A realidade
brasileira atual guarda inegáveis traços similares à expressão chinesa. A crise
do segundo governo Dilma Rousseff provocada por uma série de fatores, teve como
detonantes o Petrolão e o estelionato
eleitoral.
Aí, as
mentiras da campanha vem à tona, e assistimos ao desfazimento do prestígio de
Dilma, Lula e do PT. A queda na popularidade da presidenta, do estadista Lula e
do Partido dos Trabalhadores é tão fulminante quanto desestabilizante.
As
consequências são o brutal enfraquecimento do neonato Dilma II, a súbita
mudança no ambiente político e o surgimento de novas lideranças. Nesse
contexto, irrompe Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), que arrebata a presidência da Câmara com 267 votos, derrotando o
candidato de Dilma, Arlindo Chinaglia (PT-SP), com 136 votos. Não é simples
tropeço, mas sinal de nova realidade.
Com a
Lava-Jato, vários mitos vão caindo pelo caminho. Um juiz novo, sério e
competente começa a derrubá-los e a
prender figurões da Petrobras e das empreiteiras. Quem se julgava intocável
experimenta novas angústias. O povo brasileiro, cansado da corrupção e
sobretudo dos corruptos e de sua soberba os vê por terra, ou melhor,
trancafiados no velho xilindró.
Sofre a
imagem do Brasil? É uma questão em aberto. Herdamos a fama, oriunda da Colônia
e do pequeno Portugal, de um país ainda atrasado, de muitas leis cujo cumprimento deixa a desejar, e de grandes
contrastes, em que a pobreza e a miséria convivem com a riqueza e a opulência.
A história
nos ensina que quando Luis XVI convocou os Estados-Gerais, pensando resolver
com um instrumento do Medievo os males de seu reino setecentista, desencadeou a
Revolução Francesa, esse fanal da Humanidade. Não há revolução bem-comportada.
Povos que a acolhem experimentam a fama, mas os efeitos da poção são
imprevisíveis. Por isso, os ingleses que resolveram a tempo o escândalo dos
burgos podres, posarão para os séculos com o lado bem-comportado da renovação.
E os franceses com a glória do facho aceso da derrubada da Bastilha, junto com
as cabeças decepadas dos suspeitos na
ponta de lanças improvisadas, que assustaram o jovem François René, Visconde de
Chateaubriand.
A
relevância do atual momento revolucionário na política brasileira
é porque ele ainda se realiza dentro da legalidade. O seu avanço é inegável,
mas ele será sempre acompanhado com a ansiedade que visita os grandes eventos.
A crise
continua. Ela tem muitos cenários, mas para mim o principal está em Curitiba.
Sinto sobrecenhos se erguerem. Como um simples juiz alcançará tal altura? Na
existência, por vezes os signos são mais relevantes do que as hierarquias
formais.
E a
homenagem é devida, porque o que é construído com o trabalho sério e a
conjunção dos fatores da Lava-Jato – em que a autônoma Polícia Federal detem,
com arrazoados do Ministério Público os suspeitos – e o juiz criminal confirma
com a sua sentença, aplicável a cada caso.
É
importante que parta de Curitiba esta ação conjugada, eis que mostra a
vitalidade e a amplitude do sistema brasileiro.
Nesse
conjunto de forças, os advogados estão bem presentes. Como bacharel, nunca tive
oportunidade de trabalhar no foro. Mas estudei direito e completei o curso no
prédio histórico da Moncorvo Filho, na antiga Faculdade Nacional de Direito
(naquele tempo, o Rio de Janeiro era a capital federal). Se a diplomacia foi o
caminho que escolhi, tal não significa que não tenha assistido a aulas de
Hermes Lima, Hahneman Guimarães, Oscar Stevenson, Pedro Calmon e tantos outros.
