O Ocidente parece muito temer os militantes tchechenos
que ora ajudam os ucranianos. Ambos dizem apoiar a causa da Ucrânia contra a
invasão imperialista da Rússia de Vladimir
Putin.
No entanto, há diferenças fundamentais nesse
apoio. Assim, para nos determos nos atores mais importantes deste lado da
trincheira, seja no que tange ao Presidente Barack Obama e à Chanceler
Frau Angela Merkel, sua ajuda
utiliza as luvas de estranha moderação. Nesse sentido, valem as sanções tópicas
e a assistência humanitária, mas para Kiev está terminantemente excluída artilharia
pesada e equipamentos militares de maior porte, mesmo que sejam para dar meios
de defesa contra o maciço armamento disponibilizado por gospodin Vladimir Putin aos chamados rebeldes pró-Rússia.
Quanto à OTAN,
que é a expressão do engajamento ocidental em conter a Federação Russa, como o
adversário da vez, não há de despertar maior surpresa que venha a seguir essa
estranha e farisaica atitude no que tange à qualquer auxílio ao governo de
Kiev. Para carregar nas tintas, vem a ser quase cômico que essa Organização do
Pacto do Atlântico Norte tenha concedido há pouco ajuda bélica aos pequenos
países bálticos e a boa parte do entorno do estrangeiro-próximo,
que é o termo empregado pelos russos para designarem àqueles estados que tem o
destino de serem fronteiriços com o vasto território moscovita. Esse auxílio da OTAN consta de tanques e
armamento, além de destacamentos militares.
Dessarte,
ficamos entendidos assim: para ameaças não-concretizadas, Washington, através
da OTAN, manda demonstrações materiais de postura inequívoca.
Sem embargo, a
mesma firmeza política não é evidenciada para um país que já demonstrou a sua
escolha pela aliança com Bruxelas e hoje, sem a menor dúvida, está pagando por
tal opção soberana.
A própria
Chanceler Merkel e seu aliado François Hollande não hesitaram em
comparecer a Minsk para mais uma renegociação de cessar-fogo que os fatos têm
comprovado de apenas servir ao agressor para
efêmera interrupção das hostilidades no auge dos rigores do inverno.
Seria, na
verdade, comovente este apoio ocidental e, em particular, do maior poder da Comunidade Europeia, se
Frau Merkel não dele excluísse qualquer
fornecimento de material militar com equipamentos de defesa. Enquanto o Kremlin
despeja nas formações de rebeldes separatistas pró-Rússia o próprio equipamento
pesado, assim como destacamentos de ‘voluntários russos’ para intervirem quando
as forças ucranianas ameaçarem levar de roldão os adversários, as desfalcadas forças da Ucrânia só devem
contar com a ‘simpatia’ da aliança ocidental. Isso recorda a expressão – com ‘amigos’
desse jaez, na verdade o desfalcado exército ucraniano tem de se valer sozinho...
Se a política ocidental parecer contraditória sendo
a Organização da Aliança do Atlântico Norte instrumento do poder da
Superpotência, na verdade os fatos têm demonstrado que ela não o é. Enquanto a
ameaça não se concretiza, ela ruge como um leão. Contudo, se o inimigo ataca,
como no caso da Ucrânia, tal política se limitará a sanções tópicas e a assinaturas de documentos tão vazios
quanto os antes firmados por líderes ocidentais para encobrir o apaziguamento
do nazi-fascismo.
Nesse
contexto, a oferta dos Tchechenos deve ser saudada com a boa-vontade evidenciada quando um país assediado recebe o
apoio não formal mas efetivo de forças que vem lutar contra o inimigo comum.
É decerto
imoral esta hipocrisia ocidental de virar a cara para o outro lado, e fingir
que se trata apenas de questão a ser resolvida pelo ‘corrupto exército ucraniano’.
Mariupol, um porto estratégico e um
centro industrial de relevância, é a batalha da vez. Na escandalosa disparidade
de forças e sobretudo de aliados, enquanto a rede ferroviária trabalha à noite
para o fornecimento de material bélico russo para as ‘forças separatistas’ – e imagens
de um drone ucraniano escancaram a concentração de equipamento pesado (tanques
e morteiros), tudo se faz para apoderar-se dessa cidade.
Assinale-se
que a Chanceler alemã terá mostrado a sua preocupação e mesmo irritação com o
propósito dos tais rebeldes separatistas (essa
folha de figueira para o invasor russo), a ponto de haver supostamente
declarado: ‘Mariupol, não!’
O futuro
dirá se com a ajuda solitária dos três batalhões islâmicos, com os temidos
tchechenos, e do exército ucraniano, desfalcado e desmerecido como corrupto,
será possível conter essa invasão descarada de um regime autoritário como o é o
presidido por Vladimir Putin e sua camarilha. Segundo consta do artigo de
Andrew E. Kramer, do New York Times, esses três batalhões são o Dzhokhar Dudayev e o Xeque Mansur, da Tchetchênia, e o Crimeia,
formado por tártaros da Crimeia. Eles acorrem a essa anunciada batalha tangidos
pelo velho princípio ‘o inimigo do meu inimigo é meu amigo’.
( Fonte: The New York Times )
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