nós estamos defendendo a Europa’.
( Fonte:
The New York Times )
[1] Seria o primeiro calote sofrido
pelo FMI de parte de país desenvolvido. No entanto, a questão se complica um
tanto, se perguntarmo-nos se realmente a República Helênica pode ser
classificada como ‘país desenvolvido’.
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