Confrange que o Brasil de Dilma
Rousseff ainda considere a Venezuela como país democrático. Sob o governo
inepto, corrupto e violento de Nicolás Maduro, a população padece sob o geral
desabastecimento, a inflação desenfreada e a mão pesada dele próprio e de seus
meganhas.
Nunca tantos
sofreram sob os desmandos e os crimes de polícias e serviços secretos que se
acobertam, em insolente audácia, debaixo de títulos bolivarianos, em contubérnio
pelo qual unem à tal descarada ditadura o ilustre nome do Libertador: Polícia Nacional Bolivariana (PNB), Guarda Nacional
Bolivariana (GNB) e Serviço Bolivariano de Inteligência (SEBIN).
Nos séculos
passados, a Venezuela teve a sua imensa quota de tiranos. Infelizmente, o
regime democrático que assumiu o poder
com a derrubada de mais um militar, Pérez Jimenez, foi com o tempo perdendo a
confiança do Povo. Foi numa das viagens de Carlos Andrés Pérez que o
tenente-coronel Hugo Chávez, no putsch de fevereiro de 1992, tentou empolgar o
poder. CAP voltava de enésima viagem ao exterior, e na noite de três e na
madrugada de quatro escaparia por duas vezes do assassinato, na residência
oficial La Casona, e horas mais tarde, por uma porta lateral do Palácio de
Miraflores. Como me referi ao assunto[1] “a
fortuna não abandonou Carlos Andrés Pérez naquela noite”. No entanto, o
prestígio estava muito desgastado, e as suas incessantes viagens ao exterior
aprofundavam a ferida. Por isso, o apoio que então recebeu “foi mais
institucional do que propriamente pessoal”.
Chávez, o
cabecilha da intentona, não se pejou de quebrar estabilidade institucional de
três décadas. E nas suas declarações, feitas após a prisão, com a jactância que
mais tarde se faria melhor conhecer disse que “por agora” cabia as forças que
comandara esperar.
A história da
América Latina está semeada de movimentos de chefes militares que sempre visam
a afastar governos civis que dizem
estarem voltados contra os anseios populares.
Chávez
voltaria e não tardaria a estabelecer, de forma democrática a princípio, um
novo regime em seu país. Nesse sentido, foi pressaga a intuição de Garcia
Márquez ao ver o ainda jovem coronel, a caminhar, cheio de boas intenções no tarmac do aeroporto, e perguntar-se se
ali não estaria mais um tirano latino-americano.
Ao contrário
de muitos caudilhos, uma longa doença levaria o Caudillo. O herdeiro designado
Nicolás Maduro, que colhia as instruções do Chefe através de um passarinho,
venceria em contestada eleição o embate contra o candidato Henrique Capriles,
por uma diferença de 1,5%.
Por força
de sua crescente impopularidade e da situação calamitosa na Venezuela, Nicolas
Maduro endurece ainda mais o regime. A repressão aumenta e os porões dos
cárceres são testemunhas das torturas e sevícias dos agentes da nascente
ditadura.
Se no tempo de Hugo Chávez, a
presença do regime estava em toda parte, havia ainda lampejos democráticos. Com
o politicamente fraco Maduro, a sua insegurança, por um cruel e até banal
mecanismo, se transmuta em prisões ilegais, em desrespeito às manifestações e
aos manifestantes, à tortura como sistema.
No
livro “Testemunhos da Repressão”, de autoria de Carlos Javier Arencíbia, agora
publicado, se informa que em 2014 o
governo chavista prendeu 3.765
pessoas.
A
primeira vítima da repressão de Maduro foi jovem carpinteiro de Guatire, Bassil
da Costa.
Caminhava em sua primeira manifestação contra o governo. Quando a passeata foi investida, a
tiros, pelos home do Serviço Bolivariano de Inteligência
Nacional (SEBIN), recebeu um tiro pelas costas, quando procurava fugir dos
meganhas que atiravam sobre a multidão. O disparo atingiu-lhe a parte posterior da
cabeça, morrendo na hora. Debalde seus companheiros o levaram para um hospital, pois já estava
morto.
Desde
muito, a Venezuela de Nicolas Maduro deixou de ser democracia. Quando
esteve em Brasília, tentou ‘penetrar’ em
reunião de Dilma Rousseff com o
presidente da Guiana, Granger, com quem tem a pendência de Essequibo. É
constrangedor que pela própria insensibilidade se descubra em situações
vexatórias, como é a de ser barrado.
De
resto, em suas viagens vira personagem esquerdo, que sai das reuniões antes do
tempo e que enjeita banquetes oficiais, como agora procedeu em Brasília.
Temeroso de ter de enfrentar pedido de Papa
Francisco para que pusesse fim à prisão ilegal de Leopoldo López (então em
greve de fome), preferiu mentir e inventar uma gripe para não ter de encarar o
Santo Padre, em audiência marcada desde muito.
Que um regime como o chavista esteja
destinado à lata de lixo da História é só uma questão de tempo. Dado o seu
caráter sanguinário, o próprio sobrenome do tirano daria a sugestão de um prazo
que parece, para alegria da Nação venezuelana, já haver entrado na contagem
regressiva.
Como
o futuro, no entanto, continue a pertencer à burocracia divina, e atendido o
seu imprevisível caráter, a torcida aumenta mas o resultado ainda pende da
notória inescrutabilidade do Olimpo.
( Fontes: O Globo, Venezuela: Visões brasileiras
(pp.107/151)
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