O caderno esporte da Folha de hoje nos traz três opiniões
sobre a semifinal Brasil x Alemanha, jogada na tarde de terça-feira, oito de
julho de 2014, no novo estádio do Mineirão, em Belo Horizonte. Além de mestre
Tostão, comparecem Juca Kfouri e Paulo Vinicius Coelho.
Para Tostão,
de lá para cá, um ano perdido. ‘Passado um ano do vexame, o futebol brasileiro
está no mesmo lugar, sem identidade, perdido’. Juca Kfouri escreve: ‘Parece
que foi ontem e jamais será esquecido. Não como o luto de 1950, mas como o
vexame de 2014’. E a palavra vexame, colada ao evento, volta com Paulo
Vinícius Coelho: ‘Há um ano, o Brasil passou o maior vexame de sua
história e até hoje busca a explicação.(...) ‘Está com todo mundo com medo de
ser Barbosa’, disse o zagueiro campeão mundial Márcio Santos, logo depois de o
Brasil passar raspando pelo Chile, nas oitavas de final. Era visível o abalo
emocional da seleção, que jogava em casa 64 anos depois do Maracanazo.’(...) Melhorou contra a Colômbia, fez 60 minutos de bom
futebol e, então, perdeu Neymar, seu craque e seu capitão, contra a Alemanha.’
Com Brasil 1
x 7 Alemanha, a seleção canarinho recuou aos anos vinte do século passado.
Quando perdia de goleada e não deixava
rastro. Éramos ainda carne de canhão para Uruguai e Argentina. Começamos a brilhar nos anos trinta, com
Domingos da Guia e Leônidas, que inventou a bicicleta no futebol. Em 1938, tiramos
o terceiro lugar, com a cabeça erguida.
Depois da
pausa da II Guerra Mundial, organizamos o mundial de 1950. Assisti com meu tio
Brasil 2x0 Yugoslávia, em um Maracanã oficialmente inaugurado mas ainda com
andaimes, e etc. Já o menino teve a alegria de ver o gol de sem-pulo de Ademir.
Entramos no
turno final, quatro equipes (Suécia, Espanha, Uruguai e Brasil). Começamos com duas goleadas – 7x1 na Suécia,
6x1 na Espanha. Aí veio a final com o Uruguai em que podíamos até empatar. Ah,
a falsa vantagem do empate... Primeiro tempo, 0x0. Segundo tempo, Friaça, o ponta-direita que substituía o
titular contundido Tesourinha, fez 1x0, aos cinco minutos. Aos dezesseis, no
entanto, o meia Schiaffino empatou: 1x1.
O Maracanã
nunca estaria tão hiper-lotado, quanto naquela jornada. Pelo menos 220 mil torcedores, alegres, felizes,
certos de que o caneco era nosso. Aos 36, o ponta-direita Ghiggia passa pelo
seu marcador (o lateral-esquerdo Bigode, do Flamengo) e chuta de forma
despretensiosa. E não é que para nossa eterna infelicidade, a pelota passa por
baixo da barriga de Barbosa, o goleiro titular da seleção? Tecnicamente talvez
não dava para considerar ‘frango’, mas a impressão que se tem é que Barbosa
poderia ter defendido. E para sua vitalícia infelicidade, esse grande
goal-keeper ficaria com essa mancha, ter ‘aceitado’ o chute do ponta, e com
isso surgiu depois a palavra feia – Maracanazo.
Depois, os
campeonatos mundiais vieram: Suécia (1958),
Chile (1962), México (1970) com talvez a nossa melhor seleção de todos
os tempos, Estados Unidos (1994), quiçá o desempenho menos brilhante, mas a
vitória, mercê da cortesia de Baggio, nos penaltis, e, por fim, o
penta!, com o qual estamos engasgados até hoje, conquistado no Japão, e
logo para cima da Alemanha, por 2x0!, com louvores para Ronaldo fenômeno e
Rivaldo.
Desde então, colecionamos
fracassos, com a derrota para a França, por 3x0, com o mal-estar de
Ronaldo-fenômeno. Voltando a Copa do Mundo ao Brasil, em 2014, com toda a
gastança determinada por Herr Blatter. (que resolveu
aferrar-se à presidência da FIFA, a despeito de todos os escândalos).
Com os 7x1, o panache se foi. O scratch canarinho precisa de muitos
grandes jogos e campeonatos para jogar esse fiasco na lata de lixo da
história. O diabo que, por muito tempo,
lá estará com muita gente pronta a recordar-nos desta vergonha nacional.
Esse 7x1
pesa. A seleção de Felipão tinha como craque só o Neymar. Dos tempos do Santos,
o Ganso era considerado em nível próximo
do Neymar. E, no entanto, recuperado das contusões e distensões, Felipão nunca
sequer considerou o Ganso. E era o que nos faltava: tínhamos volantes, tanques
como o Hulk, mas não tínhamos um meia-armador clássico. Recordam-se da perene dificuldade então
presente em todos os jogos em passar a bola da defesa para o ataque?
A Alemanha
penou para ganhar da limitada Argélia. O que o time argelino possuía era
disposição, coragem e unidade tática, pois eles
tinham um bom técnico. Que em minutos sacudiu a arrogância teutônica, com
ataques pelas pontas que levavam perigo. E o placar de Alemanha x Argélia ficou
em 2x1...
Como o
Brasileirão tem mostrado, os bons
técnicos estão fazendo falta no Brasil. Vocês se lembram da cara do Felipão,
quando os alemães fizeram 4x0 em poucos minutos? Recordem-se quem não estava nesse dia: além do Neymar, machucado por um golpe desleal,
também o Tiago Silva, capitão do
time e um grande beque, fora suspenso por um cartão amarelo aplicado de forma
bastante duvidosa. Para o Brucutu que quase aleija o Neymar, Sua Senhoria
sequer fez advertência...
O Brasil precisa de muitas coisas para
virar essa página. Primeiro, uma
refundação dos órgãos de futebol em nossa terra. Não dá para ficar tendo gente
como Marco Polo Del Nero, cria de José Maria Marin e Ricardo Teixeira. O futebol é importante demais para o Brasil,
para que ele fique como está hoje ao deus dará. E o nosso potencial continua se não ótimo,
pelo menos muito bom. É preciso, no entanto, controlar melhor a saída do Brasil
de jogadores muito tenros ainda, jovens demais para dependerem dos empresários.
Carecemos também de bons técnicos, de gente mais atualizada e que acredite em
organização e planejamento. Tipos como Felipão e sobretudo Dunga devem
ceder o lugar a gente mais jovem, que
acredite em um futebol que concilie o estro, a classe do jogador brasileiro,
com uma programação séria. Chega de improviso!
Não
faltaram avisos para a seleção quanto à equipe time germânica. Será que o
Felipão não viu a maneira com que o ataque alemão triturou Portugal, também com
quatro gols em poucos minutos? Viram como ficou a nossa defesa, depois do
primeiro gol? Pobres, perdidas moscas tontas, que sequer defendiam, como se
estivessem atordoados.
E ao olhar
para o banco e enxergar a cara do Felipão era ver o espelho do atarantamento
dos jogadores. Que mais pareciam um time
de várzea levando boa tunda de atletas profissionais que faziam os gols quando e como bem queriam...
O oito de julho de 2014 não é um dia para
esquecer. Carecemos de recordá-lo, para
que nunca mais um adversário tenha pena de nós, e resolva baixar um tantinho o
nível, para nos poupar por piedade a fim de não agravar ainda mais o VEXAME.
( Fonte: Folha de S.
Paulo )
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