A divida grega é de Euros 130 bilhões segundo o Fundo
Europeu. Somada aos índices da República Helênica é, no mínimo, falaciosa a
indicação de que esse país forma entre as economias desenvolvidas.
O exame dos
indicadores sócio-econômicos da Grécia tende a dar novas cores para o nível do
desenvolvimento na Grécia (mencionado quando do último calote de Atenas no
Fundo Monetário Internacional, em que se afirmara que República Helênica seria
o único país a registrar calote para com o Fundo). Diante da atual situação desse belo país,
palco de grande cultura, a que a Humanidade muito deve, a pergunta que se
deveria colocar no contexto do empréstimo não pago por Atenas no prazo ao Fundo
Monetário seria a de que a qualificação de desenvolvida dada à economia grega se
afigura no mínimo contestável.
A República
Helênica teria um pouco menos de onze milhões da habitantes. A crise econômica
que assola a Grécia deixa cerca de 2,5
milhões de pessoas abaixo da linha de
pobreza. A esse número já por si só deprimente vem integrar um grupo mais amplo
de 3,9 milhões, com alto risco de
pobreza ou exclusão social.
Na União
Europeia, apenas a Bulgária e a Romênia tem ranking superior de pobreza, com respectivamente 48 e 40,4%. Logo abaixo da Grécia, com índices nada brilhantes estão a
Letônia (35,1%), a Hungria (33,5%) e a Lituânia (30,8%). Não é, por acaso, que,
com a exceção da Grécia, todos os demais países ou estavam sob o domínio
politico de Moscou, atrás da chamada Cortina de Ferro, ou eram repúblicas da antiga URSS (os dois países bálticos acima
mencionados).
A crise
econômica já deixou 2,5 milhões de
pessoas abaixo da linha da pobreza. Elas integram um grupo de 3,9 milhões, em risco de pobreza ou
exclusão social, segundo dados da Eurostat.
Dessarte, tal componente equivale a 35,7%
da população grega.
E o quadro
sombrio não fica só nisso. Os dados da pobreza se somam aos do desemprego, que de 8,3% em 2007 passou para 26,5% em 2014, que no segmento jovens
–a faixa demográfica mais exposta – atinge a 55%.
Neste
cenário, é decorrência natural que os aposentados se tornem arrimos de família,
com a sua renda garantida pela Previdência. É em função dessa realidade social
que foi criado o Ekas, um programa especial da Previdência que complementa as pensões de
valor mais baixo.
É justamente esse programa que a chamada
troika (Comissão Europeia, Banco
Central Europeu e FMI) quer acabar...
O Gabinete
Tsipras recorre a tais números para argumentar não mais ser possível cortar
aposentadorias. Para o Syriza, partido
que venceu as últimas eleições, a Grécia enfrenta uma crise humanitária. Com um
tão baixo nível de vida, é difícil não concordar com essa avaliação.
As
aposentadorias não bastam para o sustento. Com os 380 euros de sua aposentadoria,
um senhor de prenome Angelos paga o aluguel e os remédios. Para a comida,
depende de Centro de Solidariedade. Nestes centros, os funcionários notam
reveladora mudança de perfil: antes eram
imigrantes, hoje os necessitados são gregos. As Igrejas – notadamente a Ortodoxa,
que é a religião preponderante – distribuem cerca de dez mil pratos duas vezes
por dia. Criado em 2010, conta com o aporte de patrocinadores e da União
Europeia.
Para o
Governo Tsipras, os programas de austeridade (cortes em diversas rubricas
orçamentárias) adotados no quinqüenio anterior só agravaram a crise econômica
do país.
Em uma
propaganda que se baseia em discutível otimismo, o Syriza busca convencer a
população a votar no NÃO. Em entrevista ao canal de TV ANTI Tsipras chegou a afirmar que se o NÃO ganhar, em 48 horas chegará a acordo com os
credores.
E
acrescentou – no que pode ser ou canto de
sereia, ou posição premonitória do
sucesso perante a detestada Troika – “o plebiscito é o último passo antes do
acordo. Quanto maior for a votação pelo ‘Não’, melhor será o acerto.
Por conta de antigas promessas,
muitas vezes sem base na realidade, a população tem dúvidas e muitos temores
quanto ao real futuro do país, seja na Zona do Euro, seja na própria União
Européia.
A declaração do Padre Ioannou
Karali, da paróquia Aghios Panteleimon
desde 1974, o que o põe na faixa dos 55/65 anos, são de um realismo por
vezes até ingênuo, acoplado com grande desejo de vencer de alguma forma o
desafio: “Os políticos nos falam muitas mentiras. Nós somos inteligentes e
batalhadores. Criamos a democracia, a filosofia, as Olimpíadas (sic) e hoje temos um futuro incerto. Pedimos
apenas respeito para agirmos com consequência.”
Muitos economistas têm declarado que a eventual saída da Grécia da Zona do Euro pode ser uma benção disfarçada (a blessing in disguise). Além das
insensíveis exigências da abominada Troika,
a depressão da frágil economia helênica se deveria em grande parte – como o
assinala Paul Krugman – a que Atenas não dispõe de moeda própria. Por
isso, não pode valer-se do estímulo dado pela desvalorização da divisa
nacional. Atrelada ao Euro, não dispõe de nenhuma possibilidade de melhorar as
suas relações de troca e de ativar setores da economia através do barateamento
dos fatores de produção (o que se daria com a desvalorização da respectiva
moeda, como no exemplo da Islândia).
Não
semelha existirem por ora previsões confiáveis acerca do resultado do Referendo de domingo. Há esperanças no campo
de Bruxelas e notadamente da Chanceler Angela Merkel da possibilidade de
vitória do SIM. Por outro lado, Alexis
Tsipras promete maravilhas se o NÃO for vencedor.
( Fontes: O
Globo, The New York Times )
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