sexta-feira, 3 de julho de 2015

Dois Dias para o Referendo


                                    

         A divida grega é de Euros 130 bilhões segundo o Fundo Europeu. Somada aos índices da República Helênica é, no mínimo, falaciosa a indicação de que esse país forma entre as economias desenvolvidas.

         O exame dos indicadores sócio-econômicos da Grécia tende a dar novas cores para o nível do desenvolvimento na Grécia (mencionado quando do último calote de Atenas no Fundo Monetário Internacional, em que se afirmara que República Helênica seria o único país a registrar calote para com o Fundo).  Diante da atual situação desse belo país, palco de grande cultura, a que a Humanidade muito deve, a pergunta que se deveria colocar no contexto do empréstimo não pago por Atenas no prazo ao Fundo Monetário seria a de que a qualificação de desenvolvida dada à economia grega se afigura no mínimo contestável.

         A República Helênica teria um pouco menos de onze milhões da habitantes. A crise econômica que assola a Grécia deixa cerca de 2,5 milhões de pessoas  abaixo da linha de pobreza. A esse número já por si só deprimente vem integrar um grupo mais amplo de 3,9 milhões, com alto risco de pobreza ou exclusão social.

          Na União Europeia, apenas a Bulgária e a Romênia tem ranking superior de pobreza, com respectivamente 48 e 40,4%. Logo abaixo da Grécia, com índices nada brilhantes estão a Letônia (35,1%), a Hungria (33,5%) e a Lituânia (30,8%). Não é, por acaso, que, com a exceção da Grécia, todos os demais países ou estavam sob o domínio politico de Moscou, atrás da chamada Cortina de Ferro, ou eram repúblicas  da antiga URSS (os dois países bálticos acima mencionados).

          A crise econômica já deixou 2,5 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza. Elas integram um grupo de 3,9 milhões, em risco de pobreza ou exclusão social, segundo dados da Eurostat. Dessarte, tal componente equivale a 35,7% da população grega.

          E o quadro sombrio não fica só nisso. Os dados da pobreza se somam aos do desemprego, que de 8,3% em 2007 passou para 26,5% em 2014, que no segmento jovens –a faixa demográfica mais exposta – atinge a 55%. 

         Neste cenário, é decorrência natural que os aposentados se tornem arrimos de família, com a sua renda garantida pela Previdência. É em função dessa realidade social que foi criado o Ekas, um programa especial da Previdência que complementa as pensões de valor mais baixo.

         É justamente esse programa que a chamada troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) quer acabar...

         O Gabinete Tsipras recorre a tais números para argumentar não mais ser possível cortar aposentadorias. Para o Syriza,  partido que venceu as últimas eleições, a Grécia enfrenta uma crise humanitária. Com um tão baixo nível de vida, é difícil não concordar com essa avaliação.

          As aposentadorias não bastam para o sustento. Com os 380 euros de sua aposentadoria, um senhor de prenome Angelos paga o aluguel e os remédios. Para a comida, depende de Centro de Solidariedade. Nestes centros, os funcionários notam reveladora mudança de perfil: antes eram imigrantes, hoje os necessitados são gregos. As Igrejas – notadamente a Ortodoxa, que é a religião preponderante – distribuem cerca de dez mil pratos duas vezes por dia. Criado em 2010, conta com o aporte de patrocinadores e da União Europeia.

               Para o Governo Tsipras, os programas de austeridade (cortes em diversas rubricas orçamentárias) adotados no quinqüenio anterior só agravaram a crise econômica do país.

                Em uma propaganda que se baseia em discutível otimismo, o Syriza busca convencer a população a votar no NÃO.  Em entrevista ao canal de TV ANTI Tsipras chegou a afirmar que se o NÃO  ganhar, em 48 horas chegará a acordo com os credores.

                E acrescentou – no que pode ser ou canto de sereia, ou posição premonitória do sucesso perante a detestada Troika – “o plebiscito é o último passo antes do acordo. Quanto maior for a votação pelo ‘Não’, melhor será o acerto.

                Por conta de antigas promessas, muitas vezes sem base na realidade, a população tem dúvidas e muitos temores quanto ao real futuro do país, seja na Zona do Euro, seja na própria União Européia.

                A declaração do Padre Ioannou Karali, da paróquia Aghios Panteleimon desde 1974, o que o põe na faixa dos 55/65 anos, são de um realismo por vezes até ingênuo, acoplado com grande desejo de vencer de alguma forma o desafio: “Os políticos nos falam muitas mentiras. Nós somos inteligentes e batalhadores. Criamos a democracia, a filosofia, as Olimpíadas (sic) e hoje temos um futuro incerto. Pedimos apenas respeito para agirmos com consequência.”

                 Muitos economistas têm declarado que a eventual saída da Grécia da Zona do Euro pode ser uma benção disfarçada (a blessing in disguise). Além das insensíveis exigências da abominada Troika, a depressão da frágil economia helênica se deveria em grande parte – como o assinala Paul Krugman – a que Atenas não dispõe de moeda própria. Por isso, não pode valer-se do estímulo dado pela desvalorização da divisa nacional. Atrelada ao Euro, não dispõe de nenhuma possibilidade de melhorar as suas relações de troca e de ativar setores da economia através do barateamento dos fatores de produção (o que se daria com a desvalorização da respectiva moeda, como no exemplo da Islândia).

                 Não semelha existirem por ora previsões confiáveis acerca do resultado do  Referendo de domingo. Há esperanças no campo de Bruxelas e notadamente da Chanceler Angela Merkel da possibilidade de vitória do SIM.  Por outro lado, Alexis Tsipras promete maravilhas se o NÃO for vencedor.

 

( Fontes:  O  Globo, The New York Times )  

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