Na manhã de
hoje, a República Helênica e os países
credores europeus chegaram a acordo-quadro que atende à crise da dívida e a
mantém na Zona do Euro.
No fim de
semana, os boatos pessimistas, centrados na intransigência de Frau Merkel,
ativada pelo implacável Ministro das Finanças Herr Schäuble, prevaleceram, com
o cenário de Grécia kaputt.
Ao cabo da
tensa negociação, o céu de Atenas se desanuvia um tanto, mas sob as seguintes
condições: (a) o entendimento pressupõe um ulterior aperto de cintura, que o
Primeiro Ministro Alexis Tsipras terá certa dificuldade em obter do Parlamento
grego a necessária luz verde.
Mais este
pacote salvador – o terceiro em 5 anos – ainda não está garantido. Sob o peso de
retrospecto desfavorável, se daria então a partida para pormenorizada
renegociação (o diabo costuma estar nos detalhes).
Há duas
interrogações pendentes. Primo, se o Banco Central Europeu terá
suficiente confiança para prosseguir a remeter fundos emergenciais para os
bancos gregos, que na prática se acham desprovidos de recursos, por causa de
uma longa recessão e a consequente retirada maciça de fundos, à medida que a
crise financeira piorava nos últimos meses, de bilhões de euros que se achavam em
contas de correntistas.
Secondo, se mais esta renegociação,
cujas duras condições são, como de hábito, de autoria ou inspiração de Frau Merkel, visam
precipuamente a equilibrar a exigência grega de um sistema de pagamento de
empréstimos que não mantenha a República Helênica estagnada na recessão sob
orçamentos de austeridade, e, de outra parte, atender a exigência de credores porque
os empréstimos em bilhões de euros não acabem em divisas gastas em vão. Como a
interminável crise grega pode ser resumida por este parágrafo, são
compreensíveis as desconfianças de parte a parte.
A
grande paura dos negociadores comunitários está na possibilidade de que a
República Helênica venha a ser o primeiro país a ser posto para fora da Zona do
Euro – uma involução que os partidários da unidade europeia tem lutado bastante
por evitar, dada a simbologia envolvida e o consequente enfraquecimento do
Euro.
Pelo
caráter potencialmente explosivo do dispêndio envolvido, o total a ser colocado
desta feita não foi divulgado. Sem embargo, o segredo fica mais para ser de
Polichinelo. Dessarte, vazou que o gasto
total estaria entre 82 e 86 bilhões de euros. Essa soma dá idéia da gravidade
da crise helênica, mas pelo seu peso acaba assustando e tornando-se motivação
adicional para evitar o desastre. Porque ninguém é ingênuo para pensar que um
buraco dessas proporções teria efeitos deletérios apenas sobre a economia da
pequena Grécia...
O
total acima serviria para Atenas reforçar a própria economia, reconstruir seus
bancos e habilitá-la a atender as respectivas obrigações de devedora no próximo
triênio.
Além
disso, Frau Angela Merkel explicitou que outra parte dos compromissos da
República Helênica seria a instituição de Fundo a ser criado com ativos de
propriedade do governo grego, para ajudá-la a descontar parte da dívida
nacional. Esse fundo estaria em torno de Euros 50 bilhões.
Outra
obrigação a ser cumprida pela devedora Grécia é pleitear a assistência do Fundo
Monetário Internacional, assim como assentir que o FMI continue a monitorar a
adesão helênica aos engajamentos tomados com o pacote de assistência
(bailout). A resistência helênica a essa
condição se tem fundamentado quanto aos efeitos de uma continuada presença (e
intromissão) do FMI, coisa que não é difícil de ser compreendida pelos
brasileiros que viveram a fase inflacionária e as negociações de nossa dívida
externa com participação das missões do FMI.
Desenha-se amarga ironia a ser arrostada pelo Gabinete Tsipras. Eleita a
maioria do Syriza, dado o malogro dos dois grandes partidos gregos, o da
Direita da Nova Democracia, e o Socialista,
cai agora no colo do Premier Alexis Tsipras a sardônica missão de vender
mais um pacote feito em Bruxelas, com a participação maior da amada (pelos gregos) Frau Merkel. Infelizmente
para a República Helênica e para o premier
da vez, quando é hora da onça beber
água, os demais membros, havidos como possíveis aliados de Atenas – como v.g., François Hollande - tendem a desaparecer.
Talvez
o falso enigma, esteja na posição do Parlamento helênico. Tsipras volta para Atenas com a missão de
justificar o que antes fora rejeitado nos referendos. Embora não se possa
afirmar que o Parlamento em Atenas aprovará as condições desse acordo de fim de
semana, a maior razão para que o faça é que seja o próprio Alexis Tsipras o
mensageiro escolhido para vendê-lo. A evolução – ou involução da questão – diz muito
mais do que a maioria que sustentara o atual gabinete, inclusive respaldando o
referendo com o NÃO, antes
pressagiara.
Não
dá para esconder que, ao cabo de tudo, o quadro continua cinzento-para-negro
diante do Povo grego. Vira e mexe, o acordo na UE torna a determinar que se
elevem os impostos, que se podem benefícios de pensão – tudo isso supostamente
para reduzir a burocracia e as excessivas proteções que impedem a Economia
helênica de funcionar normalmente...
Nessa dança em que os credores
voltaram a predominar sobre a carcaça da economia grega, mais uma condição ‘irrenunciável’
de Atenas caíu. O corte de cabelo ou a
redução da dívida global grega, que superaria Euros trezentos bilhões. O documento conclusivo pregou mais este
parafuso: “ A Cúpula Europeia sublinha que alegados ‘cortes de cabelo’ na
dívida não serão realizados”.
Como uma amarga – mas indispensável – concessão à falida Grécia, o
Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, comunicou por Twitter que serão tomadas medidas para adiantar as negociações sobre o pacote
da ajuda.
A
despeito do acordo, os bancos helênicos deverão permanecer fechados nesta
semana. Como eles estão praticamente sem dinheiro, o povo grego
terá dificuldade de retirar fundos das caixas registradoras (ATMs).
Ao cabo de tudo, em muitos setores havia revolta. O que na verdade forçara Tsipras e seu
gabinete a recuar de seus planos foi o fantasma do chamado Grexit (a saída da República
Helênica da Zona do Euro). Na verdade, malgrado todo o tumulto, todas
as demonstrações e assembleias diante da praça do Parlamento, a Sintagma, havia
e há uma coisa que o grego comum não está disposto a encarar: a saída da zona
do Euro e a volta ao velho dracma.
O popular grego sabe que a
conta está ficando cara demais, mas, se for possível, ele continua disposto a
engolir com todo o fel o bocado da dívida, porque ele traz consigo uma coisa a
que não deseja renunciar: a permanência na zona do Euro.
( Fonte: The New York Times )
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