A ainda
jovem criminalista Beatriz Catta Preta se notabilizou por fechar nove das
dezessete delações premiadas da Operação Lava-Jato. A delação premiada é uma
das chaves do sucesso dessa operação contra a corrupção. Ela torna possível as
prisões dos principais responsáveis, como a chave ou a combinação de um cofre.
Sem ela, os investigadores lutariam com grandes dificuldades. A Presidente
Dilma vituperou contra o delator, como se fora um Silvério dos Reis, mas na
verdade o acordo entre a justiça e o informante premia, entre outras vantagens,
o delator com redução de pena. Não tem nada a ver com traição de pátria ou vá
lá o que seja.
Na segunda
dia 20 de julho, a criminalista comunicou ao juiz Sérgio Moro que deixara as
defesas do ex-gerente da Petrobrás Pedro Barusco e do ex-executivo da Toyo
Setal Augusto de Mendonça.
Ela já
informou a seus clientes que eles têm até
o dia trinta de julho para constituir novo defensor.
Segundo
informa a Folha de S. Paulo, “a advogada abandonou a Lava Jato duas semanas
depois que um de seus clientes, o lobista Júlio Camargo, mudou sua versão e
admitiu ter pago US$ 5 milhões em propina ao presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha. O deputado
nega ligação com o escândalo.
Ainda
segundo a reportagem da Folha, “desde então, Catta Preta passou a sofrer
pressão de aliados de Cunha. Integrante
da CPI da Petrobrás, o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ) apresentou dois
requerimentos relativos à advogada. Em um deles, obteve a convocação dela para
explicar a origem do dinheiro que recebeu a título de honorários pagos por réus
da Lava Jato. No outro, dirigido a uma juíza federal do Paraná, exigiu a lista
de todos os clientes de Catta Preta.
“No mesmo
dia oito de julho, Pansera também apresentou outros requerimentos para convocar
o filho de Julio Camargo e para quebrar sigilos de parentes do doleiro Alberto
Youssef – outro delator que citou Cunha como destinatário de suborno. A manobra
do congressista revoltou o doleiro, que chamou Pansera de ‘pau mandado’ do
presidente da Câmara.
“Quando os
requerimentos de Pansera foram apresentados, já corria a informação de que
Cunha seria incluído na delação de Julio Camargo
“Catta
Preta também se desligou da defesa de clientes que não estão envolvidos na
Operação Lava Jato.
“
Assistido pela advogada há dez anos, o corretor de valores Lúcio Funaro
livrou-se da condenação no processo do Mensalão depois de se tornar delator
pelas mãos da criminalista. “Tem muitos
advogados reclamando (de Catta Preta), mas os clientes de quase todos estão
presos e os dela estão soltos”, disse Funaro à Folha.
“Funaro é
apontado como pessoa próxima ao agora delatado na Lava Jato, Eduardo Cunha.”
“Procurado para falar dos
requerimentos de seu aliado visando
Catta Preta, o presidente da Câmara dos Deputados respondeu rispidamente: “Meu
nome é Eduardo Cunha e não Celso Pansera, pergunte a ele.”
“ O
deputado Pansera negou ter pressionado Catta Preta e os familiares dos
delatores a mando de Cunha. Segundo ele,
houve ‘coincidência’ da data de apresentação dos requerimentos com o
crescimento dos rumores de que Cunha seria delatado.”
Por fim,
na reportagem da Folha, que achei oportuno transcrever, se diz que “pessoas
próximas à advogada afirmam que ela estaria de mudança para Miami (EUA), onde
abriu um escritório em 2014.
Essa
mudança repentina terá sido sopesada pela profissional, que deixa uma banca em
que a sua competência advocatícia se assinala por relevantes êxitos
profissionais.
É de
augurar-se que a Dra.Catta Preta tenha condições de retornar à sua terra em
breve prazo. Se o seu afastamento diz muito do período que ora se atravessa, façamos
votos sinceros para que a boa filha retorne breve à casa materna.
( Fontes: A Study of History, Arnold Toynbee; Folha de S.
Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário